Em seu primeiro discurso em Timor-Leste, Papa destacou raízes cristãs do país e pediu que a fé continue a inspirar os critérios, projetos e escolhas segundo o Evangelho
Da redação, com Vatican News
O primeiro discurso do Papa Francisco em sua visita apostólica ao Timor-Leste, nesta segunda-feira, 9, foi no encontro com as autoridades, sociedade civil e o Corpo Diplomático realizado no Palácio Presidencial na capital do país, Dili.
Desde o dia 2 de setembro, o Pontífice realiza a mais longa viagem do seu Pontificado. Ele já visitou a Indonésia, Papa-Nova Guiné e neste domingo, 8, chegou ao Timor-Leste, onde permanece até quarta-feira, 11. A última etapa desta 45ª Viagem Apostólica será Singapura, onde ele irá permanecer até sexta-feira, 13.
Em seu discurso, Francisco destacou as belezas naturais do país – independente desde 2002 -, uma terra que “desperta sentimentos de paz e alegria no coração”.
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O Papa destacou que, após viver anos de calvário e provação, o país soube reerguer-se, encontrando uma senda de paz e o início de uma nova fase, que pretende ser de desenvolvimento, de melhoria das condições de vida e de valorização em todos os níveis.
“Demos graças ao Senhor porque, atravessando um período tão dramático da vossa história, não perdestes a esperança e, depois de dias sombrios e difíceis, despontou finalmente uma aurora de paz e liberdade”, frisou o Pontífice.
Enraizamento na fé católica
Francisco enfatizou que, para alcançar essas importantes metas, serviu de grande ajuda o enraizamento na fé católica que há no país, como salientou São João Paulo II durante sua visita ao Timor-Leste em 1989. Na ocasião, em Taci Tolu, ele recordou que os católicos de Timor-Leste têm “uma tradição em que a vida familiar, a educação e os costumes sociais estão profundamente radicados no Evangelho”; e uma tradição “impregnada dos ensinamentos e do espírito das Bem-aventuranças”, de “humilde confiança em Deus, de misericórdia e perdão e, quando necessário, de paciente sofrimento em tempos de provação” (Homilia de João Paulo II em 12 de outubro de 1989).
A este propósito, o Papa destacou o esforço assíduo dos timorenses para alcançar uma plena reconciliação com os “irmãos da Indonésia”, atitude que encontrou a sua primeira e mais pura fonte nos ensinamentos do Evangelho.
“Mantivestes firme a esperança mesmo na aflição e, graças ao caráter do vosso povo e à vossa fé, transformastes a dor em alegria! Queira o Céu que noutras situações de conflito, em diversas partes do mundo, prevaleça igualmente o desejo de paz e de purificação da memória, para sarar as feridas e substituir o ódio pela reconciliação e a contraposição pela colaboração!”, afirmou.
Francisco ressaltou também, como motivo de louvor, o fato de, no 20.º aniversário da independência do País, eles terem incorporado como documento nacional a Declaração sobre a Fraternidade Humana, assinada pelo Pontífice, juntamente com o Grão-Imã de Al-Azhar, em 4 de fevereiro de 2019, em Abu Dhabi. “Como a própria Declaração deseja, fizeste-o para que possa ser adotada e incluída nos currículos escolares. E isto é fundamental: o processo educativo”, disse.
“Que a vossa fé seja a vossa cultura”
“Agora, efetivamente, abriu-se diante de vós um novo horizonte, com o céu limpo, mas com novos desafios a enfrentar e novos problemas a resolver. Por isso, quero dizer-vos: a fé, que vos iluminou e susteve no passado, continue a inspirar o vosso presente e o vosso futuro. ‘Que a vossa fé seja a vossa cultura!”, isto é, que inspire critérios, projetos e escolhas segundo o Evangelho.”
Em meio às questões atuais, o Pontífice falou sobre o drama das migrações, da pobreza e outras chagas sociais.
“Estou a pensar no fenômeno da emigração, que é sempre indicador de uma valorização insuficiente ou inadequada dos recursos; bem como da dificuldade de oferecer a todos um emprego que produza lucro equitativo e garanta às famílias um rendimento que corresponda às suas necessidades básicas. Penso na pobreza, presente em tantas zonas rurais, e na consequente necessidade de uma concorde ação de longo alcance, envolvendo distintas responsabilidades e múltiplas forças civis, religiosas e sociais, para remediar e oferecer alternativas viáveis à emigração”, refletiu.
Francisco lembrou ainda daquelas que podem ser consideradas chagas sociais, como o excessivo consumo de álcool entre os jovens e a formação de gangues que, munidas de seus conhecimentos de artes marciais, em vez de as utilizarem ao serviço dos indefesos, utilizam-nas para a violência e para mostrar poder. Ele lembrou ainda das muitas crianças e adolescentes feridos em sua dignidade: “todos somos chamados a agir de forma responsável para evitar qualquer tipo de abuso e garantir que as nossas crianças cresçam tranquilamente”.
O Pontífice afirmou que, para a solução destes problemas, bem como para uma melhorada gestão dos recursos naturais do país, é indispensável preparar adequadamente, com uma formação apropriada, aqueles que serão chamados a ser a classe dirigente do país num futuro não muito distante. Desta forma, poderão dispor de todos os instrumentos indispensáveis para traçar um planeamento de longo alcance, tendo em vista exclusivamente o interesse pelo bem comum.
“Como base para este processo formativo, a Igreja oferece a sua doutrina social. Ela constitui um pilar indispensável, sobre o qual se podem construir conhecimentos específicos e no qual é sempre necessário apoiar-se, para verificar se estas ulteriores aquisições beneficiaram verdadeiramente o desenvolvimento integral ou se, pelo contrário, significaram um obstáculo, produzindo desequilíbrios inaceitáveis e uma elevada quota de descartados, deixados à margem.”