Francisco destacou natureza frágil do homem e esperança da ressurreição em homilia lida pelo Cardeal De Donatis na liturgia da Quarta-feira de Cinzas
Da Redação, com Boletim da Santa Sé

Sacerdote impõe as cinzas durante liturgia na Basílica de Santa Sabina / Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane
No Vaticano, o penitencieiro-mor, Cardeal Angelo De Donatis, presidiu a liturgia da Quarta-feira de Cinzas. Ele foi designado pelo Papa Francisco como seu delegado para os ritos, uma vez que o Pontífice não pôde comparecer devido à sua internação no Hospital Gemelli.
A liturgia teve início às 16h30 do horário local, na Igreja de Santo Anselmo no Aventino. Em seguida, foi realizada a procissão penitencial rumo à Basílica de Santa Sabina, onde foi celebrada a Missa com o rito da bênção e imposição das cinzas.
Na homilia, o Cardeal De Donatis leu a reflexão preparada pelo Santo Padre. No início do texto, Francisco destaca que as cinzas são, ao mesmo tempo, memória e esperança. “Elas nos recordam que somos pó, mas situam-nos no caminho da esperança a que somos chamados, porque Jesus desceu ao pó da terra e, através da sua Ressurreição, leva-nos com Ele para o coração do Pai”, expressa.
Esses aspectos simbolizam o caminho da Quaresma até a Páscoa, partindo da memória da fragilidade humana em direção à esperança de que, no fim da jornada, Jesus Ressuscitado estará à espera.
Memória da fragilidade humana
Diante disso, o Papa enfatiza a necessidade de conservar a memória. “Recebemos as cinzas inclinando a cabeça, como que para nos olharmos a nós próprios, para nos olharmos por dentro”, pontua. Da mesma forma, as cinzas recordam que “somos pó, fomos
criados do pó e voltaremos ao pó” – uma lembrança de que a vida “não é mais que um sopro” (Sl 39,6-7).
A experiência da fragilidade, indica o Pontífice, é sentida em diversos momentos: no cansaço, na fraqueza, nos medos, nos fracassos, na efemeridade das coisas, na doença, na pobreza, no sofrimento. Além disso, a humanidade encontra-se exposta também “às ‘poeiras finas’ que poluem o mundo: a contraposição ideológica, a lógica da prevaricação, o regresso de velhas ideologias identitárias que teorizam a exclusão dos outros, a exploração dos recursos da terra, a violência nas suas diversas formas, a guerra entre os povos”.
Por fim, a fragilidade lembra ainda o drama da morte. Apesar das tentativas de exorcizá-lo, ele segue se impondo como um sinal da precariedade e da transitoriedade da vida humana. “Assim, apesar das máscaras que usamos e dos artifícios criados muitas vezes habilmente para nos distrair, as cinzas recordam-nos quem somos e isto faz-nos bem. Reconfigura-nos, atenua a dureza dos nossos narcisismos, traz-nos de volta à realidade, torna-nos mais humildes e disponíveis uns para com os outros: nenhum de nós é Deus, estamos todos a caminho”, escreve o Santo Padre.
Convite à esperança da ressurreição
Apesar disso, contrapõe Francisco, a Quaresma é um convite a reviver a esperança. Se as cinzas são recebidas de cabeça baixa, este tempo exorta cada um a “levantar a cabeça para Aquele que se ergue das profundezas da morte, levando-nos também a nós das cinzas do pecado e da morte para a glória da vida eterna”.
“Sem esta esperança”, acrescenta o Papa, “estamos condenados a suportar passivamente a fragilidade da nossa condição humana e, em especial diante da experiência da morte, afundamo-nos na tristeza e na desolação (…). Em contrapartida, a esperança da Páscoa, para a qual nos dirigimos, sustenta-nos nas fragilidades, assegura-nos o perdão de Deus e, mesmo quando estamos envoltos nas cinzas do pecado, abre-nos à confissão jubilosa da vida”.
Ao final de sua reflexão, o Pontífice exorta os fiéis à conversão a Deus e colocá-Lo novamente no centro da vida. Para isso, lista as práticas quaresmais: “aprendamos por meio da esmola a sair de nós mesmos para partilhar as necessidades uns dos outros e alimentar a esperança de um mundo mais justo; aprendamos por meio da oração a descobrir-nos necessitados de Deus (…) para alimentar a esperança de que, nas nossas fragilidades e no fim da nossa peregrinação terrena, nos espera um Pai de braços abertos; aprendamos por meio do jejum que não vivemos apenas para satisfazer necessidades, mas que temos fome de amor e de verdade, e só o amor de Deus e de uns pelos outros pode verdadeiramente saciar-nos e dar-nos esperança num futuro melhor”.