Recebendo membros de organização ítalo-latino-americana, Papa refletiu sobre alguns desafios da América Latina, como a crise e a emigração
Da Redação, com Rádio Vaticano
Os desafios da América Latina e a necessidade de enfrentá-los estiveram no centro do discurso do Papa Francisco nesta sexta-feira, 30, na audiência com cerca de 200 membros da Organização Internacional Ítalo-Latino-Americana. Eles se encontraram com o Papa por ocasião dos 50 anos da organização.
“Encorajo-os no compromisso de vocês em favor do bem comum em nosso continente americano, e a colaboração entre todos possa favorecer a construção de um mundo sempre mais humano e mais justo”, disse.
O Santo Padre destacou, entre as finalidades da organização, promover o desenvolvimento e a coordenação, bem como identificar as possibilidades de assistência recíproca e de ação comum entre os países-membro. Ele articulou seu discurso em três aspectos que considera importantes para o momento atual: identificar as potencialidades, coordenar e promover.
Os países da América Latina são ricos de história, cultura e recursos naturais e têm um povo bom e solidário com os outros povos, lembrou o Papa. Esses valores sociais estão presentes, mas devem ser apreciados e reforçados.
“Apesar desses bens do continente, a atual crise econômica e social atingiu a população e produziu o aumento da pobreza, do desemprego, da desigualdade social, bem como a exploração e o abuso da nossa casa comum. Diante dessa situação é preciso uma análise que leve em consideração a realidade das pessoas concretas, a realidade do nosso povo”.
Levar ao desenvolvimento
Destacando o segundo aspecto, o Papa frisou que é preciso coordenar os esforços para dar respostas concretas e para fazer frente às instâncias e às necessidades dos filhos e das filhas desses países.
“Coordenar não significa deixar que os outros façam e no final aprovar, ao invés, comporta muito tempo e muito esforço; é um trabalho que não aparece e é pouco apreciado, mas necessário”, observou, atendo-se em seguida ao fenômeno da emigração na América Latina.
“Diante de um mundo globalizado e sempre mais complexo, a América Latina deve unir os esforços para fazer frente ao fenômeno da emigração; e grande parte de suas causas já deveriam ter sido enfrentadas há muito tempo, mas nunca é tarde demais”.
Francisco lembrou que a emigração sempre existiu, mas nos últimos anos teve um incremento jamais visto antes. Na busca por um “novo oásis”, muitas vezes as pessoas sofrem a violação de seus direitos; muitas crianças e jovens são vítimas do tráfico de seres humanos e são exploradas, ou caem nas redes da criminalidade e da violência organizada.
“A emigração é um drama de divisão: dividem-se as famílias, os filhos se separam dos pais, distanciam-se da terra de origem, e os próprios governos e os países se dividem diante dessa realidade. É preciso uma política conjunta de cooperação para enfrentar esse fenômeno. Não se trata de buscar culpados e de esquivar-se de responsabilidades, mas todos somos chamados a trabalhar de maneira coordenada e conjunta”.
Promover o diálogo
Por fim, o Papa destacou a necessidade de promover a cultura do diálogo. Ele reconheceu que alguns países da América Latina estão passando por momentos difíceis em nível político, social e econômico.
“Os cidadãos que dispõem de menos recursos são os primeiros a perceber a corrupção que existe nos vários estratos sociais e a má distribuição das riquezas. Sei que muitos países trabalham e lutam para realizar uma sociedade mais justa, promovendo uma cultura da legalidade”, reconheceu Francisco.
O Santo Padre considerou que a promoção do diálogo político é essencial, tanto entre os vários membros desta Associação, quanto com os países de outros continentes, de modo especial com os da Europa, por laços que os unem.
O diálogo é indispensável, concluiu Francisco, “mas não o ‘diálogo entre surdos’! Requer uma atitude receptiva que acolha sugestões e partilhe aspirações.