Amor ao próximo

Papa: Deus pergunta a cada um onde está o irmão necessitado

A pergunta de Deus a Caim – “Onde está o teu irmão” foi o centro da homilia do Papa; ele enfatizou o irmão na pessoa do doente, faminto e encarcerado

Da Redação, com Vatican News

Papa Francisco na Missa desta segunda-feira, 18 / Foto: Vatican Media

“Onde está o teu irmão?”. A pergunta dirigida a Caim é também hoje direcionada a cada pessoa hoje, destacou o Papa Francisco em sua homilia na Missa desta segunda-feira, 18, na Casa Santa Marta. O Santo Padre lembrou que o irmão é a pessoa doente, o encarcerado, o faminto, como diz o Evangelho de Mateus no capítulo 25.

O caso de Caim e Abel, proposto pela Primeira Leitura da Liturgia do dia, esteve no centro da reflexão do Papa. Uma leitura que faz parte daquele gênero literário que se repete várias vezes na Bíblia: “podemos chamar de ‘perguntas incômodas’ e respostas de ‘circunstâncias’”.

De fato, é “uma pergunta constrangedora” que Deus dirige a Caim: “Onde está o teu irmão?”. E a resposta neste caso é “um pouco de circunstância”, mas também dada para se defender: “Mas o que eu tenho a ver com a vida do meu irmão? Por acaso sou eu o seu custódio? Eu lavo as mãos. E assim Caim tenta escapar do olhar de Deus”, notou o Papa.

Perguntas incômodas

o Santo Padre, então, concentrou-se nas “perguntas incômodas” que Jesus fez. Muitas vezes as dirigiu a Pedro, por exemplo, quando lhe perguntou três vezes: “Me amas?”. Tanto que, no final, Pedro não sabia mais o que responder. Do mesmo modo, perguntou aos discípulos: “O que as pessoas dizem de mim?”. E eles responderam: “um profeta, o Batista …”. “Mas vós, o que dizeis?”, perguntou Cristo. “Uma pergunta constrangedora”. 

A Caim, Deus fez outra pergunta: onde está o teu irmão? “Esta é uma pergunta incômoda, é melhor não fazê-la. E nós conhecemos muitas respostas: mas é a sua vida, eu a respeito, lavo as mãos… eu não me intrometo na vida dos outros”. O Papa explicou que, diariamente, a essas perguntas ‘incômodas’ de Deus as pessoas respondem um pouco com princípios genéricos que não dizem nada, mas dizem tudo o que está no coração. 

Respostas de circunstâncias

A cada um o Senhor hoje faz esta pergunta: “Onde está o teu irmão?”. Talvez, alguém um pouco mais distraído pode responder que está em casa com a esposa, mas o Papa esclareceu que se trata do irmão doente, faminto, encarcerado, do perseguido pela justiça. 

“Onde está o teu irmão?” – “Não sei” – “Mas o teu irmão tem fome!” – “Sim, sim, certamente está almoçando na Caritas da paróquia, sim certamente lhe darão de comer”, e com esta resposta, de circunstância, salvo a minha pele. “Não, o outro, o doente…” – “Certamente está no hospital!” – “Mas não tem lugar no hospital! E os remédios?” – “Mas é uma coisa que diz respeito a ele, eu não posso me intrometer na vida dos outros… terá parentes que lhe darão remédios”, e lavo as mãos. “Onde está o teu irmão, o encarcerado?” – “Ah, está pagando aquilo que merece. Ele cometeu, que pague. Nós estamos cansados de tantos delinquentes na rua: pague”. Mas talvez você nunca vai ouvir esta resposta da boca do Senhor. Onde está o teu irmão? Onde está o teu irmão explorado, que trabalha no mercado informal nove meses por ano para retomar, depois de três meses, outro ano? E assim não existe segurança, não existem férias … “Eh, hoje não existe emprego e se faz aquilo que aparece …”: outra resposta de circunstância .

Com estes exemplos concretos, o Papa pede que cada um tome esta Palavra do Senhor como se fosse dirigida a cada um pessoalmente. “O Senhor me pergunta: “onde está o seu irmão?”, e põe o nome dos irmãos que o Senhor nomeia no capítulo 25 de Mateus: o doente, o faminto, o sedento, aquele que não tem roupas, aquele irmão pequenino que não pode ir à escola, o usuário de droga, o encarcerado … onde está? Onde está o seu irmão em seu coração? Existe espaço para essas pessoas em nosso coração? Ou falamos sim das pessoas e descarregamos a consciência dando uma esmola”. 

Mas que essas pessoas não incomodem muito por favor, porque, continua o Papa, “com essas coisas sociais da Igreja”, acaba parecendo “um partido comunista e isso nos faz mal”. Tudo bem, mas o Senhor disse: onde está seu irmão? Não é o partido, é o Senhor”. “Estamos acostumados a dar respostas de ocasião, respostas para fugir do problema, para não ver o problema e não tocar no problema”.

Francisco pede novamente para “fazer uma lista” de todos aqueles que o Senhor nomeia no capítulo 25 de Mateus. Caso contrário, começa a ser criada “uma vida escura”: o pecado está agachado à sua porta, diz o Senhor a Caim, e “quando carregamos esta vida escura sem tomar pela mão o que o Senhor Jesus nos ensinou, à porta está o pecado, agachado, esperando para entrar e nos destruir”, recorda, exortando também a fazer-se outra pergunta contida no livro do Gênesis, aquela que Deus fez a Adão depois do pecado: “Adão, onde você está”?

“E Adão se escondeu de vergonha, de medo. Talvez tenhamos sentido essa vergonha. Onde está o seu irmão? Onde você está? Em que mundo você vive que não percebe essas coisas, esses sofrimentos, essas dores? Onde está o seu irmão?… Onde você está? Não se esconda da realidade. Responda abertamente, com lealdade e com alegria a estas duas perguntas do Senhor”. 

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