Em mensagem sobre os 70 anos da revolução Billings, Francisco afirma que este método destaca beleza e valor da sexualidade humana
Da redação, com VaticanNews
O Papa Francisco enviou nesta sexta-feira, 28, uma mensagem aos participantes do Congresso Internacional WOOMB (World Organization Ovulation Method Billings), que acontece em Roma, nos dias 28 e 29 de abril.
O tema do congresso é “A ‘revolução Billings’ 70 anos depois: do conhecimento sobre fertilidade à medicina personalizada” e é promovido pela Universidade Católica do Sagrado Coração.
O Pontífice recordou que, na segunda metade do século passado, as pesquisas farmacológicas para o controle da fertilidade se desenvolviam e a cultura contraceptiva se disseminava. Por sua vez, John e Evelyn Billings desenvolveram, em 1953, uma cuidadosa pesquisa científica e divulgaram um método simples, chamado de Método de Ovulação Billings, disponível para mulheres e casais, para o conhecimento natural da própria fertilidade.
Na época, recorda o Papa, a proposta parecia menos moderna e menos confiável que a “segurança dos instrumentos farmacológicos”, mas na realidade o método oferece “provocações e reflexões atuais e fundamentais”.
Visão integral da sexualidade
Francisco explicou que o Método Billings traz ensinamentos sobre o valor da corporeidade, uma visão integrada e integral da sexualidade humana, o cuidado com a fertilidade do amor mesmo quando não é fértil, a cultura do acolhimento da vida e o problema do colapso demográfico.
“Nesses aspectos, o que foi chamado de ‘revolução Billings’ não esgotou seu impulso original, mas continua a ser um recurso para a compreensão da sexualidade humana e para a plena apreciação da dimensão relacional e generativa do casal”, enfatizou.
O Santo Padre afirmou que uma educação séria, nesse sentido, parece necessária hoje, em um mundo dominado por uma visão relativista e banal da sexualidade humana. “Ela exige consideração dentro de uma perspectiva antropológica e ética, na qual as questões doutrinárias são exploradas sem simplificações indevidas ou fechamentos rígidos”.
Ato conjugal
Nesse sentido, o Papa disse que é preciso ter sempre em mente a conexão inseparável entre os significados unitivo e procriativo do ato conjugal. O primeiro exprime o desejo dos cônjuges de serem um só, uma só vida; o outro exprime a vontade comum de gerar a vida, que permanece mesmo nos períodos de infertilidade e de velhice.
“Quando esses dois significados são conscientemente afirmados, a generosidade do amor nasce e se fortalece no coração dos cônjuges, dispondo-os a acolher uma nova vida. Quando isso falta, a experiência da sexualidade é empobrecida, reduzida a sensações, que logo se tornam autorreferênciais e perde sua dimensão e responsabilidade humanas”, explicou.
O Pontífice destacou que se está perdendo de vista a conexão entre a sexualidade e a vocação fundamental de cada pessoa ao dom de si. Um aspecto que encontra uma realização peculiar no amor conjugal e familiar, mas, embora seja uma verdade inscrita no coração humano, requer um caminho educacional para se expressar plenamente.
“A linguagem do corpo requer uma aprendizagem paciente que permita interpretar e educar os próprios desejos em ordem a uma entrega de verdade. Quando se pretende entregar tudo duma vez, é possível que não se entregue nada. Uma coisa é compreender as fragilidades da idade ou as suas confusões, outra é encorajar os adolescentes a prolongarem a imaturidade da sua forma de amar. Mas, quem fala hoje destas coisas? Quem é capaz de tomar os jovens a sério? Quem os ajuda a preparar-se seriamente para um amor grande e generoso?”, disse o Papa citando um trecho da Exortação Apostólica Amoris Laetitia (cf. nº 284).
Nova revolução de mentalidade
Francisco lembrou que, depois da revolução sexual, é necessária uma nova revolução de mentalidade: “descobrir a beleza da sexualidade humana folheando o grande livro da natureza; aprender a respeitar o valor do corpo e a geração da vida, com vistas a experiências autênticas de amor familiar”.
Outra dimensão da sexualidade é justamente a sua relação com a geração da vida. De fato, afirmou o Papa, o conhecimento da fertilidade, se tem um valor educativo geral, tem ainda mais relevância quando o casal decide se abrir para receber filhos.
Nesse sentido, o Método Billings, juntamente com outros semelhantes, representa uma das formas mais adequadas de realizar com responsabilidade o desejo de ser pais.
“Na raiz da atual crise demográfica há, juntamente com vários fatores sociais e culturais, um desequilíbrio na visão da sexualidade, e não é por acaso que o Método Billings também é um recurso para lidar naturalmente com problemas de infertilidade e ajudar os cônjuges a se tornarem pais, identificando os períodos mais férteis. Nesse campo, um maior conhecimento dos processos de geração da vida, fazendo uso das modernas aquisições científicas, poderia ajudar muitos casais a fazer escolhas mais conscientes e eticamente mais respeitosas da pessoa e de seu valor”, indicou.
Promover conhecimento
Francisco concluiu sua mensagem destacando a importância das universidades católicas, em particular as de medicina, assumir essa tarefa com renovado empenho. E, referindo-se ao congresso internacional do WOOMB, o Santo Padre disse que a medicina personalizada lembra que cada pessoa é única e deve ser ajudada a expressar seu potencial da melhor maneira.
Afirmou ainda que promover esse conhecimento “da fertilidade e dos métodos naturais” também tem “grande valor pastoral”. Isso deve-se ao fato de ajudar os casais a serem mais conscientes de sua vocação conjugal e a dar testemunho dos valores evangélicos da sexualidade humana.
“Caros amigos, desejo-lhes um trabalho frutuoso e agradeço-lhes pelo que fazem. Prestem esse valioso serviço à comunidade da Igreja e a todos aqueles que desejam cultivar os valores humanos da sexualidade com paixão e generosidade. Devemos estar sempre conscientes de que a bênção original de Deus se reflete com esplendor particular nessa área da vida e que também somos chamados a honrá-lo nessa área, como exorta São Paulo: “Glorificai, pois, a Deus em vossos corpos!” (1Cor 6,20)”, finalizou.