Padre Alexandre Awi Mello escreveu livro em que explica aspectos da devoção de Francisco a Nossa Senhora; publicação está na terceira edição
Da Redação, com Rádio Vaticano
“Ela é minha mãe. É a única pessoa com quem me atrevo a chorar”. Destas palavras de Papa Francisco surgiu o título do livro de padre Alexandre Awi Mello: “Ela é minha mãe – Encontros de Papa Francisco com Maria”, lançado no fim de maio e já na terceira edição.
Mariólogo do Movimento de Schoenstatt, padre Alexandre trabalhou lado a lado com o cardeal Jorge Mario Bergoglio, em 2007, na redação do documento final da Conferência de Aparecida e, em 2013, auxiliou o Bispo de Roma durante sua passagem pelo Brasil para a Jornada Mundial da Juventude. No ano passado, foi recebido pelo Papa na Casa Santa Marta para uma entrevista que traz à tona aspectos particulares da devoção de Francisco por Nossa Senhora.
Em um encontro entre amigos para uma conversa – não propriamente uma entrevista nos termos jornalísticos –, Papa Francisco revela detalhes íntimos da sua relação com Nossa Senhora desde a infância até o pontificado. O autor intercala os trechos da entrevista com aprofundamentos históricos contextualizados às citações de Francisco.
Padre Alexandre mergulha na devoção da família Bergoglio a Nossa Senhora e como esta identidade mariana foi herdada por Jorge Mario. Descreve também os momentos de dúvidas do jovem em relação à sua vocação sacerdotal, o encontro do bispo de Buenos Aires nos santuários marianos da Argentina com a piedade popular e a passagem do cardeal pela Alemanha. O “marianismo quase espontâneo” de Bergoglio – explica o autor – nasce “a partir das experiências e dos processos de vida que ele mesmo realizou ou testemunhou na vida de outros”.
A Rádio Vaticano entrevistou Padre Alexandre, por telefone, direto de São Paulo.
Por que a piedade popular está no centro do pontificado de Francisco?
Padre Alexandre – O Papa valoriza muito a religiosidade popular, que o Documento de Aparecida chama de Espiritualidade Popular, e com isso universaliza a mensagem do valor positivo que existe na religiosidade do povo, a qual, muitas vezes, é vista com desconfiança e certo receio. Como se essa Espiritualidade Popular tivesse de ser tolerada para, depois, se tornar mais ilustrada, mais consciente. A perspectiva do Papa é diferente: ele vê, na Espiritualidade Popular, uma revelação de Deus, uma manifestação cultural sadia, porque o Senhor se manifesta justamente no povo, no pobre.
É uma expressão do sentido de fé do povo que se manifesta na Espiritualidade Popular, tanto é que destaco no livro uma frase do Papa que diz: “Se quiser conhecer Maria, pergunte aos teólogos. Se quiser saber como amá-la, pergunte ao povo”. Então, Papa Francisco é um desses observadores do povo, e foi aprendendo com este, foi fazendo sua própria experiência popular de espiritualidade.
Ele não tem vergonha de dizer, por exemplo, que leva junto ao peito um paninho com o qual se limpou a imagem de Nossa Senhora de Luján. Um detalhe tão simples, mas que para ele é uma certa forma de aproximá-lo também dessa presença maternal de Maria.
Portanto, Papa Francisco tem uma forma de se relacionar com a religiosidade popular que talvez seja bastante interessante, original, própria e que também precisamos aprofundar para poder entender o seu pontificado, a forma como ele lida com essa devoção mariana – que é o foco do livro. Papa Francisco aqui também nos faz uma proposta pastoral e teológica ao mesmo tempo.
Como foi sua experiência pessoal com o Cardeal Bergoglio em Aparecida e na JMJ do Rio de Janeiro?
Padre Alexandre – O contato com Bergoglio e, depois, com Papa Francisco é absolutamente simples, fácil, sem nenhuma complicação. Inclusive, costumo dizer que se ele não estivesse vestido de branco, não daria para perceber que é o Papa agora, porque o trato é o mesmo de sete anos atrás, com muita cordialidade, sem em momento algum fazer notar a distância no sentido da hierarquia ou da dignidade. Justamente ao contrário, sempre perguntando o que eu pensava disso ou o que achava daquilo, se eu estava bem, se minha família estava bem, coisas tão simples que são muito paternais, inclusive. Ao mesmo tempo muito humilde, sempre muito aberto às nossas opiniões. E sinto isso como um grande presente, por isso sinto a necessidade de compartilhar essa experiência, que também foi um dos objetivos do livro.