Em encontro com a população, Francisco alertou sobre o tráfico de pessoas e o extrativismo local. E encorajou fiéis a uma cultura da esperança
Da redação
“Esta não é uma terra órfã, é a terra da Mãe! E, se há uma mãe, há filhos, há família, há comunidade!”. Foi o que afirmou Papa Francisco nesta sexta-feira, 19, em encontro com a população na região Madre de Dios, no sudeste do Peru. Considerada como uma terra esquecida, ferida e marginalizada, a região foi encorajada pelo Pontífice a gerar uma cultura do encontro e da esperança.
Ao chegar ao Instituto Jorge Basadre, em Puerto Maldonado, onde ocorreu o encontro, o Santo Padre foi saudado pelo vigário apostólico da capital peruana, Dom Davi Martins, que apresentou parte da realidade local ao Papa. “Somos um povo sofrido e crente, Papa Francisco. Porém, nos falta a coragem de assumir o nosso compromisso com o reino, nos falta crer de verdade que a proposta comunitária de Jesus é caminho de vida, e acabamos arrumando soluções individualistas sem nos importar que nos leve a morte e à destruição”, contou.
Ao final da saudação, Dom Davi pediu o auxílio de Francisco: “Confirme-nos na fé, Santo Padre! Ajude-nos a renovar a esperança de que juntos podemos sair da nossa pobreza!”. Para representar os moradores da localidade, o casal peruano Arturo e Margarita acolheu Francisco e manifestou sentimentos de gratidão pela presença do Pontífice no país. “Sua visita à nossa casa Madre de Dios foi tão desejada. Não somos a terra do nada, como muitos dizem por aí. Sua presença nos faz sentir que somos verdadeira terra do Deus verdadeiro. O senhor olhou para nós e nos enviou para reavivar a nossa esperança em Jesus”, declarou Arturo.
Após a recepção, o Papa frisou a força da região que leva no nome, uma referência a Maria, mãe de Deus. “Não posso deixar de fazer menção a Maria – jovem mulher que vivia numa aldeia remota, perdida, considerada também por muitos como terra de ninguém. Lá recebeu ela a saudação e o convite maior que uma pessoa possa experimentar: ser a Mãe de Deus; há alegrias que só as podem escutar os pequeninos. Vós tendes em Maria, não só uma testemunha para quem olhar, mas uma Mãe e, onde houver uma mãe, não existe esse mal terrível de sentir que não pertencemos a ninguém”, frisou o Santo Padre.
Durante seu discurso, Francisco declarou tristeza diante dos que exploram as terras de Madre de Dios e fez um alerta ao tráfico de pessoas, termo que segundo ele abrange também a escravidão e suas várias vertentes: escravidão laboral, escravidão sexual, escravidão para fim de lucro, que tanto aflige as mulheres da região, especialmente as adolescentes.
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“É triste constatar como, nesta terra que está sob a proteção da Mãe de Deus, muitas mulheres sejam tão desvalorizadas, desprezadas e sujeitas a violências sem fim. Não se pode olhar como normal a violência contra as mulheres, mantendo uma cultura machista que não aceita o papel de protagonista da mulher nas nossas comunidades”, afirmou o Pontífice, que também reconheceu os passos dados no país contra o tráfico de pessoas: “Ao chegar a Puerto Maldonado vi um cartaz que me chamou atenção – ele dizia ‘Esteja atento contra o tráfico’ – vejo que estão tomando consciência”, comentou.
A Amazônia, segundo o Papa, é um local que atrai emigrantes à procura de teto, terra e trabalho. Com essa promessa, segundo Francisco, muitos se envolvem com trabalhos extrativistas repletos de falsas promessas que encadeiam, prometem vida e levam à morte. Diante desta realidade, que também engloba as várias situações que envolvem o tráfico de pessoas, o Santo Padre frisou as várias situações que corrompem o homem e as instituições e encorajou a população, por meio de movimentos e comunidades, a superar essas situações e viver ao redor da pessoa de Jesus.
O Papa prosseguiu seu discurso sublinhando a necessidade das comunidades cristãs serem reflexo de Deus – Pai, na criação de laços que geram família e comunidade, maneira que segundo o Santo Padre torna visível o Reino dos Céus. O Pontífice encerrou reforçando sua esperança nos peruanos que desejam uma vida abençoada. “Viestes procurá-la aqui, onde se encontra uma das explosões de vida mais exuberantes do planeta. Amai esta terra, senti-a vossa. Adorai-a, ouvi-a, maravilhai-vos com ela. Enamorai-vos desta terra Madre de Dios, comprometei-vos a cuidar dela. Não a useis como mero objeto que se pode descartar, mas como um verdadeiro tesouro a desfrutar, fazer crescer e transmitir aos vossos filhos”.
Em um último ato, Francisco convidou todos a se colocarem sob a proteção de Maria, rezou junto aos presentes a oração da Ave-Maria, e deixou flores aos pés da imagem de Nossa Senhora presente no Instituto Jorge Basadre. Após o encontro, o Papa visitou as crianças do Lar Princípio e de lá segue a Lima, para o Encontro com as Autoridades, a Sociedade Civil e o Corpo Diplomático no Pátio de Honra da cidade.