Durante encontro privado, Francisco encorajou padres a tornarem fecundas as feridas, ajudando pessoas vítimas de abusos
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco recebeu nesta terça-feira, 25, um grupo de sacerdotes alemães vítimas de abusos. O encontro privado aconteceu na Casa Santa Marta. Entre os presbíteros estava Mathias Wuensche, padre que vive um dilema interior: a profunda vocação para servir a Igreja e a ferida dos abusos sofridos dentro dessa mesma Igreja, quando ainda era menor, por parte de um sacerdote. O abuso não o impediu de seguir o chamado para se tornar sacerdote, afirmou o presbítero.
“Sou um padre de 63 anos e um padre abusou de mim há 45 anos. Ainda hoje sofro”, disse padre Mathias, da Diocese de Bamberg. “O Santo Padre nos disse que este é o rosto feio da Igreja. Continuo o mesmo, hoje sou sacerdote e este é um grande dilema para mim”, explicou, sublinhando a grande proximidade demonstrada pelo Papa: “O Santo Padre estava muito consciente, isto é uma consolação”. “Nós – acrescentou padre Mathias – como abusados, temos uma dignidade que não queremos esquecer, até o Papa nos repetiu isso com força”.
Dor que virou impulso para cuidar dos que sofrem
“Como sacerdotes que sofreram abusos, encontramo-nos em uma situação difícil na Igreja. Idealmente, deveríamos ser invisíveis, porque constantemente recordamos deste problema”, afirmou padre Liudger Gottschlich, da Arquidiocese de Paderborn, também vítima de abusos por parte de um sacerdote quando tinha 11 anos.
O sacerdote contou que atualmente está comprometido na pastoral de pessoas que sofreram violências. Na Alemanha, disse ele, muitas pessoas abandonam a Igreja por causa deste problema.
O encontro com o Pontífice ocorreu em um “clima especial” de proximidade e sinceridade. “Esta conversa com o Papa foi diferente… muito íntima, muito familiar. Foi muito encorajador e fortalecedor”, contou Gottschlich.
Pastoral de proximidade às vítimas
O Papa, contam os sacerdotes, encorajou o trabalho com as pessoas atingidas. “Tornar fecundas as nossas feridas para o trabalho pastoral e tentar, na medida do possível, ter um efeito curativo”. “Ao mesmo tempo, este encontro demonstrou mais uma vez que não devemos permanecer calados, mas manter vivo este tema na Igreja”.
Padre Mathias, padre Liudger e os outros presbíteros inspiraram-se para lançar um apelo: “Não ter medo de se aproximar das pessoas vítimas de abusos. Acho que esse é o maior problema, que as pessoas que se abrem e dizem ter sido vítimas de abusos desencadeiam ansiedade. Como lidar com isso? O que fazer?” O risco é machucar novamente as vítimas que acabam por se sentir ainda mais “sós e abandonadas”. Em vez disso, é importante perguntar: “Do que você precisa?”.
Peregrinação de bicicleta de Munique a Roma
Alguns destes sacerdotes já haviam encontrado Francisco em maio do ano passado, quando, com um grupo de cerca de quinze pessoas, entre idosos e jovens, participaram de uma “peregrinação” de bicicleta que começou em Munique e terminou em Roma, com a participação na Audiência Geral de quarta-feira na Praça de São Pedro.
Uma iniciativa apoiada pela Arquidiocese de Munique e Freising, voltada a pedir um maior compromisso contra os abusos sexuais, para que a Igreja seja “um lugar seguro” para todos. Objetivo reiterado em uma carta entregue pelo grupo ao Santo Padre ao final da audiência.