Em Verona, Francisco respondeu perguntas dos participantes do encontro “Arena da Paz. Justiça e Paz se beijarão”
Da redação, com Vatican News
Em sua visita pastoral a Verona, neste sábado, 18, o terceiro compromisso do Papa Francisco foi o encontro “Arena da Paz. Justiça e Paz se beijarão”. Foi um encontro-diálogo realizado na Arena de Verona, no qual o Santo Padre ouviu testemunhos e depois respondeu perguntas relacionadas às temáticas desenvolvidas nas várias mesas de trabalho.
A Arena 2024 foi o início de um caminho gerador multifacetado e permanente, com a consciência de que a paz deve ser promovida, preparada, cuidada, vivenciada e organizada. Francisco aprofundou esses temas através do diálogo com alguns participantes.
Um momento de grande emoção no encontro foi quando o israelense Maoz Inon e o palestino Aziz Sarah, familiares de vítimas do conflito no Oriente Médio, falaram e depois de se abraçarem, abraçaram o Papa Francisco, fazendo com que os presentes na Arena se levantassem e aplaudissem.
Ao lado dos fracos para um enriquecimento
Com a temática “a paz deve ser promovida”, a mesa Migrações questionou o Pontífice, sobre como viver a conversão de perspectiva para a paz, ficando sempre ao lado das vítimas. O Papa Francisco destacou que o exemplo de Jesus chama os pequenos e os excluídos e os coloca no centro, subvertendo as hierarquias convencionais e isso deve ser a nossa inspiração.
Ponderando em seguida: “Caminhar com eles nos obriga a mudar de passo, a rever o que carregamos em nossa mochila, a nos livrarmos de muitos pesos e lastros e a abrir espaço para coisas novas”.
Francisco afirmou ainda que é importante vivenciar tudo isso, não como uma perda, mas como um enriquecimento, “uma poda sábia, que remove o que não tem vida e aprimora o que é promissor”.
Caminhar junto com os jovens
Com relação à temática de que a Paz deve ser preparada, o Santo Padre foi questionado sobre como ajudar os jovens a empreenderem uma economia de justiça.
Francisco logo destacou que o objetivo deve ser o desenvolvimento integral dos jovens centralizando sempre o ponto de que a dimensão comunitária é decisiva. “É uma tarefa que diz respeito a adultos e jovens juntos. A fecundidade e o caráter profético desse trabalho dependem precisamente da capacidade de passar de fazer algo pelos jovens para caminhar junto com os jovens”.
O Papa afirmou que a mudança é possível, mas exige que se “refaçam os laços que se desgastaram” e que se “recupere uma confiança saudável” nas possibilidades que temos. “Esse é um desafio para todos os educadores”.
E complementou: “Dar confiança aos jovens, uma confiança enraizada na descoberta de que fazem parte de uma comunidade, de uma história e de um futuro juntos”.
Abrir espaço para a ação de Deus
Como cuidar da Paz. Sobre esse tópico, o questionamento do grupo ambiente e Criação era como encontrar “tempo” para construir relações de justiça entre todos, sobretudo nestes tempos marcados pela velocidade e pelo imediatismo.
Francisco recordou que embora tenhamos todo o necessário para agir rapidamente com a revolução digital, e por isso deveríamos ter mais tempo a nossa disposição, “descobrimos que estamos sempre correndo, perseguindo a urgência de última hora”. O Papa disse: “Às vezes, é necessário saber como desacelerar a corrida, não se deixar dominar pelas atividades e abrir espaço dentro de nós para a ação de Deus”.
“‘Desacelerar’ pode soar como uma palavra deslocada, mas na realidade é um convite para recalibrar nossas expectativas e ações, adotando um horizonte mais profundo e mais amplo”, apontou.
Francisco destacou que o “enorme desafio” que há frente “é ir contra a corrente para redescobrir e preservar esses ritmos naturais”. E afirmou: “Não precisamos inventar tudo do zero; pelo contrário, em muitas outras culturas podemos encontrar tesouros de sabedoria e experiência dos quais podemos nos valer”.
Aprender a viver conflitualidades com o diálogo
Na reflexão sobre a Paz, que deve ser vivenciada, experimentada, perguntaram ao Pontífice “como aprender a viver o conflito de maneira saudável e construtiva”. Francisco logo esclareceu: “Se há um dinamismo positivo na sociedade, então também há conflitos e tensões. É um fato: a ausência de conflitualidade não significa que há paz, mas que alguém deixou de viver, pensar e se dedicar àquilo em que acredita”.
Explicando que temos que aprender a viver esta conflitualidade, ela não deve ser removida, ignorada, escondida ou marginalizada. Nem mesmo fazendo com que um dos polos prevaleça. Tudo isso pode levar a injustiças e até gestos violentos. “O primeiro passo para uma convivência saudável com tensões e conflitos é reconhecer que fazem parte de nossa vida, são fisiológicos, quando não ultrapassam o limite da violência”. “Deixemo-nos desafiar pelo conflito”, disse, “deixemo-nos provocar pelas tensões”. Aconselhando:
“Procurar, em um conflito, as razões de cada lado, as que estão surgindo e, se formos bem-sucedidos, também as que estão ocultas, aquelas das quais não temos plena consciência”
Despertar nos jovens a paixão pela participação
Por fim a pergunta relacionada ao tema “a paz deve ser organizada” foi que tipo de liderança é necessária para construir um país com boas instituições educacionais, econômicas e sociais para a paz.
“A ênfase”, respondeu, “está no vínculo entre os membros de uma comunidade. Ninguém existe sem os outros, ninguém pode fazer tudo sozinho. Portanto, a autoridade de que precisamos é aquela que, em primeiro lugar, é capaz de reconhecer seus próprios pontos fortes e limitações e, em seguida, entender a quem recorrer para obter ajuda e colaboração”.
Concluindo em seguida: “Queridos amigos, o grande desafio de hoje é despertar nos jovens a paixão pela participação. Precisamos investir nos jovens, na sua educação, para transmitir a mensagem de que o caminho para o futuro não pode passar apenas pelos esforços de um indivíduo, por mais bem-intencionado e bem preparado que ele seja, mas passa pela ação de um povo, no qual cada um faz a sua parte, cada um de acordo com suas tarefas e de acordo com suas capacidades”.