Ser missionário, ser apostólico e evangelizar é uma dimensão vital para a Igreja, afirmou Francisco na Audiência Geral
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco iniciou um novo ciclo de catequeses na Audiência Geral, desta quarta-feira, 11, dedicado a um tema urgente e decisivo para a vida cristã: a paixão pela evangelização, ou seja, o zelo apostólico.
Segundo o Pontífice, “trata-se de uma dimensão vital para a Igreja: com efeito, a comunidade dos discípulos de Jesus nasce apostólica, missionária, não proselitista, e isso desde o início tivemos que distinguir”. “Ser missionário, ser apostólico, evangelizar não é o mesmo que fazer proselitismo, não tem nada a ver uma coisa com a outra. É uma dimensão vital para a Igreja”, sublinhou.
Igreja em saída
O Santo Padre frisou que o Espírito Santo plasma a Igreja em saída a fim de que não permaneça fechada em si mesma, mas seja extrovertida, testemunha contagiosa de Jesus, destinada a irradiar a sua luz até aos extremos confins da terra.
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Contudo, o Papa explicou que pode acontecer que o ardor apostólico e o desejo de alcançar os outros com o bom anúncio do Evangelho diminua. “Quando a vida cristã perde de vista o horizonte do anúncio, adoece: fecha-se em si mesma, torna-se autorreferencial, atrofia-se. Sem zelo apostólico, a fé esmorece. Ao contrário, a missão é o oxigênio da vida cristã: a tonifica e a purifica”, alertou.
Redescoberta da paixão evangelizadora
Em seguida, Francisco iniciou o caminho de redescoberta da paixão evangelizadora, começando das Escrituras e do ensinamento da Igreja para haurir das fontes o zelo apostólico. Depois, o Pontífice destacou que serão abordadas algumas nascentes vivas, algumas testemunhas que reacenderam na Igreja a paixão pelo Evangelho, a fim de que ajudem a reavivar o fogo que o Espírito Santo quer fazer arder sempre.
“No episódio evangélico do chamado do apóstolo Mateus, tudo começa com Jesus, que ‘vê’ – diz o texto – «um homem». Poucos viam Mateus como era: conheciam-no como aquele que estava «sentado no banco dos impostos». Era cobrador de impostos: ou seja, alguém que cobrava os tributos em nome do império romano, que ocupava a Palestina. Em síntese, era um colaboracionista, um traidor do povo. Podemos imaginar o desprezo que o povo sentia por ele: era um ‘publicano'”, comentou.
Mas, aos olhos de Jesus, frisou o Papa, Mateus era um homem com as suas misérias e a sua grandeza. “Jesus não se limita aos adjetivos, Jesus sempre procura o substantivo. ‘Este é um pecador, este é um tal…’ são adjetivos”, disse. O Santo Padre reforçou então que Jesus vai à pessoa, ao coração, esta é uma pessoa, este é um homem, esta é uma mulher, Jesus vai à substância, ao substantivo, nunca ao adjetivo, deixa passar os adjetivos.
“Enquanto entre Mateus e o seu povo há distância, Jesus aproxima-se dele, porque cada homem é amado por Deus. Este olhar de Jesus que é belíssimo, que vê o outro, quem quer que seja, como destinatário de amor, é o início da paixão evangelizadora. Tudo começa a partir deste olhar, que aprendemos com Jesus”, pediu.
Olhar de Jesus
O Pontífice convidou todos os católicos a fazer as seguintes perguntas: “Como vemos os outros? Quantas vezes vemos os seus defeitos e não as suas necessidades; quantas vezes etiquetamos as pessoas pelo que fazem ou pensam! Até como cristãos, dizemos: é ou não é dos nossos? Este não é o olhar de Jesus: Ele olha sempre para cada um com misericórdia e predileção”.
Segundo o Papa, os cristãos são chamados a fazer como Cristo, olhando como Ele, especialmente para os chamados “distantes”. Efetivamente, explicou, a narração da chamada de Mateus conclui-se com Jesus que diz: «Não vim chamar os justos, mas os pecadores!». Para Francisco, se cada um se sente justo, Jesus está distante, pois Ele se aproxima das limitações e misérias humanas para curar.
Movimento
Portanto, tudo começa pelo olhar de Jesus, enfatizou o Pontífice. “A isto segue-se – segunda passagem – um movimento. Mateus estava sentado no banco dos impostos; Jesus disse-lhe: «Segue-me!». E ele «levantou-se e o seguiu». Observemos que o texto realça: ‘levantou-se’. Por que este detalhe é tão importante? Porque, naquela época, quem estava sentado tinha autoridade sobre os outros. Em síntese, quem estava sentado tinha poder. A primeira coisa que Jesus faz é separar Mateus do poder: do estar sentado para receber os outros, põe-no em movimento rumo aos outros; fá-lo deixar uma posição de supremacia para o colocar no mesmo nível dos irmãos e para lhe abrir os horizontes do serviço”, lembrou o Santo Padre.
O Pontífice sublinhou que é isto que Cristo faz, e isto é fundamental para os cristãos: “Nós, discípulos de Jesus, nós, Igreja, permanecemos sentados à espera de que as pessoas venham, ou sabemos levantar-nos, pôr-nos a caminho com os outros, procurar os outros?”.
Um olhar, um movimento e, no final, uma meta, frisou o Papa. Jesus vai à casa de Mateus e, ali, Mateus prepara-lhe «um grande banquete», no qual «participa uma grande multidão de publicanos». Mateus regressa ao seu ambiente, mas volta mudado e com Jesus, comentou o Santo Padre.
Zelo apostólico
“O seu zelo apostólico não começa num lugar novo, puro e ideal, mas lá onde vive, com as pessoas que conhece. Eis a mensagem para nós: não devemos esperar ser perfeitos e ter percorrido um longo caminho atrás de Jesus para dar testemunho d’Ele; o nosso anúncio começa hoje, lá onde vivemos. E não começa procurando convencer os outros, mas testemunhando todos os dias a beleza do Amor que olhou para nós e nos fez levantar”, destacou.
Com efeito, Francisco ressaltou um ensinamento do Papa Bento XVI: a Igreja não faz proselitismo. Ao contrário, ela desenvolve-se por atração. De acordo com o Pontífice, este testemunho atraente e jubiloso é a meta para a qual Jesus conduz a todos com o seu olhar de amor e com o movimento em saída que o seu Espírito suscita nos corações.