Francisco conversou com jornalistas no retorno a Roma após viagem à Irlanda
Da Redação, com Boletim da Santa Sé
O escândalo dos abusos, mas a fé forte do povo irlandês. Esses foram alguns dos assuntos comentados pelo Papa Francisco durante a entrevista coletiva aos jornalistas que o acompanharam em seu retorno a Roma após a viagem à Irlanda.
Francisco visitou o país nesse fim de semana, 25 e 26 de agosto, por ocasião do Encontro Mundial das Famílias. Os escândalos de abusos envolvendo a Igreja na Irlanda perpassou vários momentos do Papa no país e foi assunto também da coletiva durante o voo, em que Francisco destacou a fé do povo irlandês.
“Encontrei tanta fé na Irlanda. Tanta fé. É verdade, o povo irlandês sofreu tanto pelos escândalos. Mas tem fé, na Irlanda, e forte”, disse. O Pontífice acrescentou que o povo irlandês sabe distinguir “a verdade de meias verdades”. “O povo irlandês tem uma fé enraizada e forte”, frisou.
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Uma das perguntas na coletiva de imprensa foi sobre o comunicado divulgado ontem em que o ex-núncio apostólico nos Estados Unidos, o arcebispo Carlo Maria Viganò, cita o caso do ex-cardeal Mccarry, acusado de assédio sexual contra jovens seminaristas. “Eu não direi uma palavra sobre isso”, disse o Papa, pedindo que os jornalistas leiam o comunicado e tirem suas próprias conclusões.
O Papa também foi interpelado sobre o caso de adoções ilegais cometidas supostamente numa congregação religiosa, sobre isso Francisco disse que o melhor é esperar as investigações. Nesta mesma ocasião, ele recordou o caso de Granada, em que cerca de dez sacerdotes foram acusados de pedofilia por um jovem, mas depois foram considerados inocentes pela justiça comum. O Papa fez uma ressalva sobre o delicado trabalho dos jornalistas nesse aspecto, destacando a necessidade de considerar a presunção legal de inocência, não a presunção de culpa.
Aborto e homossexualismo
Outro tema abordado na entrevista com Francisco foi o aborto, recentemente legalizado na Irlanda e votado também na Argentina (tendo sido rejeitado pelo Senado). O Papa disse que é sabido o pensamento da Igreja a respeito, e destacou que essa não é uma questão religiosa. “O problema do aborto não é um problema religioso: nós não somos contra o aborto pela religião. Não. É um problema humano”.
Com relação ao homossexualismo, o Papa atentou para a postura de diálogo. Ele foi perguntado sobre o que diria a um pai e uma mãe cujo filho se declarasse homossexual. “Eu lhes diria, antes de tudo, rezar: reze. Não condenar, dialogar, entender, dar espaço ao filho ou à filha”. Francisco considerou que a postura não é expulsar esse filho ou filha da família e que ignorá-lo é uma “falta de paternidade e maternidade”.
Acolhimento a migrantes
O tema da imigração não ficou de fora da coletiva; o assunto surgiu a partir do episódio do navio italiano “Diciotti”, que ficou por cerca de dez dias com mais de cem migrantes a bordo sem a possibilidade de atracar. O Santo Padre voltou a falar sobre a necessidade de prudência no processo de acolhimento, bem como de integração.
“Eu tive uma experiência muito gratificante. Quando fui à Universidade Roma III, havia estudantes que queriam me fazer perguntas e vi uma estudante…’Conheço esse rosto’: era uma que veio comigo entre os treze que eu trouxe de Lesbos. Aquela jovem estava na universidade! Por que? Porque a Comunidade Santo Egídio, desde o dia seguinte à sua chegada, levou-a à escola, para estudar e a integrou ao nível universitário. Este é o trabalho com os migrantes”.