“À luz do iminente Sínodo sobre a Amazônia, gostaria de destacar que é indispensável prestar uma atenção especial às comunidades aborígenes com suas tradições culturais”
VaticanNews
O extrativismo foi tema do discurso do Papa Francisco, nesta sexta-feira, 03, aos participantes do encontro sobre “A indústria minerária para o bem comum”.
Trata-se de um encontro organizado pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, que convidou em Roma representantes de Igrejas e comunidades de fé de todo o mundo, mas não só: o evento reuniu na mesma mesa de diálogo os responsáveis pelas empresas minerárias e representantes das comunidades em que essas mesmas empresas atuam – um gesto louvado pelo Papa Francisco.
Antes de entrar no mérito da atividade minerária, o Pontífice recordou as “precárias condições” da nossa casa comum, que sofre com as consequências de um modelo econômico “voraz, orientado ao lucro, com um horizonte limitado e baseado na ilusão do crescimento econômico ilimitado”.
Não obstante este modelo tenha produzido um “desastroso impacto sobre o mundo natural e sobre a vida das pessoas”, ainda resistimos à mudança, mesmo conscientes de que o mercado, por si só, não garante o desenvolvimento humano integral e a inclusão social.
População local: principais interlocutores
Falando especificamente sobre a atividade minerária, Francisco afirmou a importância de que os habitantes locais tenham um lugar privilegiado no debate:
“À luz do iminente Sínodo sobre a Amazônia, gostaria de destacar que é indispensável prestar uma atenção especial às comunidades aborígenes com suas tradições culturais. Não são uma simples minoria, mas devem se tornar os interlocutores principais”, destacou o Papa, citando a Laudato si, que permeou todo o seu discurso.
Embora tenham “tanto a nos ensinar”, essas comunidades, em diversas partes do mundo, sofrem pressões para que abandonem suas terras e as deixem livres para os projetos extrativistas. “Exorto todos a respeitarem os direitos humanos fundamentais e a voz dessas pessoas.”
Rejeitos e resíduos
Em segundo lugar, o Pontífice lembrou que a atividade minerária deve estar a serviço dos homens, e não o contrário e existem dois princípios não negociáveis: a proteção e o bem estar das pessoas envolvidas e o respeito por seus direitos humanos fundamentais.
“Somente a responsabilidade social da empresa não é suficiente. Devemos garantir que as atividades minerárias conduzam ao desenvolvimento humano integral de cada pessoa e de toda a comunidade.”
Por fim, Francisco encoraja o desenvolvimento de uma economia circular, que significa limitar ao máximo o uso de recursos não renováveis, moderar o consumo, maximizar a eficiência da exploração e reutilizar e reciclar rejeitos e resíduos.
Sobriedade: palavra-chave
As tradições religiosas, recordou o Papa, “sempre apresentaram a sobriedade como uma componente-chave de um estilo de vida ético e responsável. A sobriedade é vital para salvar a nossa casa comum”.
O Pontífice concluiu fazendo votos de que o encontro seja uma ocasião de discernimento e possa guiar a uma ação concreta. “Precisamos agir juntos para sanar e reconstruir a nossa casa comum. (…) O que está em jogo é a nossa própria dignidade.”