FORMAÇÃO SACERDOTAL

"Há necessidade de sacerdotes plenamente humanos", diz Papa

Em encontro com padres, Francisco falou sobre necessidade da formação permanente e da alegria do Evangelho, que está na base da vida sacerdotal

Da redação, com Vatican News

Foto: Vatican Media/CPP/HANS LUCAS via Reuters

Nesta quinta-feira, 8, o Papa Francisco encontrou-se com cerca de mil participantes do Simpósio Internacional sobre a Formação Permanente dos Sacerdotes. Além de sacerdotes, também estavam presentes no evento promovido pelo Dicastério para o Clero bispos e leigos.

No início da audiência, na Sala Paulo VI, o Santo Padre agradeceu a todos os presentes e recordou que esses dias do encontro oferecem a oportunidade para a partilha das boas iniciativas, para “dialogar sobre desafios e problemas e perscrutar os horizontes futuros da formação sacerdotal nesta mudança de época, sempre olhando em frente e prontos a lançar novamente as redes obedecendo à Palavra do Senhor”.

O Pontífice abordou a necessidade de caminhar em busca de instrumentos e linguagens que ajudem a formação sacerdotal, sem pensar que já são conhecidas todas as soluções. “Eu tenho medo daqueles que têm em mãos todas as respostas, mas confiando que poderemos encontrá-las ao longo do caminho”, pontuou.

Além disso, o Papa exortou os sacerdotes à escuta recíproca, deixando-se assim inspirar pelo convite que o apóstolo Paulo dirige a Timóteo e que é o tema do encontro: “Reaviva o dom de Deus que está em ti” (2 Tm 1, 6). “Reavivar o dom, redescobrir a unção, reacender o fogo, para que não se apague o zelo do ministério apostólico”, disse.

Para esse percurso, Francisco indicou três caminhos: a alegria do Evangelho, a pertença ao povo e o serviço generativo.

A alegria do Evangelho

O dom da amizade com o Senhor está no centro da vida cristã, recordou Francisco, pois este “nos liberta da tristeza do individualismo e do risco de uma vida sem significado, sem amor, nem esperança”. A alegria do Evangelho é precisamente esta: “somos amados por Deus com ternura e misericórdia. E este anúncio jubiloso, somos chamados a fazê-lo ressoar no mundo testemunhando-o com a vida, para que todos possam descobrir a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo, morto e ressuscitado”.

Francisco disse ainda que “ser discípulo” de Cristo não é um revestimento religioso, mas um estilo de vida, e requer o cuidado da nossa humanidade. O contrário disso é o padre ‘mundano’. Quando a mundanidade entra no coração do padre, arruína tudo. Peço-vos para investir o melhor das vossas energias e recursos neste aspecto: o cuidado da formação humana. E também o cuidado para viver humanamente”.

Prosseguindo, o Papa apontou para a importância de sacerdotes plenamente humanos, “que brinquem com as crianças e que acariciem os velhos, capazes de boas relações, maduros para enfrentar os desafios do ministério, para que a consolação do Evangelho chegue ao povo de Deus através da sua humanidade transformada pelo Espírito de Jesus. Nunca esqueçamos a força humanizadora do Evangelho”.

Pertença ao povo de Deus

Francisco falou ainda sobre a pertença ao povo de Deus, pedindo que o padre esteja sempre junto com o povo a que pertence e também junto ao bispo e ao presbitério. “Não negligenciemos nunca a fraternidade sacerdotal. Para permanecermos imersos na história real do povo, é preciso que a formação sacerdotal possa valer-se da contribuição do povo de Deus: de sacerdotes e fiéis leigos, de homens e mulheres, de pessoas celibatárias e casais, de velhos e jovens, sem esquecer os pobres e os atribulados que têm tanto a ensinar”, declarou.

O Pontífice destacou que, na Igreja, existe uma reciprocidade e circularidade entre os estados de vida e as vocações, entre os ministérios e os carismas. “Isto requer de nós a sabedoria humilde de aprender a caminhar juntos, fazendo da sinodalidade um estilo da vida cristã e da própria vida sacerdotal. Aos sacerdotes é pedido, sobretudo hoje, o empenho de fazer ‘exercícios de sinodalidade’. Lembremo-nos sempre disto: caminhar juntos”, enfatizou.

Serviço generativo

Por fim, o terceiro ponto Abordado foi o serviço generativo. O Santo Padre explicou que “servir é o distintivo dos ministros de Cristo, como mostrou o Mestre durante toda a sua vida e, de modo particular, na Última Ceia, quando lavou os pés dos discípulos”:

“Na perspectiva do serviço, a formação não é uma operação extrínseca, a transmissão de um ensinamento, mas torna-se a arte de colocar o outro no centro, fazendo sobressair a sua beleza, o bem que traz consigo, evidenciando os seus dons e também as suas sombras, as suas feridas e os seus desejos. Deste modo formar sacerdotes significa servi-los, servir a sua vida, encorajá-los no seu percurso, ajudá-los no discernimento, acompanhá-los nas dificuldades e apoiá-los nos desafios pastorais”, afirmou Francisco.

De acordo com o Papa, o padre assim formado coloca-se ao serviço do povo de Deus, é solidário com a gente e, como fez Jesus na cruz, ocupa-se de todos:

“Fixemos, irmãos e irmãs, esta cátedra (a Cruz). A partir dela o Senhor, amando-nos até ao fim gerou um povo novo. E também nós, quando nos colocamos ao serviço dos outros, quando nos tornamos pais e mães para aqueles que nos foram confiados, geramos a vida de Deus. Este é o segredo duma pastoral generativa: não uma pastoral em que aparecemos nós no centro, mas uma pastoral que gera filhas e filhos para a vida nova em Cristo, que leva a água viva do Evangelho ao terreno do coração humano e do tempo presente“, continuou.

O Pontífice encerrou seu discurso insistindo com os sacerdotes para não se cansarem de ser misericordiosos. Perdoem sempre. Quando as pessoas vem se confessar, elas vêm para pedir perdão e não para ouvir uma lição de teologia ou de penitências. Sejam misericordiosos, por favor. Perdoem sempre, porque o perdão tem essa graça do carinho, do acolhimento. O perdão é sempre regenera por dentro”, concluiu.

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