Confira a íntegra da saudação de Francisco, por ocasião da oração do Pai Nosso, realizada na Nova Catedral Ortodoxa de Bucareste
Da redação, com Vatican News
Na Romênia, nesta que marca a 30ª viagem apostólica internacional de seu pontificado, o Papa Francisco saudou os fiéis cristãos ortodoxos e católicos e rezou com eles a oração do Pai Nosso, na Nova Catedral Ortodoxa de Bucareste.
O tema desta viagem papal atende por “Caminhemos Juntos”. A Romênia é um país de maioria ortodoxa cristã (86% da população) e com uma minoria católica (cerca de 7%). Esta é a primeira vez que Francisco visita o país.
Confira, a seguir, a íntegra do texto da saudação do Pai Nosso do Sucessor de Pedro, neste primeiro dia de sua viagem à Romênia:
Nova Catedral Ortodoxa, Bucareste
Beatitude, irmãos querido; amados irmãos e irmãs!
“Quero expressar a gratidão e emoção que sinto por me encontrar neste templo sagrado, que nos congrega em unidade. Jesus convidou os irmãos André e Pedro a deixar as redes, para se tornarem, juntos, pescadores de homens (cf. Mc 1, 16-17). A vocação pessoal não está completa sem a do irmão. Hoje queremos elevar um ao lado do outro, do coração do país, a oração do Pai-Nosso. Nela se encerra a nossa identidade de filhos e hoje, de modo particular, a de irmãos que rezam um ao lado do outro. A oração do Pai-Nosso contém a certeza da promessa feita por Jesus aos seus discípulos: «Não vos deixarei órfãos» (Jo 14, 18) e dá-nos a confiança para receber e acolher o dom do irmão. Por isso, gostaria de partilhar algumas palavras introdutórias à oração, que rezarei pelo nosso caminho de fraternidade e pela Romênia para que possa ser sempre casa de todos, terra de encontro, jardim onde florescem a reconciliação e a comunhão.
Sempre que dizemos «Pai-Nosso», reafirmamos que a palavra Pai não pode subsistir sem dizer nosso. Unidos na oração de Jesus, unimo-nos também na sua experiência de amor e intercessão, que nos leva a dizer: Pai meu e Pai vosso, Deus meu e Deus vosso (cf. Jo 20, 17). É convite para que o «meu» se transforme em nosso, e o nosso se faça oração. Ajudai-nos, Pai, a levar a sério a vida do nosso irmão, a assumir a sua história. Ajudai-nos a não julgar o irmão pelas suas ações e os seus limites, mas aceitá-lo antes de mais nada como vosso filho. Ajudai-nos a vencer a tentação de nos sentirmos o filho mais velho, que, à força de estar no centro, esquece o dom do outro (cf. Lc 15, 25-32).
A Vós, que estais nos céus ― os céus que abraçam a todos e onde fazeis nascer o sol para os bons e os maus, para os justos e os injustos (cf. Mt 5, 45) ―, pedimos a concórdia que não soubemos guardar na terra. Pedimo-la pela intercessão de tantos irmãos e irmãs na fé que moram juntos no vosso céu, depois de ter acreditado, amado e sofrido muito ― mesmo em nossos dias ― pelo simples facto de serem cristãos.
Como eles, também nós queremos santificar o vosso nome, colocando-o no centro de todos os nossos interesses. Que seja o vosso nome, Senhor, – e não o nosso – a mover-nos e despertar-nos para o exercício da caridade. Ao rezar, quantas vezes nos limitamos a pedir dons e enumerar pedidos, esquecendo que a primeira coisa a fazer é louvar o vosso nome, adorar a vossa pessoa, para depois reconhecer, na pessoa do irmão que colocastes junto de nós, o vosso reflexo vivo. No meio de tantas coisas que passam e pelas quais nos afadigamos, ajudai-nos, Pai, a procurar aquilo que permanece: a presença vossa e a do irmão.
Estamos à espera que venha o vosso reino: pedimo-lo e desejamo-lo porque vemos que as dinâmicas do mundo não o favorecem. Dinâmicas guiadas pelas lógicas do dinheiro, dos interesses, do poder. Enquanto nos encontramos mergulhados num consumismo cada vez mais desenfreado, que cega com fulgores cintilantes mas efêmeros, ajudai-nos, Pai, a crer naquilo que rezamos: renunciar às seguranças cômodas do poder, às seduções enganadoras da mundanidade, à vazia presunção de nos crermos autossuficientes, à hipocrisia de cuidar das aparências. Assim, não perderemos de vista aquele Reino a que Vós nos chamais.
Seja feita a vossa vontade, não nossa. E a vontade de Deus é que todos se salvem (cf. 1 Tim 2, 4). Precisamos, Pai, de alargar os horizontes, a fim de não restringir dentro dos nossos limites a vossa misericordiosa vontade salvífica, que quer abraçar a todos. Ajudai-nos, Pai, enviando-nos ― como no Pentecostes ― o Espírito Santo, autor da coragem e da alegria, para que nos incite a anunciar a boa nova do Evangelho para além das fronteiras das nossas afiliações, línguas, culturas, nações.
Diariamente temos necessidade d’Ele, pão nosso de cada dia. Ele é o pão da vida (cf. Jo 6, 35.48), que nos faz sentir filhos amados e sacia toda a nossa solidão e orfandade. Ele é o pão do serviço: repartindo-Se aos pedaços para Se fazer nosso servo, pede-nos para servirmos uns aos outros (cf. Jo 13, 14). Pai, ao mesmo tempo que nos dais o pão de cada dia, alimentai em nós a nostalgia do irmão, a necessidade de o servir. Ao pedir o pão de cada dia, suplicamo-Vos também o pão da memória, a graça de reforçar as raízes comuns da nossa identidade cristã, raízes indispensáveis num tempo em que a humanidade, particularmente as gerações jovens, correm o risco de se sentirem desenraizadas no meio de tantas situações líquidas, incapazes de fundamentar a existência. O pão que pedimos, com a sua longa história que vai do grão semeado à espiga, da ceifa à mesa, inspire em nós o desejo de ser cultivadores de comunhão pacientes, que não se cansam de fazer germinar sementes de unidade, fermentar o bem, atuar sempre lado a lado com o irmão: sem suspeitas nem distanciamentos, sem forçar nem nivelar, na convivência das diferenças reconciliadas.
O pão que hoje pedimos é também aquele de que muitos carecem todos os dias, enquanto poucos o têm de sobra. O Pai-Nosso não é oração que nos acomoda, é grito perante as carestias de amor do nosso tempo, perante o individualismo e a indiferença que profanam o vosso nome, Pai. Ajudai-nos a ter fome de nos doarmos. Sempre que rezarmos, lembrai-nos que, para viver, não precisamos de nos poupar, mas de nos repartir em pedaços; de partilhar, não de acumular; de matar a fome aos outros mais do que encher-nos a nós mesmos, porque o bem-estar só é digno deste nome quando pertence a todos.
Cada vez que rezamos, pedimos para nos serem perdoadas as nossas ofensas. É preciso coragem para isso, já que simultaneamente nos comprometemos a perdoar a quem nos tem ofendido. Temos, pois, de encontrar a força para perdoar do íntimo do coração ao irmão (cf. Mt 18, 35), como Vós ― Pai ― perdoais os nossos pecados: deixar para trás o passado e abraçar, juntos, o presente. Ajudai-nos, Pai, a não ceder ao medo, nem ver um perigo na abertura; a ter a força de nos perdoarmos e prosseguir, a coragem de não nos contentarmos com a vida tranquila, mas de procurar sempre, com transparência e sinceridade, o rosto do irmão.
E quando o mal, deitado à porta do coração (cf. Gn 4, 7), nos induzir a fechar-nos em nós mesmos; quando a tentação de nos isolarmos se fizer mais forte, ocultando a substância do pecado, que é distância de Vós e do nosso próximo, ajudai-nos de novo, Pai. Encorajai-nos a encontrar, no irmão, aquele apoio que colocastes ao nosso lado a fim de caminharmos para Vós e, juntos, termos a ousadia de dizer: «Pai-Nosso». Amém.
E agora rezemos a oração que o Senhor nos ensinou…”
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