Audiência no Vaticano

Papa deseja ir a Niceia para o aniversário de 1700 anos do Concílio

Em audiência com a delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, Francisco recordou o aniversário do Primeiro Concílio Ecumênico e agradeceu Bartolomeu I pelo convite para celebrá-lo juntos nos lugares onde ocorreu

Da redação, com Vatican News

Foto: Vatican Media via REUTERS

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira, 28, no Vaticano, uma delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla por ocasião da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo celebrada no sábado, 29. O Pontífice agradeceu a presença da delegação do patriarcado, ao patriarca Bartolomeu I e ao Santo Sínodo do Patriarcado Ecumênico por terem enviado novamente, este ano, uma delegação para participar “da Solenidade dos Santos Padroeiros da Igreja de Roma, os Apóstolos Pedro e Paulo, que testemunharam sua fé em Jesus Cristo até o martírio nesta cidade”.

“A sua visita nesta ocasião, bem como o envio de uma delegação minha ao Fanar na festa do Apóstolo André, irmão de Pedro, oferecem a oportunidade de experimentar a alegria do encontro fraterno e testemunhar os profundos laços que unem as Igrejas irmãs de Roma e Constantinopla, com a firme decisão de avançar juntos para o restabelecimento da unidade para a qual somente o Espírito Santo pode nos guiar, a da comunhão na legítima diversidade”, disse.

O Papa recordou que este caminho de reaproximação e pacificação recebeu um novo impulso com o encontro entre o santo Papa Paulo VI e o santo Patriarca Ecumênico Atenágoras, realizado sessenta anos atrás em Jerusalém. Depois de séculos de afastamento recíproco, esse encontro foi um sinal de grande esperança, frisou Francisco. O encontro, prosseguiu o Santo Padre, nunca deixa de inspirar os corações e as mentes de homens e mulheres que anseiam por alcançar, com a ajuda de Deus, o dia em que poderão participar juntos do banquete eucarístico.

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Maio de 2014

O Pontífice lembrou que, há dez anos, em maio de 2014, Sua Santidade Bartolomeu e ele foram em peregrinação a Jerusalém, para comemorar o 50º aniversário desse evento histórico. “Foi lá, onde nosso Senhor Jesus Cristo morreu, ressuscitou dos mortos e subiu aos céus, e onde o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos pela primeira vez, que reafirmamos nosso compromisso de continuar caminhando juntos rumo à unidade pela qual Cristo, o Senhor, pediu ao Pai, ‘para que todos sejam um'”, disse ainda.

“Mantenho viva e grata a lembrança daquela peregrinação comum com Sua Santidade Bartolomeu e dou graças a Deus, o Pai misericordioso, pela amizade fraterna que se desenvolveu entre nós ao longo desses anos. Ela foi alimentada em numerosos encontros, em muitas ocasiões de colaboração concreta entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa sobre questões de grande relevância para as Igrejas e para o mundo, como o cuidado da criação, a defesa da dignidade humana e a paz”.

Francisco afirmou que o diálogo entre as duas Igrejas não comporta nenhum risco para a integridade da fé, pelo contrário, é uma exigência que surge da fidelidade ao Senhor e conduz a toda a verdade, através de uma troca de dons, sob a guia do Espírito Santo.

Diálogo Teológico

Na sequência, o Papa encorajou o trabalho da Comissão Mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, que empreendeu o estudo de delicadas questões históricas e teológicas. “Desejo que os pastores e teólogos envolvidos neste processo possam ir além das disputas puramente acadêmicas e escutem docilmente o que o Espírito Santo diz à vida da Igreja, e o que já foi objeto de estudo e acordo encontre plena recepção em nossas comunidades e locais de formação. Haverá sempre resistência a isso em toda parte, mas temos de seguir em frente com coragem”, disse.

Lembrando o encontro em Jerusalém, o Santo Padre voltou seu pensamento para a dramática situação que hoje se vive na Terra Santa. Francisco citou que como resultado da peregrinação a Jerusalém, em 8 de junho de 2014, Bartolomeu I e ele, na presença também do patriarca greco-ortodoxo de Jerusalém, Theophilos III, receberam o falecido presidente do Estado de Israel e o presidente do Estado da Palestina nos Jardins Vaticanos, para implorar a paz na Terra Santa, no Oriente Médio e em todo o mundo.

“Dez anos depois, a história atual nos mostra, de forma trágica, a necessidade e a urgência de rezar juntos pela paz, para que essa guerra termine, para que os chefes das nações e as partes em conflito possam reencontrar o caminho da concórdia e todos possam se reconhecer como irmãos. Naturalmente, essa invocação pela paz se estende a todos os conflitos em andamento, especialmente à guerra que está sendo travada na martirizada Ucrânia”.

Jubileu 

O Pontífice disse ainda que numa época em que muitos homens e mulheres são prisioneiros do medo do futuro, as Igrejas têm a missão de anunciar sempre Jesus Cristo. Por esse motivo, seguindo uma antiga tradição da Igreja Católica, segundo a qual o Bispo de Roma anuncia um Jubileu a cada vinte e cinco anos, o Papa contou que decidiu convocar o Jubileu Ordinário para o próximo ano, que terá como lema “Peregrinos da Esperança”. “Ficarei grato se vocês e a Igreja que representam acompanharem e apoiarem este ano de graça com suas orações, para que haja abundantes frutos espirituais. E também com sua presença: seria muito bom”.

Aniversário do Primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia e desejo de visitar Nicéia

Em 2025 será celebrado o aniversário de 1700 anos do Primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia. Diante deste fato, o Papa comentou que deseja que a lembrança desse evento tão importante aumente em todos os fiéis em Cristo, a vontade de testemunhar juntos a fé e o anseio por maior comunhão.

O Santo Padre afirmou que o Patriarcado Ecumênico e o Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos já começaram a refletir sobre como comemorar juntos esse aniversário. Francisco agradeceu a Bartolomeu I por convidá-lo a celebrar esse aniversário perto do lugar onde o Concílio se reuniu. “Eu gostaria de ir. É uma viagem que desejo fazer, de todo o coração”.

Papa recorda o bispo Zizioulas

Ao final da audiência, o Pontífice recordou o Bispo Ioannis Zizioulas, teólogo ortodoxo, metropolita de Pérgamo, que faleceu em 2023. “Ele era irônico, mas era bom, queria muito bem a ele”. Dele, o Papa recordou uma afirmação sábia. Brincando ele dizia: “Eu sei quando será o dia da plena unidade: o dia do Juízo Final. Mas, enquanto isso, vamos caminhar juntos, rezar juntos e trabalhar juntos”.

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