Homilia

A inveja e o ciúme levam à guerra, mas não têm consistência, alerta Papa

Na homilia desta sexta-feira, 24, Francisco incentivou os fiéis: “Peçamos ao Senhor um coração que não quer matar ninguém, porque o ciúme e a inveja matam”

Da redação, com Vatican News

A Primeira Leitura da liturgia desta sexta-feira, 24, foi tema da homilia da missa presidida pelo Papa Francisco na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano. Na ocasião, o Pontífice pediu aos cristãos que estejam atentos ao “verme da inveja e do ciúme”, que leva homens e mulheres a julgarem mal as pessoas, a competirem na família, no bairro e no trabalho. “É a semente de uma guerra”, alertou.

O Santo Padre recordou que o ciúme do rei, descrito no primeiro livro de Samuel, nasce do canto de vitória das jovens, por Saul ter matado mil inimigos, enquanto Davi dez mil. “Tem início assim a inquietação do ciúme, como um verme que corrói por dentro. Então Saul sai com o exército para matar Davi”, recorda o Pontífice.

“Os ciúmes são criminosos, procuram sempre matar”, advertiu o Papa. Para aqueles que dizem ter inveja, mas não serem assassinos, o Pontífice recorda: “Agora. Mas se você continuar, pode acabar mal”. Francisco recorda que é possível matar facilmente com a língua e com a calúnia. Um ciúme que, segundo o Santo Padre, cresce falando consigo mesmo, interpretando as coisas.

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Na murmuração consigo mesmo, o ciumento é incapaz de ver a realidade, e somente um fato muito forte pode abrir seus olhos, afirmou o Pontífice. Foi assim na fantasia de Saul, o ciúme o levou a acreditar que Davi era um assassino, um inimigo, recordou. “Nós também, quando temos inveja, ciúmes, fazemos isto, é!”.

Francisco questionou: “Cada um de nós pense: ‘Por que é que esta pessoa é insuportável para mim? Por que aquela outra nem sequer quero vê-la? Por que aquela outra…’ Cada um de nós pense porquê. Muitas vezes procuramos o porquê e descobrimos que são fantasias nossas. Fantasias, que porém crescem naquela murmuração conosco mesmo”.

“E no final é uma graça de Deus quando o ciumento encontra uma realidade como ocorreu com Saul: o ciúme irrompe como uma bolha de sabão, porque o ciúme e a inveja não têm consistência”, frisou o Papa. O Santo Padre reafirma que a salvação de Saul está no amor de Deus. “[Deus] lhe tinha dito que se não obedecesse, lhe tiraria o seu reino, mas Ele o amava. E assim ele deu-lhe a graça de estourar aquela bolha de sabão que não tinha substância”.

O Pontífice conta o episódio bíblico, com Saul que entra na caverna onde Davi e seus homens se esconderam, para fazer suas necessidades. Seus amigos dizem a David para aproveitar disso para matar o rei, mas ele recusa: “Nunca colocarei minhas mãos sobre o ungido do Senhor”, sublinha Francisco. Vê-se, comenta o Papa, a nobreza de Davi em comparação com o ciúme assassino de Saul. Então, em silêncio, ele corta apenas um pedaço do manto do rei, “e leva-o consigo”.

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Davi corta apenas um pedaço do manto do rei, leva-o consigo, sai da caverna e respeitosamente chama Saulo: “Ó rei, meu senhor!”. “[Saul] lhe pergunta: ‘Por que você escuta a voz de quem diz: ‘Eis que Davi procura o seu mal’’?’ E ele mostra-lhe o pedaço do manto, dizendo: ‘Eu podia tê-lo matado. Não, eu não fiz isso’”. Isto, comenta o Santo Padre, arrebenta a bolha de sabão do ciúme de Saul, que reconhece Davi como se fosse um filho e volta à realidade, dizendo: “Tu és mais justo do que eu, porque me fizeste o bem, enquanto eu te fiz mal”.

“É uma graça quando o invejoso, o ciumento, se depara com uma realidade que estoura aquela bolha de sabão que é o seu vício de ciúme ou inveja. E nos convida a olhar para nós mesmos, quando não gostamos de uma pessoa, não a queremos bem. Perguntemo-nos: ‘O que há dentro de mim? Há o verme do ciúme que cresce, porque ele tem algo que eu não tenho ou há uma raiva escondida?’”, aponta Francisco.

O Papa pede que os cristãos protejam o coração da doença que é o ciúme, a inveja, a murmuração, sentimentos que fazem crescer uma bolha de sabão, que depois, não tem consistência, mas faz mal. “E também quando alguém vem até nós ‘para falar de outro’, devemos fazê-lo compreender que, muitas vezes, ele não fala com serenidade, mas ‘com paixão’, e nessa paixão há o mal da inveja e o mal do ciúme”, alertou.

“Tenhamos cuidado, pois este é um verme que entra no coração de todos nós e leva-nos a julgar mal as pessoas, porque no interior há uma concorrência: ele tem algo que eu não tenho. E assim começa a concorrência. Leva-nos a descartar pessoas, leva-nos a uma guerra; uma guerra doméstica, uma guerra de bairro, uma guerra de postos de trabalho. Mas é precisamente na origem, é a semente de uma guerra: inveja e ciúme”.

O Pontífice pediu cuidado. “Quando sentimos essa antipatia por alguém e nos perguntemos: ‘Por que eu sinto isso?’ E não vamos permitir que esta ‘murmuração’ conosco mesmo nos faça pensar mal, porque isto faz crescer a bolha de sabão. Peçamos ao Senhor a graça de ter um coração transparente como o de Davi. Um coração transparente que procura apenas a justiça, procura a paz. Um coração amigo, um coração que não quer matar ninguém, porque o ciúme e a inveja matam”.

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