Audiência no Vaticano

"Encarar a vida com esperança", diz Papa em encontro com humoristas

Em audiência no Vaticano, Papa recebe humoristas e destaca que riso do humorismo é sempre inclusivo, proativo, desperta abertura, simpatia e empatia

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco se encontra com comediantes durante um evento cultural no Vaticano, 14 de junho de 2024

Papa Francisco se encontra com comediantes durante um evento cultural no Vaticano / Foto: Vatican Media/­Handout via REUTERS

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira, 14, na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de duzentos humoristas do mundo. Dentre eles alguns nomes do Brasil, como Fábio Porchat, Cacau Protásio e Cristiane Werson, e dos Estados Unidos, a atriz e comediante Whoopi Goldberg.

O Pontífice deu as boas-vindas aos artistas e agradeceu aos membros do Dicastério para a Cultura e a Educação que prepararam este encontro.

O riso é contagioso

Tenho grande estima por vocês artistas que se expressam com a linguagem da comédia, do humorismo e da ironia. De todos os profissionais que trabalham na televisão, no cinema, no teatro, na mídia impressa, com músicas, nas redes sociais, vocês estão entre os mais amados, procurados e aplaudidos. Certamente porque são bons, mas há também outro motivo: vocês têm e cultivam o dom de fazer as pessoas rirem.

“Em meio a tantas notícias sombrias, imersos como estamos em tantas emergências sociais e também pessoais, vocês têm o poder de espalhar a serenidade e o sorriso. Vocês estão entre os poucos que têm a capacidade de falar com pessoas muito diferentes, de diferentes gerações e origens culturais”, disse ainda o Papa.

“À sua maneira, vocês unem as pessoas, porque o riso é contagioso. É mais fácil rir juntos do que sozinhos: a alegria permite o compartilhamento e é o melhor antídoto contra o egoísmo e o individualismo. Rir também ajuda a quebrar as barreiras sociais, a criar conexões entre as pessoas.”

“Ele nos permite expressar emoções e pensamentos, ajudando a construir uma cultura compartilhada e a criar espaços de liberdade. Vocês nos lembram que o homo sapiens também é homo ludens; que a diversão e o riso são fundamentais para a vida humana, para nos expressarmos, aprendermos e darmos significado às situações”, sublinhou Francisco.

A seguir, o Papa disse aos artistas que o talento deles “é um dom precioso. Junto com o sorriso, espalha a paz nos corações, entre as pessoas, ajudando-nos a superar as dificuldades e a lidar com o estresse diário”. O sorriso “nos ajuda a encontrar alívio na ironia e a encarar a vida com humor”.

O Pontífice citou as palavras de São Tomás More: “Dai-me, Senhor, o senso de humor”. “Vocês conhecem essa oração?” Perguntou o Papa aos humoristas. “Vocês precisam conhecê-la”, disse ele, encarregando os superiores de divulgá-la a todos os artistas. “Dai-me, Senhor, o senso de humor”. “Essa é uma graça que eu peço todos os dias, porque ela me faz encarar as coisas com o espírito certo”, disse ainda o Papa. [Leia a oração de São Tomás More]

Despertar o senso crítico fazendo rir e sorrir

“Mas vocês também conseguem outro milagre: conseguem fazer sorrir mesmo quando lidam com problemas, pequenos e grandes fatos da história. Vocês denunciam os excessos de poder; dão voz a situações esquecidas; evidenciam abusos; apontam para comportamentos inadequados. Mas sem espalhar alarme ou terror, ansiedade ou medo, como fazem muitos da comunicação.”

O Papa destacou que os humoristas despertam o senso crítico fazendo rir e sorrir. “Vocês fazem isso contando histórias de vida, narrando a realidade, de acordo com seu ponto de vista original; e, dessa forma, falam às pessoas sobre problemas pequenos e grandes”.

“De acordo com a Bíblia, na origem do mundo, enquanto tudo estava sendo criado, a Sabedoria divina praticava sua arte para o benefício do próprio Deus, o primeiro espectador da história”, disse o Papa, citando uma passagem do Livro dos Provérbios: “Eu estava junto com ele, como mestre-de-obras. Eu era o seu encanto todos os dias, e brincava o tempo todo em sua presença; brincava na superfície da terra, e me deliciava com a humanidade”.

“Lembrem-se disto: quando vocês conseguirem fazer com que sorrisos inteligentes brotem dos lábios de até mesmo um só espectador, vocês também fazem Deus sorrir”, disse ainda Francisco, afirmando que isso não é uma heresia.

“Vocês, queridos artistas, sabem como pensar e falar com humor em diferentes formas e estilos; e, de qualquer forma, a linguagem do humor é adequada para entender e “sentir” a natureza humana. O humorismo não ofende, não humilha, não prega as pessoas aos seus defeitos.”

Francisco destacou que, embora hoje em dia a comunicação gere contraposições, os humoristas sabem como unir realidades diferentes e, às vezes, até opostas. “Como precisamos aprender com vocês! O riso do humorismo nunca é ‘contra’ alguém, mas é sempre inclusivo, proativo, desperta abertura, simpatia e empatia. Por favor, rezem e peçam ao Senhor a graça do senso de humor”.

Encarar a vida com esperança

O Papa recordou a passagem do Livro do Gênesis, quando Deus promete a Abraão que dentro de um ano ele teria um filho. Sara ouviu e riu por dentro. Ela disse: “Deus me deu motivo para rir com alegria”. Por isso, deram ao filho o nome de Isaac, que significa “ele ri”.

“Também é possível rir de Deus? É claro que sim, e isso não é blasfêmia, podemos rir, assim como brincamos e fazemos piadas com as pessoas que amamos”, disse o Pontífice. “A tradição sapiencial e literária hebraica é mestra nisso”, disse ele. Porém, “isso pode ser feito, sem ofender os sentimentos religiosos dos fiéis, especialmente dos pobres”.

“Querido amigos, Deus abençoe vocês e a sua arte. Continuem animando as pessoas, especialmente aquelas que têm mais dificuldade de encarar a vida com esperança. Ajude-nos, com o sorriso, a ver a realidade com suas contradições e a sonhar com um mundo melhor”, concluiu.

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