Quarta-feira de Cinzas

Papa: com Deus ressurgiremos das cinzas, sem Ele somos apenas pó

Francisco conduziu a homilia da celebração desta Quarta-feira de Cinzas, 22, no Vaticano; “A Quaresma é tempo para nos lembrar quem é o Criador e quem é a criatura”, disse

Julia Beck
Da redação

Foto: REUTERS – Guglielmo Mangiapane

“A Quaresma é tempo para nos lembrar quem é o Criador e quem é a criatura. (…) Com Deus ressurgiremos das nossas cinzas, mas sem Ele somos apenas pó”. Esta foi uma das reflexões feitas pelo Papa Francisco na homilia da celebração desta Quarta-feira de Cinzas, 22.

O Pontífice falou aos fiéis que a Quaresma ensina a regressar ao essencial, a despojar-se daquilo que sobrecarrega para alcançar uma reconciliação com Deus. Segundo o Santo Padre, o tempo quaresmal ajuda a reascender o fogo do Espírito Santo que habita escondido por entre as cinzas da fragilidade humanidade.

“É um tempo de graça. (…) Tempo para colocar em prática aquilo que o Senhor nos pediu: convertei-vos a mim de todo o coração”, disse o Papa. Francisco indicou que o essencial é o Senhor, e o rito das cinzas introduz neste caminho de regresso dois convites: “regressar à verdade de nós mesmos e regressar a Deus e aos irmãos”.

Regressar à verdade de nós mesmos

Antes de mais nada, o Pontífice frisou a importância do “regressar à verdade de nós mesmos”. “Só o Senhor é Deus e nós somos obras das Suas mãos. Temos a vida enquanto Ele é a vida. Viemos da terra e precisamos do céu dEle”, ressaltou.

Ao inclinar a cabeça humildemente para receber as cinzas, o Santo Padre pediu aos fiéis que tragam na memória do coração a verdade: todos são do Senhor, a Ele todos pertencem.

O Papa encorajou os católicos a não se desesperarem mesmo quando caírem no pó da fragilidade e do pecado, pois Deus sabe do que todos são formados, não se esquece que todos são pó. “Ele recorda que somos pó, Deus sabe e nós muitas vezes nos esquecemos achando que somos autossuficientes e invencíveis sem Ele”, comentou.

Só Deus é o Senhor

“Proclamar que só Deus é o Senhor”, indicou Francisco. No entanto, o Pontífice afirmou que isso só é possível quando os homens se despojam da mania de se colocarem no centro. “Meramente com as nossas capacidades achamos que podemos mudar o mundo. (…) Este é o tempo favorável para nos convertermos, mudando a visão que temos de nós mesmos no nosso íntimo”, disse.

O Papa ressaltou que muitas desatenções e superficialidades distraem as pessoas daquilo que conta. “Quantas vezes nos concentramos nos nossos gostos, esquecendo de abraçar o sentido da nossa presença no mundo?”, questionou.

A Quaresma é o tempo da verdade, capaz de fazer cair as máscaras que muitos colocam todos os dias para parecerem perfeitos aos olhos do mundo.

“A Quaresma é um tempo, como disse Jesus no evangelho, para lutarmos contra as falsidades e hipocrisias, não as dos outros, mas as nossas. Olhá-las de frente e lutarmos” – Papa Francisco

Regressar a Deus e aos irmãos

Sobre o segundo passo, o Santo Padre explicou que a cinza que se recebe sobre a cabeça diz que toda a presunção de autossuficiência é falsa, que idolatrar o ‘eu’ é opção destrutiva que fecha muitos na ‘jaula’ da solidão.

“Ao contrário, a nossa vida é primariamente uma relação. (…) A Quaresma é o tempo propício para reavivarmos a nossa relação com Deus e com os outros. É tempo de sairmos do nosso ‘eu’ fechado, quebrar as cadeias do individualismo e voltar a descobrir por meio do encontro e da escuta a pessoa que caminha diariamente ao nosso lado. Aprender a amá-la como irmão e irmã”.

Esmola, oração e jejum

Não há novidades no caminho quaresmal, comentou o Papa, todos são convidados a percorrer três grandes sendas indicadas por Jesus: a esmola, a oração e o jejum. Jesus, prosseguiu Francisco, afirmou que é preciso comportamentos que expressem uma renovação do coração.

De acordo com o Santo Padre, a esmola não é um gesto para deixar a consciência tranquila, mas para tocar com as próprias mãos e com as próprias lágrimas o sofrimento dos pobres. A oração não é um ritual, mas diálogo verdadeiro com o Pai. Por fim, o jejum não é mero sacrifício, mas atitude forte para lembrar ao coração aquilo que conta e passa.

“Os gestos exteriores devem corresponder sempre à sinceridade da alma e coerência das obras”, sublinhou o Pontífice. Segundo ele, é preciso se atentar aos gestos que não tocam a vida e não são verdadeiros, mas que são feitos para receber a admiração dos outros e receber aplausos, acumular méritos.

A esmola, a oração e o jejum não se reduzem a gestos exteriores, mas exprimem quem os cristãos são: filhos de Deus e irmãos, reforçou o Papa. A esmola, a caridade ensina os homens a se voltarem para os outros. A oração evidencia o desejo de encontrar Deus. O jejum é treinamento para renunciar com alegria ao que é supérfluo e sobrecarrega, para tornar os fiéis livres e voltarem à verdade de si mesmos.

“Encontro com o Pai, liberdade interior e compaixão”, resumiu Francisco. Este é o caminho a ser percorrido nestes 40 dias por quem deseja descobrir a alegria verdadeira. “Fixar o olhar em Jesus respondendo aos fortes apelos da Quaresma. Ao final do percurso encontraremos Ele, o único que nos fará ressurgir das nossas cinzas”, concluiu o Pontífice.

 

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