Magistrado será proclamado beato em cerimônia prevista para 9 de maio na província de Agrigento
Da redação, com Vatican News
Livro sobre juiz italiano vítima da máfia tem prefácio escrito pelo Papa Francisco. A obra é intitulada: “Rosario Angelo Livatino. Do ‘martírio seco’ ao martírio de sangue”.
A edição foi organizada por Vincenzo Bertolone, da Editora Morcelliana. O livro já está disponível em língua original italiana nas principais livrarias do país.
Prefácio do Papa
Na apresentação do livro, o Pontífice lembra que o juiz Livatino foi morto “tragicamente”. O assassinato ocorreu por sua “coerência cristã e profissional”, aponta o Santo Padre.
A autoria do crime é dos “homens das máfias que dominavam o território siciliano nos anos 80”. Francisco cita os grupos “Stidde e Cosa Nostra”. Segundo o Santo Padre, Livatino era “um justo que sabia que não merecia aquela morte injusta” comandada por mafiosos.
O assassinato, de acordo com o Papa, revela a negação intrínseca do Evangelho em todas as suas formas. Isso, “apesar da ostentação secular de santinhos, de estátuas sagradas forçadas a reverências desrespeitosas, de religiosidade ostentada tanto quanto negada”.
Exemplo para os magistrados
Por essa razão e pensando a figura do magistrado siciliano, o Papa reforça uma de suas falas sobre Livatino. Ela foi proferida na Sala Clementina, no Vaticano, em 29 de novembro de 2019:
“Livatino é um exemplo não só para os magistrados, mas para todos aqueles que trabalham no campo do Direito: pela coerência entre a sua fé e o seu compromisso de trabalho, e pela atualidade das suas reflexões”.
Referência luminosa para todos
Francisco, então, elenca algumas características espirituais de Rosario Livatino. Uma delas é a “fé que se torna a prática de justiça e que, portanto, faz o bem ao próximo”.
O magistrado, lembra ainda o Pontífice, desde que se formou em Direito, pensava na melhor maneira de desempenhar o papel de juiz. Também sofria com os julgamentos, porque, “ao mesmo tempo que tinha que julgar de acordo com a lei, como cristão, colocava-se o problema do perdão”.
Assim, o Papa afirma no prefácio: “Ao realizar um ato diário de total e generosa entrega a Deus, ele é um ponto de referência luminoso para os homens e mulheres de hoje e de amanhã”.
O exemplo de Livatino estende-se especialmente para os jovens que ainda estão sendo atraídos pelas sirenes mafiosas. A vida na máfia é de violência, corrupção, opressão e de morte.
“Que o seu testemunho martirial de fé e justiça seja uma semente de concórdia e de paz social, seja emblema da necessidade de nos sentir e de sermos todos irmãos, e não rivais ou inimigos”, escreve o Santo Padre.
Apelo de João Paulo II à concórdia
No prefácio, Francisco também recorda a visita de João Paulo II a Agrigento e outros lugares da Sicília em 1993. Na época, o santo pediu “concórdia” àquela terra.
“Concórdia sem mortes, sem assassinatos, sem medos, sem ameaças, sem vítimas! Que haja concórdia! Esta concórdia, esta paz à qual todos os povos, todos os seres humanos e todas as famílias aspiram!”, disse São João Paulo II.
Um direito para se viver em paz perturbado por “culpados”, ainda dizia o Papa polonês, “que carregam em suas consciências tantas vítimas humanas” e que “devem entender que pessoas inocentes não devem ser mortas!”.
“Deus disse uma vez: ‘Não matarás’: nenhum homem, nenhum aglomerado humano, nenhuma máfia pode mudar e pisotear esse direito santíssimo de Deus”.
Beatificação de Rosario Livatino
O Papa Francisco finaliza o prefácio esperando que “o bom cheiro de Cristo que se espalha do corpo martirizado do jovem juiz se torne, então, uma semente de renascimento” para todos.
O desejo de renascimento foi especialmente direcionado pelo Pontífice “para aqueles que ainda vivem situações de violência, guerras, atentados, perseguições por razões étnicas ou religiosas, e vários abusos contra a dignidade humana”.
Rosario Angelo Livatino vai ser proclamado beato em cerimônia prevista para 9 de maio na província de Agrigento.
O Santo Padre agradece o magistrado pelo exemplo deixado, por ter lutado todos os dias a boa batalha da fé com humildade, mansidão e misericórdia.
“Sempre e somente em nome de Cristo, sem nunca abandonar a fé e a justiça, nem mesmo na iminência do risco de morte. É essa a semente plantada, é esse o fruto que virá”, escreveu.