Na homilia da Solenidade da Epifania do Senhor, Francisco pediu aos fiéis que encontrem Jesus na inquietação que se interroga, no caminho e na adoração
Julia Beck
Da redação
Nesta quinta-feira, 6, a Igreja celebra a Solenidade da Epifania do Senhor. Na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, Cardeal Luís Antonio Tagle presidiu a celebração, enquanto o Papa Francisco realizou a homilia.
Em sua reflexão, o Santo Padre destacou que como uma estrela que surge (cf. Nm 24, 17), Jesus vem iluminar todos os povos e clarear as noites da humanidade. “Com os Magos, erguendo o olhar para o céu, hoje também nós nos perguntamos: ‘Onde está aquele que acaba de nascer?’ (Mt 2, 2). Por outras palavras, qual é o lugar onde podemos procurar e encontrar o Senhor nosso?”
Pela experiência dos Magos, Francisco afirmou que é possível elencar três ações a serem seguidas para encontrar Jesus: não deixar que se apague a inquietação que se interroga; não interromper o caminho e encontrar o Senhor, rendendo-se à maravilha da adoração.
Inquietação que se interroga
Ao comentar sobre a primeira ação a ser seguida, o Pontífice destacou que os sábios do Oriente ensinam que a fé é dom de Deus. “A sua graça ajuda-nos a despertar da apatia e a dar espaço às perguntas importantes da vida, perguntas que nos fazem sair da presunção de ter tudo em ordem, abrindo-nos para aquilo que nos supera”, comentou.
Habitados por uma profunda nostalgia do infinito, Francisco comentou que os Magos perscrutam o céu e deixam-se maravilhar pelo fulgor da estrela, representando assim a tensão para o transcendente que anima o caminho das civilizações e a busca incessante dos corações.
O Papa frisa que a estrela deixa no coração dos Magos a pergunta: “Onde está aquele que acaba de nascer?”. O Santo Padre reforça que o caminho da fé tem início quando muitos não se contentam com a tranquilidade de seus hábitos e decidem habitar em espaços incômodos da vida.
Francisco alertou para os “tranquilizantes da alma” que buscam acalmar a inquietude. De acordo com o Pontífice, produtos do consumismo, a busca incessante pelo prazer e a idolatria do bem-estar procuram fazer com que a humanidade não pense demais, mas procure gozar a vida. “Muitas vezes procuramos sistematizar o coração no cofre da comodidade, mas, se os Magos tivessem feito assim, nunca teriam encontrado o Senhor”, disse.
Não interromper o caminho
O segundo lugar onde é possível encontrar o Senhor é o caminho, indicou o Santo Padre. O Papa reforça que é preciso ir além da inquietação que se interroga e se colocar a caminho, dirigindo movimentos interiores para o rosto de Deus e a beleza da sua Palavra.
Francisco citou então o Papa Emérito – sepultado nesta quinta-feira, 5: “O peregrinar exterior [dos Magos] – disse Bento XVI – era expressão deste estar interiormente a caminho, da peregrinação interior do seu coração”
Os Magos, recordou o Pontífice, não se detêm a olhar o céu e contemplar a luz da estrela, eles estão a caminho. “A maior parte dos verbos que descrevem as suas ações são verbos de movimento. O mesmo vale para a nossa fé: sem um contínuo caminhar e um diálogo constante com o Senhor, sem escuta da Palavra, sem perseverança, aquela não pode crescer”.
“Não basta qualquer ideia sobre Deus nem qualquer oração que acalma a consciência; é preciso fazer-se discípulo seguindo Jesus e o seu Evangelho, falar de tudo com Ele na oração, procurá-Lo nas situações do dia a dia e no rosto dos irmãos”, refletiu.
Maravilha da adoração
Por fim, o Papa reforçou que após a inquietação que se interroga e o risco do caminho, o terceiro lugar onde encontrar o Senhor é a maravilha da adoração. Os Magos “viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-No” (Mt2, 11). Este é o ponto decisivo, indicou Francisco:
“As nossas inquietudes, as nossas perguntas, os caminhos espirituais e as práticas da fé devem convergir para a adoração do Senhor. (…) Tudo nasce e tudo culmina aqui, porque o fim de cada coisa não é alcançar uma meta pessoal e receber glória para si mesmo, mas encontrar Deus e deixar-se abraçar pelo seu amor, que dá fundamento à nossa esperança, liberta-nos do mal, abre-nos ao amor pelos outros.”
O Santo Padre reforça que é preciso estar diante de Deus, não tanto para pedir ou fazer qualquer coisa, mas para abandonar-se ao seu amor. “Nós rezamos tantas vezes, pedimos coisas, refletimos, mas normalmente nos falta a oração de adoração. Perdemos o sentido de adorar, porque perdemos a inquietação e a coragem para seguir em frente”.
Luz que ilumina a escuridão
Francisco pediu aos fiéis que vivam a inquietação que se interroga, que não interrompam o caminho e adorem ao Senhor. Para o Pontífice, somente assim é possível descobrir a existência de uma luz que ilumina mesmo as noites mais escuras: Jesus.