Em missa pelas almas dos bispos e cardeais falecidos, Francisco exortou os fiéis a se converterem e crerem na ressurreição diante do enigma da morte
Julia Beck
Da redação
“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais” (João 11,25-26). Esse trecho do Evangelho de São João norteou a homilia do Papa Francisco nesta quinta-feira, 5. A celebração foi dedicada à memória dos 150 bispos e cardeais falecidos no último ano.
Segundo o Pontífice, a frase dita por Jesus a Marta pode ser vista como uma autorrevelação, pois suas palavras prevalecem sobre a escuridão e o grave luto causado pela morte de Lázaro. Marta, recordou o Santo Padre, professa sua fé quando afirma: “Eu creio firmemente que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que deve vir ao mundo” (João 11,27). “A esperança de Marta se desloca para o presente. A ressurreição já está perto dela, presente na pessoa de Cristo”, complementou.
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Jesus chama homens e mulheres a crerem na ressurreição não como uma miragem, mas como um acontecimento presente que já os toca, afirmou o Papa. A esperança do cristão, observou Francisco, não dissimula a desolação que se sente humanamente diante da morte.
“O próprio Jesus ao ver as irmãs de Lázaro chorando, não escondeu sua comoção – como descreve São João, Ele começou a chorar. Solidário conosco em tudo, menos no pecado, também experimentou o luto e a amargura das lágrimas diante da perda de uma pessoa querida”, destacou o Pontífice.
O Santo Padre disse que o choro de Jesus não diminui a luz da verdade que emana da sua revelação e que se faz presente na ressurreição de Lázaro. “Neste dia, portanto, é a nós que o Senhor repete: ‘Eu sou a ressurreição e a vida’. Ele nos chama a renovar o grande salto da fé, entrando desde agora à luz da ressurreição”.
Ao afirmar que todo aquele que vive e crê n’Ele não morrerá para sempre, Jesus questiona Marta: “Crês nisto?”. Acreditar nas palavras de Cristo muda a forma de homens e mulheres verem as coisas. O Papa destacou que o olhar da fé vê o invisível e faz com que cada acontecimento seja avaliado sob outra dimensão, a da eternidade.
Ao recordar o livro bíblico da Sabedoria, o Pontífice afirmou que, na perspectiva da fé, a morte não aparece como uma desgraça, mas como um ato providencial do Senhor, cujo pensamentos não coincidem com os pensamentos humanos. “Segundo a perspectiva de Deus, uma verdadeira velhice é uma vida imaculada. Os desígnios amorosos de Deus sobre os seus escolhidos escapam à realidade mundana”.
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Diante da oração pelos cardeais e bispos falecidos no último ano, o Papa exortou os fiéis a pedirem ao Senhor que ajude todos a considerarem corretamente a sua parábola existencial. “Pedimos para dissolver esta tristeza negativa que, às vezes, se apodera de nós como se tudo acabasse com a morte. Trata-se de um pensamento distante da fé que vem se juntar ao medo humano de ter que morrer e que ninguém pode considerar-se totalmente imune”, refletiu.
Francisco defendeu que, perante o enigma da morte, os cristãos devem converter-se. “Diariamente somos chamados a ir mais além da imagem que instintivamente temos de que a morte é a aniquilação total de uma pessoa, transcender a aparência visível dos pensamentos prefixados e óbvios, às opiniões comuns, para confiarmos plenamente no Senhor que declara: ‘Eu sou a ressurreição e a vida’”.
As palavras de autorrevelação de Jesus, se acolhidas com fé – sublinhou o Santo Padre, fazem com que as orações aos falecidos sejam verdadeiramente cristãs e permitem que todos tenham uma visão verídica da existência, compreendendo o sentido e o valor do bem que os mortos realizaram, do serviço que executaram de forma altruísta e compreender o que significa viver aspirando, não a uma pátria terrena, mas a uma melhor, isto é, a pátria celeste.
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“Recordemos com gratidão o testemunho dos cardeais e bispos falecidos que viveram a fidelidade à vontade divina. Rezemos por eles procurando seguir o seu exemplo. Que o Senhor derrame sempre o seu espírito de sabedoria sobre nós, particularmente neste tempo de provação, sobretudo nessas horas que o caminho se torna mais difícil, Ele não nos abandona e permanece conosco, fiel à sua promessa: “Eu estarei sempre convosco até o fim dos tempos” (Mt 28,20).