Mensagem

Em mensagem às POM, Papa reitera fundamentos da missão cristã

Vaticano divulgou nesta quinta-feira, 21, a mensagem do Papa às Pontifícias Obras Missionárias; No texto, Francisco afirmou: a missão é reflexo da gratidão

Da redação, com Vatican News

Papa durante missa celebrada em outubro de 2019, no Dia Mundial das Missões/ Foto: Daniel Ibáñez – CNA

O anúncio do Evangelho é “uma coisa diferente de qualquer proselitismo político ou cultural, psicológico ou religioso”. A missão é um dom gratuito do Espírito e não pode ser confiada a “percursos sofisticados e trabalhosos de formação”, nem ser confiada a “sistemas eclesiásticos” que “parecem absorvidos pela obsessão de se promover a si mesmos e às suas iniciativas”, talvez “em chave publicitária”. Esta foi a reflexão do Papa Francisco sobre os fundamentos da missão cristã com uma mensagem às Pontifícias Obras Missionárias (POM), divulgada nesta quinta-feira, 21, que deveriam ter se reunido em Roma para a assembleia geral anual, adiada devido à pandemia de coronavírus.

Leia na íntegra
.: Mensagem do Papa Francisco às Pontifícias Obras Missionárias

Fundamentos da missão

O Santo Padre recorda que o “delineamento mais íntimo” da missão da Igreja é “o de ser obra do Espírito Santo”, e não consequência de reflexões e intenções. Receber a alegria do Espírito “é uma graça” e também a única força para pregar o Evangelho. A salvação não é consequência das iniciativas missionárias, nem dos discursos sobre a encarnação do Verbo, mas pode vir para cada um mediante o olhar do encontro com Ele, que chama e, portanto, ser a consequência e o reflexo de alegria e gratidão. 

Traços distintivos

Retomando a Exortação Evangelii Gaudium, Francisco descreve os “traços distintivos da missão”. Primeiramente, a atração: “a Igreja cresce no mundo, não por proselitismo, mas por atração”, e “quando uma pessoa segue feliz Jesus, porque se sente atraída por Ele, os outros dão-se conta disso; e podem maravilhar-se”.

Outros traços distintivos são a gratidão e a gratuidade, porque o “ardor missionário nunca se pode obter em consequência de um raciocínio ou de um cálculo” ou porque há uma obrigação nesse sentido, mas é “um reflexo da gratidão”. A seguir, a humildade, porque a felicidade e a salvação não são uma possessão nem uma meta alcançada pelos méritos; “O Evangelho de Cristo só pode ser anunciado com humildade, sem arrogância”, afimrou.

Há também a característica do facilitar, não complicar: o trabalho missionário autêntico não acrescenta “pesos inúteis às vidas já afadigadas das pessoas”, e não impõe “percursos sofisticados e trabalhosos de formação para usufruir daquilo que o Senhor concede com facilidade”. Outros traços distintivos são a aproximação à vida real, porque a missão “alcança as pessoas sempre onde estão e como estão, nas suas vidas reais”. O “sensus fidei” do povo de Deus e a predileção pelos humildes e os pobres que “para a Igreja não é uma opção facultativa”.

Talentos a serem desenvolvidos

Olhando para o futuro, o Pontífice recorda que as Pontifícias Obras Missionárias nasceram espontaneamente do ardor missionário manifestado pela fé dos batizados e estão ligadas ao sensus fidei do Povo de Deus. As Obras Missionárias avançaram sobre os “trilhos” da oração e da caridade. Elas sempre foram estimadas pela Igreja de Roma e sua vocação nunca foi vivida e sentida como um caminho alternativo, uma pertença “externa” relativamente às formas comuns da vida das Igrejas particulares. Tornaram-se uma rede espalhada por todos os Continentes: “Uma pluralidade que pode proteger contra assimilações ideológicas e unilateralismos culturais”.

Armadilhas a evitar

O Papa enumera algumas patologias que pairam no caminho das Pontifícias Obras Missionárias. A primeira é a autorreferencialidade, com o risco de prestar atenção à sua autopromoção e celebrar as próprias iniciativas em chave publicitária. Depois, há a ânsia de comando, ou seja, a pretensão de “exercer funções de controle sobre as comunidades que deveriam servir”. Depois, a patologia do elitismo, “a ideia tácita de pertencer a uma aristocracia”.

A seguir, o isolamento do povo, “visto como uma massa inerte, que precisa incessantemente ser reanimada e mobilizada” (…) “como se a certeza da fé fosse consequência de um discurso persuasivo ou de métodos de preparação”. Outras armadilhas são representadas pela abstração e pelo funcionalismo, porque se aposta tudo na “imitação dos modelos mundanos de eficiência”.

Conselhos para o caminho

Francisco sugere às Pontifícias Obras Missionárias para salvaguardar ou redescobrir a sua inserção “no seio do povo de Deus”, imergindo-se na vida real das pessoas e entrelaçando-se com a rede eclesial de dioceses, paróquias, comunidades e grupos. Ele pede às POM para permanecerem ligadas “às práticas da oração e da coleta de recursos para a missão”, buscando também novos caminhos, mas sem “complicar o que é simples”.

As Pontifícias Obras Missionárias “são e devem comportar-se como um instrumento de serviço à missão nas Igrejas particulares”: não servem “super-estrategas ou centrais dirigentes da missão (…) a quem delegar a tarefa de despertar o espírito missionário”. Elas devem trabalhar em “contato com inúmeras realidades”, sem nunca se esterilizar numa dimensão exclusivamente burocrática-profissional. Francisco pede para olhar para fora, para não se olhar no espelho, aliviando as estruturas em vez de sobrecarregá-las.

Doações

O Santo Padre pede para não transformar as Pontifícias Obras Missionárias numa ONG voltada para a coleta de fundos. Se em algumas áreas, a coleta de doações falha, não precisa ser tentados a resolver “o problema «encobrindo» a realidade e apostando em algum sistema de angariação mais eficaz, que vai à procura dos grandes doadores”. Em todo o caso, “é bom que o pedido de ofertas para as missões continue sendo feito prioritariamente a todos os batizados, inclusive apostando de maneira nova na coleta para as missões que se realiza nas igrejas de todos os países, em outubro, por ocasião do Dia Mundial das Missões.

No uso dos fundos arrecadados, é preciso levar “em conta as reais necessidades primárias das comunidades”, evitando “formas de assistencialismo” que alimentam na Igreja fenômenos de “clientelismo parasitário”. Não se deve esquecer dos pobres. As POM, “com a sua rede espalhada por todo o mundo, refletem a rica variedade do «povo de mil rostos»” e não devem impor uma determinada forma cultural junto com a proposta evangélica: “Pode ofuscar a universalidade da fé cristã a pretensão de estandardizar a forma do anúncio”.

Francisco recorda que as Pontifícias Obras Missionárias são uma entidade autônoma e entre suas especificidades está o vínculo com o Papa. Francisco encerra sua mensagem lembrando as palavras de Santo Inácio, pedindo às POM para fazerem bem o seu trabalho “como se tudo dependesse de delas, sabendo que, na realidade, tudo depende de Deus”.

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