Em discurso à assembleia plenária da Pontifícia Academia das Ciências, Francisco alerta para risco de tecnologia moldar opinião pública e influenciar escolhas de consumo
Da Redação, com Vatican News
O Papa Francisco enviou seu discurso aos participantes da assembleia plenária da Pontifícia Academia das Ciências. Devido a uma leve gripe, o Pontífice teve seus compromissos desta segunda-feira, 23, cancelados e não pôde comparecer à audiência.
No texto que havia preparado, o Pontífice aborda os temas do Antropoceno (termo que se refere a uma nova era geológica marcada pelo impacto da ação humana sobre a Terra) e da inteligência artificial, escolhidos para estudo e debate na assembleia plenária deste ano.
O Santo Padre destaca que alguns membros da Pontifícia Academia das Ciências foram os primeiros a identificar o impacto crescente das atividades humanas sobre a Criação, estudando os riscos e problemas relacionados a ele. “O Antropoceno está de fato revelando suas consequências cada vez mais dramáticas para a natureza e para os seres humanos, especialmente na crise climática e na perda de biodiversidade”, afirma.
Neste contexto, Francisco agradece à instituição por continuar a se concentrar em questões como essas, com particular atenção às suas implicações para os pobres e marginalizados. “As ciências, na sua busca de conhecimento e compreensão do mundo físico, nunca devem perder de vista a importância de utilizar esse conhecimento para servir e promover a dignidade das pessoas e da humanidade como um todo”, sinaliza.
Atenção aos usos manipuladores da inteligência artificial
Em relação à inteligência artificial, o Papa recorda que há benefícios em sua aplicação caso seja usada para promover inovações nos campos da medicina e da saúde, ajudar a proteger o meio ambiente e possibilitar o uso sustentável de recursos à luz das mudanças climáticas.
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Contudo, prossegue o Pontífice, a inteligência artificial também pode ter sérias implicações negativas para a população. Além disso, “é necessário reconhecer e prevenir os riscos de usos manipuladores da inteligência artificial para moldar a opinião pública, influenciar as escolhas de consumo e interferir nos processos eleitorais”, alerta.
Tais desafios lembram as dimensões imutavelmente humanas e éticas de todo o progresso científico e tecnológico, observa o Santo Padre. Desta forma, ele reitera “a convicção da Igreja de que ‘a dignidade intrínseca de cada pessoa e a fraternidade que nos une como membros da única família humana devem estar na base do desenvolvimento das novas tecnologias […]. Os desenvolvimentos tecnológicos que não levam a uma melhoria da qualidade de vida de toda a humanidade, mas, pelo contrário, aumentam as desigualdades e os conflitos, nunca podem ser considerados um verdadeiro progresso’ (Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2024)”.
Assim, o impacto das formas de inteligência artificial requer maior atenção e estudo, pontua Francisco. “Em um momento em que as crises, as guerras e as ameaças à segurança mundial parecem prevalecer, as contribuições [da Pontifícia Academia das Ciências] para o progresso do conhecimento a serviço da família humana são ainda mais importantes para a causa da paz mundial e da cooperação internacional”, conclui.