Papa participou hoje da abertura de evento sobre demografia na Itália e no mundo; enfatizou que sem natalidade não há futuro
Da Redação, com Vatican News
Um discurso em prol do acolhimento da vida, também como esperança para o renascimento de um povo. Nesta sexta-feira, 14, o Papa Francisco participou da abertura dos trabalhos dos Estados Gerais da Natalidade. Trata-se de um encontro promovido pelo Fórum das Associações Familiares, no Auditório da Conciliação, e dedicado ao destino demográfico da Itália e do mundo.
Presente na abertura também o primeiro-ministro, Mario Draghi, e demais autoridades. Foram três mesas temáticas, reunindo representantes de bancos, empresas, seguradoras, mídia e esporte. Todos reunidos para um debate sobre o tema da natalidade num país em que, em 2020, houve uma redução de 30% dos nascimentos.
O Pontífice falou de “areias movediças que podem afundar uma sociedade” e que contribuem para o inverno demográfico constante na Itália. São situações como a perplexidade devido à incerteza do trabalho e o medo causado pelos custos cada vez menos sustentáveis para a criação dos filhos. O Papa também incluiu a “tristeza” para as mulheres que, no trabalho, são desencorajadas a ter filhos ou precisam até mesmo esconder a barriga.
Palavra aos jovens
Logo no início de seu discurso, o Santo Padre se dirigiu aos jovens, cujos sonhos foram desfeitos no gelo deste inverno rigoroso. Eles ficaram desanimados a tal ponto que a “metade acredita que conseguirá ter apenas dois filhos em sua vida”. Uma tendência que precisa ser revertida, segundo o Papa, para colocar a Itália novamente em movimento a partir da vida, a partir do ser humano.
“A Itália está assim há anos com o menor número de nascimentos na Europa”, observou o Pontífice, “no que está se tornando o Velho Continente não mais por causa de sua história gloriosa, mas por causa de sua idade avançada”.
“Todos os anos é como se uma cidade de mais de duzentos mil habitantes desaparecesse. Em 2020, houve o menor número de nascimentos desde a unidade nacional: não apenas por causa da Covid-19, mas por uma tendência contínua e progressiva de queda, um inverno cada vez mais rigoroso”.
Pais divididos entre casa e trabalho, avós salva-vidas
O Papa citou o presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, quando reiterou que “as famílias não são o tecido conjuntivo da Itália, as famílias são a Itália”.
Ele comentou, então, a realidade das muitas famílias que nestes meses de pandemia tiveram que trabalhar horas extras, dividindo a casa entre trabalho e escola. Também lembrou como pais agiram como professores, técnicos de informática, operários e psicólogos.
E isso sem esquecer os “sacrifícios” exigidos aos avós, “verdadeiros botes salva-vidas para as famílias”, bem como “memória que nos abre para o futuro”.
“Para que o futuro seja bom, é necessário cuidar das famílias, particularmente das famílias jovens, atormentadas por preocupações que correm o risco de paralisar seus projetos de vida”.
Triste de ver mulheres obrigadas a esconderem a barriga no trabalho
Falando de paralisia, o Papa criticou a situação em que tantas mulheres se encontram no local de trabalho. Elas têm medo de que uma gravidez possa resultar em demissão, a ponto de chegar a esconder a barriga.
“Como é possível que uma mulher se sinta envergonhada pelo presente mais bonito que a vida pode oferecer? Não a mulher, mas a sociedade deveria se envergonhar, porque uma sociedade que não acolhe a vida deixa de viver. Os filhos são a esperança que faz um povo renascer”. E acrescentou: “Se as famílias não estiverem no centro do presente, não haverá futuro; mas se as famílias recomeçam, tudo recomeça”.
Dom, sustentabilidade, solidariedade
O cenário é difícil e o futuro incerto, mas o Papa Francisco vê uma “primavera” no horizonte. Para alcançá-la, ele oferece três pensamentos: o primeiro, relacionado à palavra dom; o segundo, à palavra sustentabilidade; e o terceiro, à solidariedade.
“Obrigado a cada um de vocês e a quantos acreditam na vida humana e no amanhã. Às vezes parecerá que vocês gritam no deserto, lutam contra moinhos de vento. Mas sigam adiante, não desistam, porque é belo sonhar, sonhar o bem e construir o futuro. E sem natalidade não há futuro”.