Francisco visitou mesquita na Indonésia para encontro inter-religioso e assinou declaração conjunta para promoção da harmonia religiosa em prol da humanidade
Da Redação, com Vatican News
O primeiro compromisso do Papa Francisco nesta quinta-feira, 5, foi um encontro inter-religioso. O Pontífice visitou a Mesquita Istiqlal, em Jacarta, e foi recebido pelo Grande Imã, Nasaruddin Umar.
O templo visitado pelo Santo Padre é a maior mesquita do sudeste asiático. Lá, ele fez um discurso e assinou a Declaração Conjunta de Istiqlal 2024, que destaca que os valores comuns a todas as tradições religiosas devem ser efetivamente promovidos para “derrotar a cultura da violência e da indiferença” e promover a reconciliação e a paz.
Em sua chegada, Francisco citou o Túnel da Amizade que liga a Mesquita à Catedral de Nossa Senhora da Assunção, símbolo de fraternidade entre as religiões. “Perante tantos sinais de ameaça, face aos tempos sombrios, contrapomos o sinal da fraternidade que, acolhendo o outro e respeitando a sua identidade, o incentiva a percorrer um caminho comum, feito de amizade e rumo à luz”, expressou.
Na sequência, a recitação de um trecho do Alcorão e a leitura de um texto do Evangelho introduziram o encontro. Em seu discurso, o Papa agradeceu ao Grande Imã por sua cordialidade e hospitalidade, e afirmou que o local de culto e oração é “uma grande casa para a humanidade”, onde as pessoas podem recordar o “anseio pelo infinito” que carregam em seus corações e a necessidade de “buscar um encontro com o divino e experimentar a alegria da amizade com os outros”.
Olhar com profundidade para anseios em comum
O Pontífice também falou sobre o “grande dom” dos indonésios em seu trabalho de promover o “diálogo, o respeito mútuo e a convivência harmoniosa entre religiões e diferentes sensibilidades espirituais”. Ele os encorajou a cultivar esse dom todos os dias, “para que as experiências religiosas possam ser pontos de referência para uma sociedade fraterna e pacífica”.
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Segundo Francisco, cada um, em sua própria jornada espiritual, deve “caminhar em busca de Deus e contribuir para construir sociedades abertas, fundadas no respeito recíproco e no amor mútuo, capazes de se proteger contra a rigidez, o fundamentalismo e o extremismo, que são sempre perigosos e nunca justificáveis”.
No “caminho comum da amizade”, observou o Papa, é preciso “sempre olhar com profundidade” para que seja possível realmente encontrar “o que nos une, apesar de nossas diferenças”.
“A raiz comum a todas as sensibilidades religiosas é uma só: a procura de um encontro com o divino, a sede de infinito que o Altíssimo colocou no nosso coração, a busca de uma alegria maior e de uma vida mais forte do que qualquer morte, que anima o caminho da nossa existência e nos impele a sair de nós mesmos para ir ao encontro de Deus”, manifestou o Pontífice.
Preservar laços de amizade
Ele enfatizou que, ao olhar mais profundamente para a vida, os homens podem, à luz da comum “sede do infinito”, descobrir como são todos irmãos, “todos peregrinos, todos a caminho de Deus, além do que nos diferencia”. Neste sentido, o Santo Padre reiterou a importância de preservar os laços de amizade, concentrando-se naquilo que une a todos em meio à riqueza da diversidade, como a defesa da dignidade humana, a ajuda aos pobres, a promoção da paz e a proteção do meio ambiente.
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Concluindo seu discurso, Francisco sublinhou que “promover a harmonia religiosa em prol da humanidade” é o chamado comum aos homens e o título da declaração conjunta que foi assinada. Ao promover efetivamente os valores comuns a todas as tradições religiosas, a humanidade pode trabalhar para “derrotar a cultura da violência e da indiferença e promover a reconciliação e a paz”, finalizou.
Sobre a Declaração Conjunta de Istiqlal
A Declaração Conjunta de Istiqlal tem como ponto de partida duas graves crises vividas pelo mundo contemporâneo: “a desumanização e a mudança climática”. Ela observa que “a religião é, frequentemente, instrumentalizada”, causando sofrimento a muitos em um mundo cada vez mais marcado pelas violências.
Diante disso, o documento reitera que o papel das religiões deve “incluir a promoção e a salvaguarda da dignidade de toda vida humana”, não o contrário. Ao mesmo tempo, denuncia o abuso da criação com “consequências destrutivas como os desastres naturais” e o aquecimento global que fazem da crise ambiental “um obstáculo à coexistência harmoniosa dos povos”.
O texto indica, portanto, quais respostas as religiões, por meio de um compromisso comum, podem dar a essas graves crises de nosso tempo. O Papa e o Grande Imã insistem em direcionar os valores religiosos “para a promoção de uma cultura de respeito, dignidade, compaixão, reconciliação e solidariedade fraterna para superar tanto a desumanização quanto a destruição ambiental”.
“Como existe uma única família humana global”, diz a Declaração, “o diálogo inter-religioso deveria ser reconhecido como uma ferramenta eficaz para a resolução de conflitos locais, regionais e internacionais, especialmente aqueles causados pelo abuso da religião”. Assim, o documento é concluído com um apelo a todas as pessoas de boa vontade para que “preservem a integridade do ecossistema” a fim de transmitir os recursos herdados às gerações futuras.