Francisco recebeu cardeais da Cúria Romana em audiência e destacou gesto de bem-dizer, exortando todos a serem “artesãos de bênção”
Da Redação, com Vatican News
Neste sábado, 21, o Papa Francisco recebeu em audiência os cardeais da Cúria Romana para as felicitações de Natal. O discurso do Pontífice foi inspirado nas palavras de São Paulo, que escreveu “bendizei, não amaldiçoeis” (Rm 12,14).
No início do encontro, o decano, Cardeal Giovanni Battista Re, falou em nome de todos os cardeais, recordando alguns momentos importantes deste ano. De modo especial, citou o compromisso do Santo Padre em prol da paz diante dos diversos conflitos em andamento.
Em sua fala, Francisco refletiu sobre o aspecto da humildade no mistério da Encarnação, partindo de um texto que ele mesmo propôs há cerca de vinte anos à assembleia diocesana em Buenos Aires. Trata-se do exercício de acusar-se a si mesmo, segundo os ensinamentos dos antigos mestres espirituais.
“Acusar-se a si mesmo é um meio, mas é indispensável”, pontuou o Papa, “é a atitude de base na qual se pode enraizar a escolha de dizer ‘não’ ao individualismo e ‘sim’ ao espírito comunitário, eclesial”.
“Somos abençoados e, como tal, podemos abençoar”
Na base deste estilo espiritual encontra-se o abaixamento interior. “Diante do drama da humanidade tantas vezes oprimida pelo mal”, sinalizou o Pontífice, “o movimento do Altíssimo é de abaixar-se, fazer-se pequeno, como um grão de mostarda, como um germe de homem no ventre de uma mulher. Invisível. Assim ele começa a tomar sobre si a enorme e insustentável massa de pecados do mundo”.
Da mesma forma, cabe a cada ser humano assumir e acolher esta ação, assim como fez a Virgem Maria na Encarnação. “Ela não tinha nada de que se acusar, mas se deixou envolver no abaixamento de Deus”, observou o Santo Padre, acrescentando que as fofocas são um mal que destrói a vida social, adoece o coração das pessoas e não leva a nada.
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Francisco enfatizou que “a Encarnação do Verbo mostra-nos que Deus não nos amaldiçoou, mas nos abençoou. Mais: revela-nos que em Deus não há maldição, mas só e sempre bênção”. Nisto, prosseguiu, fundamenta-se o bem-dizer humano: “somos abençoados e, como tal, podemos abençoar”.
“Artesãos de bênção”
Na sequência, o Papa alertou para o “trabalho de escritório”, que pode se transformar em aridez se não contemplar experiências pastorais, momentos de encontro e relações amigáveis na gratuidade. “Se o nosso coração estiver mergulhado nesta bênção originária, seremos capazes de abençoar a todos, mesmo aqueles que nos parecem antipáticos e que nos trataram mal”, afirmou.
Mais uma vez o Pontífice deu ênfase ao exemplo da Virgem Maria, “imagem e modelo da Igreja, somos levados a considerar a dimensão eclesial do bem-dizer”. O Santo Padre resumiu esta dimensão dizendo que, “na Igreja, sinal e instrumento da bênção de Deus para a humanidade, todos somos chamados a ser artesãos de bênção”.
Espalhar a bênção de Deus e da Mãe Igreja
Francisco expressou que gosta de pensar na Cúria Romana como “uma grande oficina na qual há muitas tarefas diferentes, mas todos trabalham para o mesmo objetivo: abençoar, espalhar a bênção de Deus e da Mãe Igreja no mundo”.
São dos escritórios do Vaticano que se preparam cartas a fim de que chegue a oração e a bênção do Papa a um doente, uma mãe, um pai, um preso, um idoso, uma criança, pontuou o Santo Padre, definindo esse gesto como “ser artesão de bênção”.
O “artesanato” da Cúria, portanto, consiste em assumir a humildade como caminho para o bem-dizer. Contudo, é preciso ser coerente: não se pode escrever bênçãos e depois falar mal do nosso irmão, advertiu o Pontífice, que encerrou seu discurso desejando um feliz Natal para os presentes.