Em seu primeiro discurso, em Verona, o Papa destacou que o fundamento da consagração e do ministério é “acolher o chamado recebido, acolher o dom com que Deus nos surpreendeu”
Da redação, com Vatican News
Neste sábado, 18, o Papa Francisco realiza uma visita pastoral à cidade de Verona, situada no norte da Itália. O Santo Padre chegou à cidade por volta das 08h (hora local – 03h horário de Brasília) e transferiu-se imediatamente para o primeiro compromisso na Basílica de São Zeno, onde encontrou-se com sacerdotes e consagrados.
Em seu discurso, o primeiro de sua visita, Francisco manifestou satisfação por estar ali com os sacerdotes e religiosos, e apreciar o esplêndido teto da basílica que faz pensar “numa grande barca, a barca do Senhor que navega no mar da história para levar a todos a alegria do Evangelho”.
Essa imagem evangélica levou Francisco a refletir sobre duas coisas: acolher o chamado recebido e cumprir a missão com audácia.
Não perder a maravilha do chamado
O Papa recordou que na origem da vida cristã está a experiência do encontro com o Senhor, que “não depende de nossos méritos ou de nosso compromisso, mas do amor com que Ele vem nos procurar, batendo à porta de nosso coração e nos convidando a uma relação com Ele”.
E afirmou: “Queridos irmãos sacerdotes, queridas religiosas e religiosos: nunca percamos a maravilha do chamado! O primeiro fundamento da nossa consagração e do nosso ministério é acolher o chamado recebido, acolher o dom com que Deus nos surpreendeu.”
Francisco explicou que, quando perde-se esta consciência e esta memória do chamado, a pessoa corre o risco de se colocar no centro, ao invés do Senhor. “Corremos o risco de nos agitar em torno de projetos e atividades que servem mais às nossas causas do que às do Reino; corremos também o risco de viver o apostolado na lógica da autopromoção e da busca de consensos, em vez de gastar a vida pelo Evangelho e pelo serviço gratuito à Igreja”.
E completou: “Foi Ele quem nos escolheu: se nos lembrarmos disto, mesmo quando sentimos o peso do cansaço e de alguma desilusão, permaneceremos serenos e confiantes, certos de que Ele não nos deixará de mãos vazias”.
O Papa ressaltou ainda que, assim como os pescadores são formados na paciência, também cada pessoa, no meio dos complexos desafios destes tempos, é chamada a cultivar a atitude interior da espera, da paciência, bem como a capacidade de enfrentar os imprevistos, as mudanças e os riscos associados à sua missão.
“Podemos fazê-lo porque na origem do nosso ministério está o seu chamado, e Ele não nos deixará sozinhos. Podemos lançar a rede e esperar com confiança. Isto nos salva, mesmo nos momentos mais difíceis; portanto, lembremo-nos do chamado, acolhamo-lo todos os dias e permaneçamos com o Senhor”.
Cumprir a missão com audácia
Quando a experiência de permanecer com o Senhor está bem enraizada em nós, então poderemos cumprir a missão com audácia, um dom bem conhecido pela Igreja em Verona.
“Com efeito, se há uma característica dos sacerdotes e dos religiosos veroneses, é precisamente a de serem empreendedores, criativos, capazes de encarnar a profecia do Evangelho. Trata-se de uma iniciativa que marcou a sua história”, disse o Papa, recordando a “marca deixada por tantos sacerdotes, religiosos e leigos no século XIX, que hoje podemos venerar como Santos e Beatos. Testemunhas da fé que souberam unir o anúncio da Palavra ao serviço generoso e compassivo aos necessitados, com uma “criatividade social” que fez nascer escolas de formação, hospitais, casas de repouso, casas de acolhimento e locais de espiritualidade”. Eles foram capazes de “ir ao encontro das necessidades dos marginalizados e dos mais pobres e cuidar de suas feridas. Uma fé que se traduziu na audácia da missão”.
Francisco afirmou que também hoje é necessária a audácia do testemunho e do anúncio, da alegria de uma fé ativa na caridade, da desenvoltura de uma Igreja que sabe captar os sinais do nosso tempo e responder às necessidades de quem mais precisa.
“Repito: devemos levar a todos a carícia da misericórdia de Deus, especialmente a quem tem sede de esperança, a quem se vê obrigado a viver à margem, ferido pela vida, ou por algum erro cometido, ou pelas injustiças da sociedade, que sempre vem em detrimento dos mais frágeis.”
Ser audaciosos na missão
“A audácia de uma fé ativa na caridade, vocês a herdaram de sua história”, disse ainda o Papa, convidando os sacerdotes e consagrados veroneses a não cederem ao desânimo: “Sejam audaciosos na missão, saibam ainda hoje ser uma Igreja que está próxima, que cura as feridas, que testemunha a misericórdia de Deus”.
O Papa explicou que é desta maneira que a barca do Senhor, no meio das tempestades do mundo, pode salvar muitos que, de outra forma, correm o risco de naufragar. “As tempestades, como sabemos, não faltam nos nossos dias; muitas delas têm suas raízes na avareza, na ganância, na busca desenfreada de satisfazer o próprio eu e se alimentam de uma cultura individualista, indiferente e violenta.”
Por fim, Francisco agradeceu aos sacerdotes e religiosos por entregarem “suas vidas ao Senhor e pelo seu compromisso com o apostolado”. “Sigamos em frente com coragem! Temos a graça e a alegria de estarmos juntos no navio da Igreja, entre horizontes maravilhosos e tempestades alarmantes, mas sem medo, porque o Senhor está sempre conosco, e é Ele quem tem o leme, quem nos guia, quem nos sustenta”, concluiu.