Mensagem de Francisco para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação foi divulgada nesta quinta-feira, 27; Santo Padre propõe repensar os limites do poder humano
Da redação, com Vatican News
“Espera e age com a criação” é o tema do Dia de Oração pelo Cuidado da Criação, celebrado no dia 1º de setembro. A mensagem do Papa Francisco para a ocasião foi divulgada nesta quinta-feira, 27, e refere-se à Carta de São Paulo aos Romanos 8, 19-25. O Apóstolo, ao esclarecer o significado de viver segundo o Espírito, concentra-se na esperança firme da salvação pela fé, que é vida nova em Cristo.
Segundo o Santo Padre, a esperança é a possibilidade de permanecer firme no meio das adversidades, de não desanimar nos momentos de tribulação ou diante da barbárie humana. A esperança cristã não desilude, mas também não ilude, ressalva o Papa. “A criação geme e o vemos através de tanta injustiça, tantas guerras fratricidas que provocam a morte de crianças, destroem cidades, poluem o ambiente em que vive o homem”.
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O Pontífice ressalta que a luta moral dos cristãos está ligada ao “gemido” da criação, que está sujeita à dissolução e à morte, agravadas pelos abusos humanos sobre a natureza. Por isso frisa que permanece válido o convite à conversão dos estilos de vida, a resistir à degradação humana do meio ambiente e a manifestar aquela crítica social que é, em primeiro lugar, testemunho da possibilidade de mudança.
Da arrogância à humildade do cuidado
Esta conversão, explica Francisco, consiste em passar da arrogância de quem quer dominar os outros e a natureza à humildade de quem cuida dos outros e da criação. Ele cita então a famosa frase da Exortação Apostólica Laudate Deum: “Um ser humano que pretenda tomar o lugar de Deus torna-se o pior perigo para si mesmo”.
O Papa propõe que se repense a questão do poder humano, do seu significado e dos seus limites, pois um poder descontrolado gera monstros e volta-se contra a própria humanidade.
Limites éticos ao desenvolvimento da inteligência artificial
O Santo Padre volta a afirmar que é urgente colocar limites éticos ao desenvolvimento da inteligência artificial, que, com a sua capacidade de cálculo e de simulação, poderia ser utilizada para dominar o homem e a natureza, em vez de estar a serviço da paz e do desenvolvimento integral.
De “predador”, portanto, o homem deve ser “cultivador” do jardim, exorta Francisco. O Pontífice cita que a tradição judaico-cristã recorda que a terra está confiada ao homem, mas continua a ser de Deus. Por isso, pretender possuir e dominar a natureza, manipulando-a a seu bel-prazer, é uma forma de idolatria.
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“É o homem embriagado com o seu próprio poder tecnocrático que, com arrogância, coloca a terra numa condição de ‘des-graça’, isto é, privada da graça de Deus”, escreve.
Por conseguinte, a salvaguarda da criação não é apenas uma questão ética, mas é eminentemente teológica: diz respeito ao entrelaçamento entre o mistério do homem e o mistério de Deus. Nessa história, não está em jogo apenas a vida terrena do homem, lembra o Papa, mas está sobretudo em jogo o seu destino na eternidade.
Promover a justiça e a paz
O Santo Padre revela que há uma motivação transcendente (teológico-ética) que compromete o cristão a promover a justiça e a paz no mundo também através do destino universal dos bens.
Esperar e agir com a criação significa, então, viver uma fé encarnada, que sabe entrar na carne sofredora e esperançosa das pessoas, partilhando a expectativa da ressurreição corporal a que os fiéis estão predestinados em Cristo, complementa.
É no interior dos dramas da carne humana que sofre, que a esperança deve ser testemunhada, ressalta Francisco. E se alguém sonha, prossegue, “então que sonhe com os olhos abertos, animados por visões de amor, fraternidade, amizade e justiça para todos”.