Francisco celebrou nesta quinta-feira, 22, uma missa por ocasião da 21a Assembleia Geral da Caritas Internationalis
Julia Beck
Da redação
A Caritas Internationalis iniciou nesta quinta-feira, 22, sua 21a Assembleia Geral com uma missa presidida pelo Papa Francisco, no Vaticano. A celebração, que foi concelebrada pelo presidente da Caritas Internationalis, o arcebispo de Manila (Filipinas), cardeal Luis Antonio Tagle; contou com a participação de representantes das 164 organizações da confederação existentes no mundo. Aos presentes, o Santo Padre exortou: “peçamos a graça de aceitar o caminho indicado pela palavra de Deus: humildade, comunhão e renúncia”.
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O texto retirado do livro dos Atos dos Apóstolos (At 15, 7 – 21), e que foi a primeira leitura da celebração desta quinta-feira, 23, foi o ponto de partida da homilia do Pontífice. A escritura narra o que Francisco considerou o primeiro grande encontro da história da Igreja, quando os pagãos chegaram a fé. A adaptação dos pagãos é uma decisão a ser tomada, enquanto surgem perguntas como: Jesus deixou uma sugestão para resolver esta primeira discussão? Por que Jesus não tinha dado regras claras e rapidamente resolutivas?
“Esta é a tentação do eficientismo, pensar que a Igreja está bem se tem tudo sob controle, se vive sem choques, com a agenda sempre em ordem, tudo regulado, é a tentação também da casuística. O Senhor não procede assim, na verdade, não envia do céu uma resposta, não responde, mas envia o Espírito Santo e o Espírito não vem carregando a agenda, vem como fogo. Jesus não quer que a Igreja seja um ‘modelinho’ perfeito, que se agrada com sua organização, e é capaz de defender o seu bom nome. Pobres Igrejas particulares que trabalham tanto nas suas organizações, planos, para ter tudo claro e distribuído, faz sofrer. Jesus não viveu assim, mas viveu em caminho, sem temer os choques da vida”, refletiu o Santo Padre.
O Papa aponta o evangelho como um programa de vida. “Ali tem tudo”, classifica. Segundo o Pontífice, o evangelho ensina que as questões não se enfrentam com uma receita pronta, e que a fé não é um roteiro, e sim um caminho que deve ser percorrido junto aos outros, com espírito de confiança. Francisco afirmou então que na narração de Atos dos Apóstolos, é possível aprendem três elementos essenciais para uma Igreja em caminho: humildade, escuta e renúncia.
Sobre a coragem da renúncia, o Santo Padre sublinha que não é impor algo novo, mas deixar algo de velho. “Esses primeiros cristãos não abandonaram coisas do nada, tratava-se de tradições importantes e preceitos religiosos caros ao povo eleito. A identidade religiosa estava em jogo, e no entanto, eles escolheram que o Anúncio do Senhor vem primeiro e vale mais do que qualquer coisa, pelo bem da missão, e para anunciar a todos de modo transparente e credível que Deus é amor. Mesmo aquelas convicções e tradições humanas que são mais obstáculo do que uma ajuda, podem e devem ser deixadas para trás”, alertou.
“Coragem, coragem de deixar”, foi o que pediu o Papa. O Pontífice revelou aos fiéis ser preciso redescobrir, junto aos outros, a beleza da renúncia individual. “São Pedro diz que o Senhor purificou os corações com fé. Deus purifica, simplifica, muitas vezes nos faz crescer removendo, não acrescentando – como faríamos nós. A verdadeira fé nos purifica dos apegos. Para seguir o Senhor é preciso caminhar rápido, e para caminhar rápido é preciso ficar mais leve, mesmo que isso custe. Como igreja não somos chamados a compromissos corporativos, mas a impulsos evangélicos. Ao nos purificarmos e reformarmos, devemos evitar a hipocrisia, isto é, fingir mudar algo, para que na realidade, nada mude”, refletiu.
Francisco pediu que os primeiros cristãos fossem vistos e interpretados: “chegaram à coragem da renúncia, partindo da humildade da escuta”. De acordo com o Santo Padre, os primeiros cristãos exercitaram-se no desinteresse de si mesmos quando deixaram falar o outro, se mostraram disponíveis para mudar suas próprias convicções, souberam escutar e aumentaram o interesse sobre os outros e o desinteresse sobre eles mesmos.
“A humildade nasce quando antes de falar, você escuta. Quando deixa de estar no centro, depois cresce através das humilhações. É a estrada do serviço humilde que percorreu Jesus. Nessa estrada de caridade, o Espírito desce e orienta. Para quem quer percorrer os caminhos da humildade e da escuta, significa ouvidos para os pequenos. (…) É sempre importante escutar a voz de todos, especialmente a dos pequenos e dos últimos. No mundo, quem tem mais meios fala demais, mas entre nós não pode ser assim porque Deus ama se revelar através dos pequenos e dos últimos”, comentou o Pontífice. Enquanto falava sobre humildade, o Santo Padre advertiu os cristãos: “Não olhar ninguém de cima para baixo. Somente é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo quando for para ajudá-la a se levantar, é a única vez”.
Outro pedido do Papa é o da escuta da vida. “A Igreja discerne não diante do computador, mas diante da realidade das pessoas. Se discutem ideias, mas as situações precisam ser discernidas, pessoas antes dos programas, com olhar humilde de quem sabe buscar nos outros a presença de Deus que não vive na grandeza que fazemos, mas na pequenez dos pobres que encontramos. Se não olhamos diretamente para eles [pobres] acabamos sempre olhando para nós mesmos e os tornamos instrumentos de nossa autoafirmação. Usamos os outros”, sublinhou.
Antes dos valores da humildade, escuta e renúncia, Francisco afirmou que tudo passa pelo carisma do conjunto: “A unidade prevalece sempre sobre as diferenças”. O Santo Padre continuou: “Ninguém sabia tudo, ninguém tinha o conjunto dos carismas, mas cada um se agarrava ao conjunto dos carismas (…). Qual era o segredo daqueles cristãos? Tinham sensibilidade e orientações diferentes, haviam também personalidades fortes, mas havia a força de amar uns aos outros no Senhor (…). Enquanto as vozes do diabo e do mundo levam à divisão, a voz do Bom Pastor forma um único rebanho, e assim a comunidade fundada sobre a palavra de Deus permanece no Seu amor”.
“‘Permanecei no meu amor’, é isso que Jesus pede no evangelho e como se faz? Devemos estar perto dEle!”, frisou o Pontífice, que completou: “Jesus pede que permaneçamos nEle, não nas nossas ideias, mas que saíamos da pretensão de controlar e gerir, que confiemos no outro e nos entreguemos ao outro. Peçamos ao Senhor que nos liberte do eficientismo, da mundaneidade, da sútil tentação de adorarmos a nós mesmos, as nossas habilidades, a organização”.
Criação artística da Cáritas
Na manhã desta quinta-feira, 23, autoridades da Cáritas apresentaram na Sala de Imprensa da Santa Sé uma criação artística intitulada “O futuro fazemos nós, por isso compartilhe a viagem”. A criação é uma colagem interativa com fotos de refugiados, migrantes e pessoas que trabalham em prol da causa. A 21a Assembleia Geral da Caritas Internationalis será encerrada na próxima terça-feira, 28 de maio.