Compaixão e humildade foram centro da reflexão de Papa Francisco na Missa em sufrágio de Bento XVI e dos Cardeais e Bispos falecidos durante o ano
Da redação, com Vatican News
Nesta sexta-feira, 3, o Papa Francisco presidiu a Missa em sufrágio do Papa Bento XVI e dos Cardeais e Bispos falecidos no último ano. A celebração aconteceu na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Em sua homilia, o Pontífice compartilhou com os fiéis duas palavras sugeridas pelo Evangelho: compaixão e humildade.
“Jesus está prestes a entrar em Naim e vê uma multidão saindo para sepultar o filho único de uma mãe que ficara viúva. O Evangelho diz: ‘Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela’. Jesus a vê e se enche de compaixão”, lembrou o Papa.
Sobre esse aspecto, o Papa destacou que o saudoso Bento XVI escreveu em sua primeira Encíclica que “o programa de Jesus é ‘um coração que vê’. Quantas vezes nos recordou que a fé não é, primariamente, uma ideia a ser compreendida nem uma moral a ser abraçada, mas o encontro com uma Pessoa: Jesus Cristo. O coração d’Ele bate forte por nós, o seu olhar condói-se à vista do nosso sofrimento”, refletiu.
Como narra o Evangelho, Jesus se detém diante da angústia por aquela morte. Sente “compaixão por uma mãe viúva que, ao ficar sem o único filho, perdeu a razão de viver. Assim é o nosso Deus, cuja divindade resplandece no contato com as nossas misérias, porque o seu coração é compassivo”, disse Francisco.
Compaixão de Jesus é concreta
O Papa enfatizou que a compaixão de Jesus tem uma característica: é concreta. “Diz o Evangelho que Ele se aproxima e toca no caixão. Tocar no caixão de um morto era inútil; além disso, naquele tempo, era considerado um gesto impuro, que contaminava quem o fazia. Mas Jesus não presta atenção a isso, a sua compaixão elimina distâncias e o leva a aproximar-se. É o estilo de Deus, feito de proximidade, compaixão e ternura; e de poucas palavras”.
E continuou: “A compaixão do Senhor chega ao ponto de reanimar aquele filho jovem. E Jesus o faz de um modo diferente dos outros milagres, ou seja, sem pedir sequer à mãe que tenha fé. Por que um prodígio assim extraordinário e tão raro?”, perguntou o Papa. “Porque aqui estão envolvidos o órfão e a viúva, que a Bíblia indica, junto com o estrangeiro, como as pessoas mais sós e abandonadas, que não podem confiar em mais ninguém senão em Deus. Por isso, são as pessoas mais íntimas e queridas do Senhor. Não podemos ser íntimos e queridos de Deus, ignorando aqueles que gozam da sua proteção e predileção e que hão de nos acolher no Céu”, sublinhou.
Crer-se necessitado de Deus e dar-lhe espaço
A seguir, o Papa refletiu sobre a segunda palavra: humildade. “O órfão e a viúva são realmente os humildes por excelência, aqueles que, colocando toda a esperança no Senhor e não em si mesmos, transferiram o centro da sua vida para Deus: contam, não sobre as suas próprias forças, mas sobre o Senhor que cuida deles. Irmãos e irmãs, esta é a humildade cristã. Não se trata de uma virtude entre outras, mas da predisposição basilar da vida: crer-se necessitado de Deus e dar-lhe espaço, depositando n’Ele toda a confiança”, disse o Pontífice.
De acordo com Francisco, “Deus ama a humildade, porque lhe permite interagir conosco. Mais, Deus ama a humildade, porque Ele mesmo é humilde. Desce até nós, abaixa-se; não se impõe, deixa espaço. Deus não só é humilde, mas é humildade. ‘Vós sois humildade’: rezava São Francisco de Assis. Pensemos no Pai, cujo nome é inteiramente uma referência ao Filho e não a si mesmo; e ao Filho, cujo nome é inteiramente relativo ao Pai. Deus ama aqueles que se descentralizam, isto é, os humildes: estes assemelham-se a Ele mais do que todos os outros. Por isso mesmo, como diz Jesus, ‘o que se humilha será exaltado'”.
Renunciar a si mesmo pela Igreja de Jesus
Francisco disse que gosta de recordar as palavras com que Bento XVI se apresentou, no início do seu Pontificado: “humilde trabalhador na vinha do Senhor”. E afirmou que “os cristãos, sobretudo o Papa, os Cardeais, os Bispos, são chamados a ser humildes trabalhadores: a servir, não a ser servidos; a pensar menos nos próprios frutos e mais nos frutos da vinha do Senhor. E como é maravilhoso renunciar a si mesmo pela Igreja de Jesus!”
O Papa convidou a todos a pedirem a Deus um olhar compassivo e um coração humilde. “Não nos cansemos de o pedir, porque é pela senda da compaixão e da humildade que o Senhor nos dá a sua vida, que vence a morte”.
E finalizou a homilia convidando os presentes a rezar pelos “nossos queridos irmãos defuntos”. “O seu coração foi pastoral, compassivo e humilde, porque o sentido da sua vida foi o Senhor. N’Ele, encontrem a paz eterna! Rejubilem com Maria, que o Senhor exaltou olhando para a sua humildade”.