Seguindo no ciclo de catequeses sobre a velhice, Francisco frisou a importância do testemunho dos idosos para as crianças, acreditando ser essa a aliança que salvará a família humana
Da redação, com Vatican News
Na catequese desta quarta-feira, 17, o Papa Francisco, de uma forma quase poética, falou da aliança entre os idosos e as crianças, aliança essa que salvará a família humana. O Santo Padre está em suas últimas catequeses sobre a velhice.
A reflexão foi inspirada no sonho profético de Daniel, que evocou uma visão de Deus misteriosa e, ao mesmo tempo, esplêndida, retomada no início do livro do Apocalipse. A passagem se refere a Jesus Ressuscitado, que aparece ao Vidente como Messias, Sacerdote e Rei, eterno, onisciente e imutável. Na aparição, lhe diz: “Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos”. Com isso, o Papa didaticamente explicou que a ultima barreira do temor e a angústia que a revelação de Deus sempre despertou foi sanada. “O que vive nos tranquiliza”.
O Pontífice buscou explicar para os fiéis a ligação da revelação de Deus com o ciclo da vida, o tempo da história, o senhorio de Deus sobre o mundo criado. Acredita que este aspecto tem a ver precisamente com a velhice.
De fato, explicou, “a visão transmite uma impressão de vigor e força, nobreza, beleza e encanto. O vestido, os olhos, a voz, os pés, tudo é esplêndido. Seus cabelos, porém, são cândidos: como a lã, como a neve. Como os de um idoso”.
A figura do Ancião
O termo bíblico mais comum para indicar ancião, acrescentou, é “zaqen”, de “zaqan”, que significa “barba”. “O cabelo branco é o símbolo antigo de um tempo muito longo, de um passado imemorável, de uma existência eterna. Não devemos desmitificar tudo para as crianças: a imagem de um Deus idoso com cabelos brancos não é um símbolo bobo, é uma imagem bíblica, nobre e também terna. A figura que no Apocalipse está entre os castiçais de ouro se sobrepõe à do “Antigo dos dias” da profecia de Daniel. É velho quanto toda a humanidade, e ainda mais. É antigo e novo como a eternidade de Deus.”
O costume oriental
O Santo Padre recordou que, nas Igrejas Orientais, a festa do Encontro com o Senhor, que se celebra em 2 de fevereiro, é uma das doze grandes festas do ano litúrgico. Ela destaca o encontro entre a humanidade, representada pelos idosos Simeão e Ana, com Cristo, o Senhor, o Filho eterno de Deus feito homem. “Um belo ícone dele pode ser admirado em Roma nos mosaicos de Santa Maria in Trastevere”.
Na liturgia bizantina, o bispo reza com Simeão: ‘Este é Aquele que nasceu da Virgem: é o Verbo, Deus de Deus, Aquele que se fez carne para nós e salvou o homem’. E continua: “Que se abra hoje a porta do céu: o Verbo eterno do Pai, tendo assumido um princípio temporal, sem deixar sua divindade, e apresentou por sua vontade ao templo da Lei pela Virgem Mãe, e o ancião o toma em seus braços”.
Francisco recordou ainda as palavras que o bispo reza com Simeão na liturgia bizantina, que expressam a profissão de fé dos quatro primeiros Concílios Ecumênicos, que são sagrados para todas as Igrejas. Mas, “o gesto de Simeão é também o mais belo ícone da especial vocação da velhice: apresentar as crianças que vêm ao mundo como um dom ininterrupto de Deus, sabendo que uma delas é o Filho gerado na intimidade mesma de Deus, antes de todos os séculos”.
O Santo Padre afirmou que a velhice, quando encaminhada em direção a um mundo no qual finalmente poderá irradiar-se, sem obstáculos, o amor que Deus colocou na Criação, deve realizar este gesto de Simeão e de Ana, antes de partir. “A velhice deve dar testemunho às crianças da sua bênção: ela consiste na sua iniciação, bela e difícil, ao mistério de um destino à vida que ninguém pode aniquilar. Nem mesmo a morte”.
O testemunho credível
O Pontífice ainda refletiu que o testemunho dos idosos é credível para as crianças. “Os jovens e os adultos não são capazes de torná-lo tão autêntico, tão terno, tão pungente, como os idosos podem”.
Por fim, explicou que a pessoa idosa abençoa a vida que lhe vem ao encontro, deixando de lado todo o ressentimento pela vida que está partindo. “O testemunho dos idosos une as idades da vida e as próprias dimensões do tempo: passado, presente e futuro. É doloroso e prejudicial, ver que as idades da vida são concebidas como mundos separados, em competição entre elas, cada um tentando viver às custas do outro. A humanidade é antiga, muito antiga, se olharmos para o tempo do relógio. Mas o Filho de Deus, que nasceu de uma mulher, é o Primeiro e o Último de todos os tempos. Isso significa que ninguém fica fora de sua eterna geração, fora de sua maravilhosa força, fora de sua proximidade amorosa”, disse Francisco.
No final da Audiência o Pontífice pediu que as crianças fossem devolvidas ao aprendizado do testemunho dos idosos que possuem a sabedoria de morrer. “Esta humanidade, que com todo seu progresso nos parece como um adolescente nascido ontem, será capaz de reavivar a graça de uma velhice que mantém firme o horizonte do nosso destino? A morte é certamente uma passagem difícil na vida: mas também a passagem que encerra o tempo da incerteza e joga fora o relógio. Pois a beleza da vida, que não tem mais uma data de expiração, começa precisamente ali”.