Em homilia, pregador da Casa Pontifícia, padre Raniero Cantalamessa, reflete sobre a traição de Judas, o apego ao dinheiro e a misericórdia de Deus
Da Redação, Luciane Marins
O Papa Francisco presidiu a Celebração da Paixão do Senhor na Basílica Vaticana em Roma, nesta sexta-feira santa, 18. Neste dia não se celebra missa, tem-se a adoração à Santa Cruz.
Ao entrar na Basílica, Francisco prostrou-se no chão em silêncio. Após uma breve oração, feita pelo Papa, deu-se inicio a Liturgia da Palavra. A primeira leitura foi retirada do livro do profeta Isaías, logo em seguida o Salmo 101 foi meditado. A segunda leitura foi extraída do livro dos Hebreus e a História da Paixão de Jesus foi narrada segundo o evangelho de São João.
O pregador da Casa Pontifícia, Padre Raniero Cantalamessa, fez a homilia da celebração e baseou sua reflexão na figura de Judas. Cantalamessa explicou que Judas traiu Jesus por dinheiro, e destacou como os homens de hoje fazem o mesmo.
“Quem é, objetivamente, se não subjetivamente (ou seja, nos fatos, não nas intenções), o verdadeiro inimigo, o rival de Deus, neste mundo? Satanás? Mas nenhum homem decide servir, sem motivo, a Satanás. Se o faz, é porque acredita que vai ter algum poder ou algum benefício temporal. Quem é, nos fatos, o outro patrão, o anti-Deus, Jesus no-lo diz claramente: “Ninguém pode servir a dois senhores: não podeis servir a Deus e a Mamona” (Mt 6, 24). O dinheiro é o “deus visível”, em oposição ao verdadeiro Deus que é invisível.”
O frei capuchinho explicou que a fé, a esperança e a caridade deixam de ser colocadas em Deus e passam a ser colocadas no dinheiro. “Ocorre uma sinistra inversão de todos os valores. “Tudo é possível ao que crê”, diz a Escritura (Mc 9, 23); mas o mundo diz: “Tudo é possível para quem tem dinheiro”. E, em certo sentido, todos os fatos parecem dar-lhe razão.”
O pregador questiona o que está por trás do tráfico de drogas, da prostituição, das máfias, da corrupção, da fabricação e comercialização de armas, da venda de órgãos humanos removidos das crianças, e até mesmo da crise financeira. … “não é, em grande parte, devida à “deplorável ganância por dinheiro”, o auri sacra fames, de alguns poucos? Judas começou roubando um pouco de dinheiro da bolsa comum. Isso não diz nada para certos administradores do dinheiro público?”
O frei destaca que a traição de Judas continua na história e que o traído é sempre Jesus. Segundo ele também trai a Cristo quem trai a própria esposa ou o próprio marido, o ministro de Deus infiel ao seu estado e quem trai a própria consciência. “Judas tinha um atenuante que nós não temos. Ele não sabia quem era Jesus, considerava-o somente ‘um homem justo’; não sabia que era o Filho de Deus, nós sim”, destacou.
O fim de Judas narrado no Evangelho é recordado pelo pregador. “Judas, que o havia traído, vendo que Jesus tinha sido condenado, se arrependeu, e devolveu as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: pequei, entregando-vos sangue inocente. Mas eles disseram: O que nos importa? O problema é seu. E ele, jogando as moedas no templo, partiu e foi enforcar-se” ( Mt 27 , 3-5).
Diante disso Cantalemessa exorta que não se pode julgar apressadamente porque Jesus nunca abandonou a Judas. “Quem pode dizer o que aconteceu na sua alma naqueles últimos instantes? ‘Amigo’, foi a última palavra que Jesus lhe disse no horto e ele não podia tê-la esquecido, como não podia ter esquecido o seu olhar.”
O frei afirma que o destino eterno da criatura é um segredo inviolável de Deus e que a Igreja garante que um homem ou uma mulher proclamado santo está na bem-aventurança eterna, mas que de ninguém a Igreja sabe com certeza que esteja no inferno.
Para concluir sua reflexão explicou que o fato mais importante na história de Judas não é a sua traição, mas a resposta que Jesus dá a ela.
“Então, o que faremos, portanto, nós? Quem seguiremos, Judas ou Pedro? Pedro teve remorso pelo que ele tinha feito, mas também Judas teve remorso, tanto que gritou: ‘Eu traí sangue inocente!’, e devolveu as trinta moedas de prata. Onde está, então, a diferença? Em apenas uma coisa: Pedro teve confiança na misericórdia de Cristo, Judas não! O maior pecado de Judas não foi ter traído Jesus, mas ter duvidado da sua misericórdia.”
O pregador termina dizendo que se Judas é imitado na traição que não seja imitado em sua falta de confiança no perdão.“Existe um sacramento no qual é possível fazer uma experiência segura da misericórdia de Cristo: o sacramento da reconciliação. Como é belo este sacramento!”
A celebração da Paixão continuou com a Oração Universal, Adoração da Santa Cruz e com a Sagrada Comunhão.