VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À INDONÉSIA, PAPUA-NOVA GUINÉ, TIMOR LESTE E SINGAPURA
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO NA SANTA MISSA NO ESTÁDIO SIR JOHN GUISE EM PORT-MORESBY, EM PAPUA-NOVA GUINÉ
Domingo, 8 de setembro de 2024
Boletim da Santa Sé
A primeira palavra que o Senhor nos dirige hoje é: «Tomai ânimo, não temais!» (Is 35, 4). O profeta Isaías di-lo a todos os que sentem o coração perturbado. Deste modo, ele encoraja o seu povo e convida-o, mesmo no meio de dificuldades e sofrimentos, a olhar para o alto, para um horizonte de esperança e futuro: Deus vem salvar-nos, Ele virá e, nesse dia, «se abrirão os olhos do cego, os ouvidos do surdo ficarão a ouvir» (Is 35, 5).
Esta profecia cumpre-se em Jesus. Na narração de São Marcos, são sublinhados particularmente dois aspectos: a distância do surdo-mudo e a proximidade de Jesus. Detenhamo-nos sobre estes dois elementos essenciais.
A distância do surdo-mudo. Este homem encontra-se numa zona geográfica que, hoje em dia, chamaríamos “periferia”. O território da Decápole situa-se para lá do Jordão, longe do centro religioso de Jerusalém. Porém, aquele homem surdo-mudo experimenta um outro tipo de distância: está longe de Deus, está longe dos homens porque não tem a possibilidade de comunicar. É surdo e, portanto, não pode ouvir os outros, é mudo e, por conseguinte, não pode falar com os demais. Este homem está separado do mundo e isolado, é prisioneiro da sua surdez e da sua mudez, devido às quais não pode abrir-se aos outros para comunicar.
Porém, podemos interpretar esta condição de surdo-mudo num outro sentido, porque pode acontecer-nos ficar afastados da comunhão e da amizade com Deus e os irmãos quando, mais do que os ouvidos e a língua, for o coração a fechar-se. Há uma surdez interior e uma mudez do coração que dependem de tudo aquilo que nos encerra em nós mesmos, impede a relação com Deus e nos fecha aos outros: egoísmo, indiferença, medo de arriscar e de comprometer-se, ressentimento, ódio, e a lista poderia continuar. Tudo isto afasta-nos de Deus, dos irmãos e também de nós mesmos; e afasta-nos da alegria de viver.
Face a esta distância, irmãos e irmãs, Deus responde com o oposto, com a proximidade de Jesus. No seu Filho, Ele quer mostrar, primeiramente, que é o Deus próximo, compassivo, solícito com a nossa vida, vencedor de todas as distâncias. E, efetivamente, no trecho do Evangelho, vemos Jesus dirigir-se a esses territórios periféricos, saindo da Judeia, para ir ao encontro dos pagãos (cf. Mc 7, 31).
Com a sua proximidade, Jesus cura a mudez e a surdez do homem: quando nos sentimos distantes, ou escolhemos manter-nos à distância – de Deus, dos irmãos, daqueles que são diferentes de nós – então fechamo-nos, encerramo-nos em nós mesmos e acabamos por girar apenas em torno do nosso eu, surdos à Palavra de Deus e ao grito do próximo e, por conseguinte, incapazes de falar com Deus e com o próximo.
E vós, irmãos e irmãs que habitais esta terra tão distante, talvez tenhais a ideia de estar separados, separados do Senhor, separados dos outros homens, e isso não é verdade. Vós estais unidos, unidos no Espírito Santo, unidos no Senhor! E o Senhor diz a cada um de vós: «Abre-te!». É isto o mais importante: abrirmo-nos a Deus, abrirmo-nos aos irmãos, abrirmo-nos ao Evangelho e fazer dele a bússola da nossa vida.
Também a vós, hoje, o Senhor diz: “Coragem, não temais, povo papuano! Abre-te! Abre-te à alegria do Evangelho, abre-te ao encontro com Deus, abre-te ao amor dos irmãos”. Que nenhum de nós fique surdo e mudo perante este convite. E que o Bem-aventurado João Mazzucconi vos acompanhe neste caminho: ele, no meio de tanto desconforto e hostilidade, trouxe Cristo para o meio de vós, para que ninguém fique surdo diante da alegre Mensagem da salvação, e em todos a língua se possa soltar para cantar o amor de Deus. Que o mesmo aconteça, hoje, também convosco!