Papa defendeu que é preciso “querer de verdade” acabar com a fome, mas isso só acontecerá se o bem integral da pessoa for o centro das iniciativas
Da redação
Redobrar os esforços a fim de que ninguém passe fome. Esse é o apelo do Papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial da Alimentação 2018, celebrado nesta terça-feira, 16. O texto publicado hoje, pela Santa Sé, é endereçado ao diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano da Silva.
Este ano, o tema do Dia Mundial da Alimentação é “As nossas ações são o nosso futuro. Um mundo com Fome Zero em 2030 é possível”. Francisco ressalta que esse é um apelo urgente, um grito para tirar as pessoas da apatia que frequentemente paralisa e inibe.
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.: Na íntegra, mensagem do Papa para o Dia Mundial da Alimentação
“Somos todos convidados, mas de modo especial a FAO, os seus Estados-membros, os organismos e instituições nacionais e internacionais, bem com a sociedade civil e todas as pessoas de boa vontade, a redobrar os nossos esforços para que a ninguém falte, em quantidade e qualidade, o alimento necessário.
O Papa recordou os avanços, no século XXI, nos campos da tecnologia e da ciência e falou da vergonha em não se registrar avanços idênticos em humanidade e solidariedade que buscam satisfazer as necessidades primárias dos mais desfavorecidos. Nesse sentido, frisou a necessidade de passar à ação, de modo a fazer desaparecer completamente o flagelo da fome, o que requer políticas de cooperação orientadas para as necessidades concretas dos indigentes.
“O futuro não habita nas nuvens, mas constrói-se suscitando e acompanhando processos de maior humanização. Podemos sonhar um futuro sem fome, mas isso só é legítimo se nos envolvermos em processos tangíveis, relações vitais, planos operativos e compromissos reais”.
Agir de modo urgente
Francisco destacou positivamente a Agenda 2030, com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e Fome Zero, mas afirmou que é preciso agir de modo urgente, coordenado e sistemático.
“Os pobres não podem esperar; não o permite a sua situação calamitosa (…) Sabemos que é necessário harmonizar uma dupla via de atenção, ou seja, ações a longo prazo e a curto prazo, para enfrentar as condições concretas daqueles que, hoje, padecem as dilacerantes e pungentes aguilhoadas da fome e da malnutrição”, disse.
Nesse sentido, o Santo Padre enfatiza que é fundamental que as prioridades e medidas contidas nos grandes programas se enraízem e difundam por toda a parte, a fim de que não haja dissociações, mas todos aceitem o desafio de combater a fome e a miséria de forma séria e compartilhada.
“Querer” acabar com a fome
O Papa lamentou que, muitas vezes surgem “enormes obstáculos” na solução dos problemas, fruto de indecisões ou atrasos, com a falta de determinação dos responsáveis políticos, muitas vezes mergulhados apenas em interesses eleitorais ou insidiados por opiniões vesgas, perentórias ou mesquinhas, e defendeu que é preciso “querer de verdade” acabar com a fome.
“Falta realmente vontade política. É preciso querer de verdade acabar com a fome, mas isto não acontecerá se, em última instância e antes de tudo, não houver a convicção ética, comum a todos os povos e às diferentes visões religiosas, que coloca no centro de qualquer iniciativa o bem integral da pessoa e que consiste em fazer ao outro aquilo que gostaríamos que nos fosse feito a nós. Trata-se de uma ação fundada na solidariedade entre todas as nações e de medidas que traduzam o sentir da população”.
Por fim, Francisco defendeu que é necessário superar uma abordagem reativa, para passar a uma visão proativa, e para isso, é preciso que a sociedade civil organizada, os meios de comunicação e as instituições educacionais unam as suas forças na justa direção.
E destacou que a Igreja Católica combate diariamente no mundo inteiro contra a fome e a malnutrição, de múltiplas formas e através das suas variadas estruturas e associações.
“Aqueles que sofrem a miséria não são diferentes de nós. Têm a mesma carne e sangue que nós. Por isso, merecem que uma mão amiga os socorra e ajude, de modo que ninguém seja deixado para trás e, no nosso mundo, a fraternidade tenha direito de cidadania e seja algo mais que um slôgane sugestivo, sem consistência real”.