Francisco discursou, nesta quinta-feira, 24, às autoridades panamenses; o Pontífice refletiu sobre um Panamá de “convocação” e “sonho”
Da redação,
O Papa Francisco encontrou-se na tarde desta quinta-feira, 24, com as autoridades, o corpo diplomático e representantes da sociedade civil da cidade do Panamá, sede da Jornada Mundial da Juventude 2019. Recebido pelo presidente, Juan Carlos Varela, e a primeira-dama, Lorena Castillo, o Santo Padre adjetivou o país como “terra de sonhos”: “Podemos contemplar o Panamá como uma terra de convocação e de sonho”.
O Pontífice iniciou seu discurso citando Simón Bolívar, político e militar venezuelano que atuou de forma decisiva no processo de independência da América Espanhola: “Convocou os líderes do seu tempo a fim de forjar o sonho da unificação da Pátria Grande Uma convocação que nos ajuda a compreender que os nossos povos são capazes de criar, forjar e sobretudo sonhar uma pátria grande que saiba e possa acolher, respeitar e abraçar a riqueza multicultural de cada povo e cultura”.
.: Íntegra do discurso do Papa Francisco às autoridades do Panamá
O agradecimento e saudação ao povo panamense pelos esforços destinados à acolhida dos jovens que participam da JMJ 2019, antecedeu a reflexão do Santo Padre sobre o Panamá. Utilizando a expressão “terra de convocação”, o Papa citou as várias qualidades do país, sua localização privilegiada, seu ponto estratégico entre os oceanos, e sublinhou o fato do Panamá ser considerado um local de encontro, de sustentabilidade, de vínculos e alianças. “Esta capacidade configura o coração do povo panamense”, observou.
Cumprir a vocação de terra de convocação e de encontros, foi o que pediu o Pontífice às autoridades presentes: “Cada um de vós ocupa um lugar especial na construção da nação e é chamado a assegurar que a mesma possa cumprir a sua vocação”. Francisco apontou a necessidade de uma decisão, empenho e trabalho diário para que todos os habitantes do Panamá tenham a oportunidade de serem atores do destino próprio, das suas famílias e de toda a nação.
“É impossível conceber o futuro duma sociedade sem a participação ativa – e não apenas nominal – de cada um dos seus membros, para que a dignidade seja reconhecida e garantida através do acesso a uma instrução de qualidade e à promoção dum trabalho digno. Estas duas realidades juntas são capazes de ajudar a reconhecer e valorizar a genialidade e o dinamismo criativo deste povo, e ao mesmo tempo são o melhor antídoto contra qualquer tipo de tutela que pretenda limitar a liberdade e subjugue ou transcure a dignidade dos cidadãos, especialmente dos mais pobres”, sublinhou o Papa.
Francisco citou a riqueza dos povos nativos do Panamá (Bribri, Buglé, Emberá, Kuna, Nasoteribe, Ngäbe e Waunana) e deixou sua saudação e reconhecimento a eles. “Ser terra de convocação requer celebrar, reconhecer e escutar o que é específico de cada um destes povos e de todos os homens e mulheres que compõem a fisionomia panamense e saber tecer um futuro aberto à esperança, porque só se é capaz de defender o bem comum acima dos interesses de poucos ou ao serviço de poucos, quando existe a firme decisão de partilhar com justiça os próprios bens”, observou.
Sobre os jovens, o Santo Padre lembrou que reivindicam aos adultos, especialmente os que detêm um papel de liderança na vida pública, que tenham uma conduta conforme a dignidade e autoridade de que estão revestidos e que lhes foi confiada. “É um convite a viver com austeridade e transparência, na responsabilidade concreta pelos outros e pelo mundo; uma conduta que demonstre que o serviço público é sinônimo de honestidade e justiça contrapondo-se a qualquer forma de corrupção. Os jovens exigem um empenhamento, em que todos – a começar por quantos se dizem cristãos – tenham a ousadia de construir”.
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Nestes dias, em que o Panamá recebe a JMJ 2019, Francisco lembrou que o país transformar-se-á numa confluência de esperança, um ponto de encontro onde jovens provenientes dos cinco continentes, cheios de sonhos e esperanças, celebrarão e se reunirão para rezar e reavivar o desejo e o compromisso de criar um mundo mais humano.
“Ao hospedar os sonhos destes jovens, o Panamá torna-se terra de sonhos que desafia muitas certezas do nosso tempo e cria horizontes vitais que conferem uma nova espessura ao caminhar com uma visão respeitosa e cheia de compaixão para com os outros. Durante este tempo, seremos testemunhas da abertura de novos canais de comunicação e compreensão, de solidariedade, criatividade e ajuda mútua; canais à medida do homem que deem impulso ao compromisso e quebrem o anonimato e o isolamento tendo em vista um novo modo de construir a história”, exortou Francisco.
O Papa prosseguiu reafirmando a possibilidade de construção de um outro mundo a convite dos jovens: “[Um outro mundo] para que os sonhos não permaneçam algo de efêmero ou etéreo, para que deem impulso a um pacto social no qual todos possam ter a oportunidade de sonhar um amanhã: o direito ao futuro também é um direito humano. Neste horizonte, parecem tomar forma as palavras de Ricardo Miró [escritor modernista panamenho], quando cantava à sua pátria tão amada, dizendo: ‘Porque vendo-te, ó pátria, se diria / que te formou a vontade divina / para que sob o sol que te ilumina / se unisse em ti a humanidade inteira’”.
Por fim, Francisco agradeceu as autoridades por tudo que fizeram para que a JMJ 2019 fosse realizada no Panamá e desejou votos de renovada esperança e alegria no serviço do bem comum. “Santa Maria La Antigua abençoe e proteja o Panamá”, finalizou.