Evento teve como tema o título do novo livro do padre jesuíta Antonio Spadaro, ‘Compartilhando a Sabedoria do Tempo’
Da redação
Papa Francisco se encontrou nesta terça-feira, 23, com jovens e idosos no Instituto Augustinianum em Roma. O evento teve como tema o título do novo livro do diretor da revista dos jesuítas “La Civiltà Cattolica”, padre Antonio Spadaro: “Compartilhando a Sabedoria do Tempo”. A obra de Spadaro, prefaciada pelo Santo Padre, foi apresentada publicamente durante o encontro e conta as histórias de idosos dos cinco continentes, além de momentos da biografia pessoal de Francisco.
A abertura do encontro foi realizada pelo Arcebispo do Panamá, Dom José Domingo Ulloa Mendieta, que é também presidente do comitê organizador da JMJ 2019 no Panamá. O bispo valorizou a importância do encontro diante dos desafios atuais da sociedade que, segundo ele, tem ampliado a cultura do descarte e o fosso entre gerações.
Dom Mendieta reafirmou que o mundo precisa de jovens profetas, que assumam os sonhos dos idosos para seguirem adiante. A frase foi uma referência ao texto do profeta Joel, utilizado pelo Papa na abertura do Sínodo para a Juventude – realizada no dia 3 de outubro — que diz: “Derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões” (Joel 3,1). “Vislumbro novos tempos protagonizados pelos jovens com o acompanhamento da Igreja e dos mais velhos”, afirmou o bispo.
Após o presidente do comitê organizador da JMJ 2019, foi a vez do padre jesuíta Antonio Spadaro dirigir algumas palavras ao Santo Padre e aos presentes. O sacerdote agradeceu Francisco pela partilha que deu origem ao livro “Compartilhando a Sabedoria do Tempo”. Segundo padre Spadaro, o Pontífice lhe entregou pensamentos sobre os jovens e os anciãos, e sobre seu íntimo sentimento paternal que o faz considerar-se avô.
Na sequência, Francisco ficou disponível para questionamentos dos jovens e mais velhos. A primeira pergunta foi feita pela jovem Federica, que questionou o Papa sobre como os jovens poderiam criar relações autênticas e verdadeiras, mesmo cercados de uma cultura do descartável e de uma sociedade que os impele a viver o individualismo e a competição entre si. Em sua resposta, oPapa frisou a negatividade da vida de aparências e fez uma analogia entre a vida de competitividade e a de servidão.
“A mão da competição é fechada, segura e recolhe, muitas vezes custa caro o preço de esmagar e desprezar os outros. Esse gesto de tomar as mãos e recolher para si é diferente do gesto de abrir a mão e estendê-la. A construção de uma personalidade se faz a caminho, colocando-se em risco, sujando as mão. Isso me faz pensar naquilo que me diz os santos, há mais amor em dar do que em receber. A cultura do descartável aniquila os sentimentos. As pessoas mais maduras têm o sentido do crescer, seguem adiante com o serviço, arriscam-se. Quem não se arrisca na vida jamais vai amadurecer”, comentou o Papa que pediu aos jovens que escolham a cultura da fraternidade e do serviço.
Tony e Grace, casados há 43 anos, foram os próximos a a questionarem o Santo Padre. O casal contou ter uma família de quatro filhos e cinco netos, e de ter-lhes transmitido a fé católica. Tony e Grace, porém, comentaram receber duras críticas dos filhos, que têm repelido a educação católica. Então, perguntaram: “O que podemos dizer a eles?” O Papa afirmou ao casal que a fé não era somente sobre o modo de viver, mas todo uma vida na sua completude.
O Pontífice frisou que os pais não devem carregar dúvidas, nem o sentimento de fracasso na transmissão da fé para os filhos. “A vida é assim, vocês transmitiram a fé e depois o mundo faz propostas que entusiasmam os filhos. Muitos se distanciam da fé e fazem uma opção não ruim, mas inconsciente de seguir ideologias mais modernas e se distanciam”, afirmou. Foi então que Francisco pediu ao casal que não se assustem ou percam a paz.
“Nós transmitimos a fé, e agora, tranquilos, não devemos buscar convencer, porque a fé não cresce por proselitismo, mas cresce por atração, disse Bento XVI”, lembrou Francisco. O Papa pediu ao casal o silêncio que acompanha e não o silêncio da acusação. “Santa Mônica venceu com as lágrimas, discutir jamais, porque é uma armadilha, uma cilada”, completou.
A jovem Rosemeire questionou Francisco quanto a sua fragilidade e incertezas para o futuro, e pediu um conselho sobre o que deveria fazer para ter mais confiança. O Papa pediu a jovem que começasse a sonhar. Segundo o Pontífice, sonhar é tudo e ajuda a seguir adiante.
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Fiorela, uma idosa, relatou ao Pontífice ter três filhos bem encaminhados, e contou sobre sua preocupação com o aumento da violência e da crueldade, e o indagou sobre como ele tem enfrentado este difícil momento. O Santo Padre manifestou ter nutrido grandes aprendizados com os anciãos que enfrentaram situações de guerra no passado. Reafirmou ainda que não se pode viver semeando ódio e que é preciso apostar em gestos de amizade e não de divisão. Francisco comparou a guerra e as fofocas como formas de semear o ódio. Segundo o Pontífice é por meio da fofoca que cresce o ciúmes, a competitividade e outros sentimentos capazes de levar à morte.
“Ajudou em seu ministério?”, foi a pergunta de Geneve acerca do livro “Compartilhando a Sabedoria do Tempo”, para o qual o Papa contribuiu. Francisco respondeu que sim, e frisou seu gosto por ouvir os anciãos. “Tenho experiência de ouvi-los e gosto de ouvi-los”, afirmou. O Sucessor de Pedro acrescentou que a escuta é capaz de fazer com que as pessoas aprofundem suas raízes e floresçam.
O diretor de cinema Martin Scorcese foi o último a realizar uma pergunta a Francisco. Martin o questionou acerca da dificuldade que as pessoas têm em mudar e crer no futuro. “Como viver bem quando faço a experiência do mal?”, questionou. Francisco respondeu que hoje consegue ver com mais clareza a crueldade no mundo e citou a tortura como um grande mal que se torna cada dia mais normal. “Ela é a destruição da dignidade humana!”, ponderou.
O Papa continuou exortando os presentes a fazerem o bem sempre partindo da empatia. “A proximidade faz milagre!”, observou. O Santo Padre elencou a não violência, a mansidão, a ternura e as virtudes humanas como capazes de transformar os conflitos mais difíceis. “A proximidade entre jovens e anciãos transmite uma experiência que transmite humanidade”, concluiu.