Bispo fala da postura do Papa em relação à fome

Em mensagem à FAO, Cáritas, autoridades políticas e econômicas e fiéis em geral, dizem que Francisco tem feito constantes apelos pelo fim da fome e desnutrição no mundo

Luciane Marins
Da Redação

Dom Flávio

Dom Flávio Giovenale, Presidente da Cáritas Brasileira e Bispo da diocese de Santarém (PA) / Foto: Cáritas

“É um escândalo que, ainda hoje, existam fome e desnutrição no mundo!” A afirmação do Papa Francisco, em mensagem por ocasião do Dia Mundial da Alimentação 2013, mostra a preocupação do Pontífice com o tema.

Na mensagem dirigida à FAO, Francisco diz que a fome é um dos desafios mais sérios da humanidade. “Isso assume ainda maior gravidade em um tempo como o nosso, caracterizado por um progresso sem precedentes nos vários campos da ciência e por uma crescente possibilidade de comunicação”, afirma o Pontífice.

Dados da ONU apontam que 842 milhões de pessoas passam fome no mundo. Na América Latina e partes da Ásia, o número de pessoas subnutridas está caindo, mas, na África e na Ásia Ocidental, a quantidade de pessoas nesse estado é cada vez maior.

O Papa indica a solidariedade pessoal, institucional e dos Estados, como um meio para ajudar a resolver o problema. Dom Flávio Giovanele, presidente nacional da Cáritas, explica que a quantidade de alimentos produzida no mundo é superior às necessidades dos mais de 7 bilhões de habitantes da terra, mas que, infelizmente, a distribuição não é igual.

“Assim, temos pessoas com problemas de superalimentação, enquanto outros morrem de fome. Cerca de 20% de todos os alimentos são desperdiçados, enquanto governos e firmas alimentares destroem milhares de toneladas de alimentos para impedir a diminuição dos preços”, lamenta o bispo.

Solidariedade

Dom Flávio recorda a carta de Francisco ao presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, por ocasião do 44º encontro da Entidade. “Aos poderosos do mundo econômico, reunidos em Davos, na Suíça, o Papa afirmou: ‘Não podemos tolerar que milhares de pessoas morram de fome todos os dias, embora haja disponíveis quantidades enormes de alimentos, os quais, muitas vezes, simplesmente são desperdiçados’”.

Daí a necessidade da solidariedade orientada por Francisco, destaca Dom Flávio. O bispo aponta três passos: não desperdiçar (seja no âmbito pessoal, comunitário-institucional e de governos), partilha e doação (entre os mais próximos até os mais distantes) e transformação da partilha em construção da justiça, para desmontar estruturas injustas que provocam a fome em vista do lucro de poucos.

É justamente o apelo à solidariedade e à coragem em denunciar o sistema injusto que mais chamam a atenção de Dom Flávio no empenho do Papa Francisco na luta contra a fome.

Campanha da Cáritas

No dia 10 de dezembro de 2013, a Cáritas Internacional lançou uma Campanha Mundial contra a fome e a pobreza. O Papa Francisco fez questão de manifestar total apoio à Campanha e gravou até uma vídeo-mensagem para incentivar o evento.

“Estamos diante do escândalo mundial de cerca de um bilhão de pessoas que, ainda hoje, têm fome. Não podemos virar as costas e fazer de conta que isso não existe. O alimento que o mundo tem à disposição pode saciar a todos”, disse o Papa.

Dom Flávio afirma que o apoio de Francisco é fundamental para o sucesso da Campanha que visa resgatar o primeiro objetivo do milênio: “acabar com a fome e a miséria” até 2015, lembrando as responsabilidades de cada um, de cada pessoa e de cada Governo.

A vice-presidente da Cáritas Nacional, Anadete Gonçalves Reis, considera que, com o apoio do Papa, a Campanha deixa de ser da Cáritas e passa ser da Igreja como um todo.

“Ele afirma a existência de um bilhão de pessoas com fome no mundo e se refere a isso como um escândalo. O Papa também mostra que a indignação é fundamental para que possamos buscar alternativas”, comenta.

Anadete destaca ainda dois pontos da mensagem de Francisco. Primeiro, o pedido para respeitar “o direito dado por Deus a todos de ter acesso a uma alimentação adequada”, e o convite a uma mudança de vida. “Compartilhemos o que temos, em caridade cristã, com os que são obrigados a enfrentar muitos obstáculos para satisfazer uma necessidade tão primária.”

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