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Discurso do Papa Francisco ao Patriarca Supremo dos budistas

Viagem do Papa Francisco à Tailândia e ao Japão
Visita ao Patriarca Supremo dos budistas, Somdet Phra Ariyavongsagatanana IX,
no Templo Wat Ratchabophit– Bangcoc
Quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Boletim da Santa Sé

Santidade!

Agradeço as suas amáveis palavras de boas-vindas. Sinto-me feliz por vir, no princípio da minha Visita a esta nação, a este Templo Real, símbolo dos valores e ensinamentos que caraterizam este povo amado. Foi nas fontes do budismo que a maioria dos tailandeses bebeu e modelou a sua maneira de venerar a vida e os seus idosos, realizar um estilo de vida sóbrio baseado na contemplação, desapego, trabalho duro e disciplina (cf. São João Paulo II, Ecclesia in Asia, 6/XI/1999, 6); caraterísticas que alimentam o vosso traço distintivo tão peculiar: o povo do sorriso.

O nosso encontro insere-se no caminho de estima e mútuo reconhecimento iniciado pelos nossos antecessores. Na esteira dos seus passos, quero colocar esta visita para aumentar não só o respeito, mas também a amizade entre as nossas comunidades. Já se passaram quase cinquenta anos desde que o décimo sétimo Patriarca Supremo, Somdej Phra Wanarat (Pun Punnasiri), acompanhado por um grupo de importantes monges budistas, visitou o Papa Paulo VI no Vaticano, o que representou um marco muito importante no desenvolvimento do diálogo entre as nossas tradições religiosas; o cultivo deste diálogo permitiria sucessivamente ao Papa João Paulo II efetuar uma visita neste Templo ao Patriarca Supremo, Sua Santidade Somdej Phra Ariyavongsagatanana (Vasana Vasano). Pessoalmente, tive a honra de receber recentemente uma delegação de monges do templo de Wat Pho, que me obsequiou com a tradução dum antigo manuscrito budista escrito em língua pali, guardado agora na Biblioteca Vaticana. São pequenos passos que ajudam a testemunhar, não só nas nossas comunidades mas também neste nosso mundo tão instigado a gerar e propagar divisões e exclusões, que a cultura do encontro é possível. Sempre que temos oportunidade de nos reconhecer e apreciar, mesmo nas nossas diferenças (cf. Evangelii gaudium, 250), oferecemos ao mundo uma palavra de esperança, capaz de encorajar e sustentar aqueles que acabam por ser sempre os mais prejudicados pela divisão. Tais possibilidades lembram-nos quão importante é que as religiões se manifestem cada vez mais como faróis de esperança, enquanto promotoras e garantes de fraternidade.

Neste sentido, agradeço a este povo que, desde a chegada do cristianismo à Tailândia há cerca de quatro séculos e meio, permitiu aos católicos, mesmo sendo um grupo minoritário, desfrutar de liberdade na prática religiosa, vivendo desde há muitos anos em harmonia com os seus irmãos e irmãs budistas.

Neste caminho de mútua confiança e fraternidade, desejo reiterar o meu empenho pessoal e o de toda a Igreja no fortalecimento de um diálogo aberto e respeitoso ao serviço da paz e do bem-estar deste povo. Graças aos intercâmbios académicos, que permitem uma maior compreensão mútua, e também ao exercício da contemplação, da misericórdia e do discernimento – tão comuns às nossas tradições –, poderemos crescer num estilo de boa «vizinhança». Poderemos promover entre os fiéis das nossas religiões o desenvolvimento de novos projetos de caridade, capazes de gerar e incrementar iniciativas concretas no caminho da fraternidade, especialmente com os mais pobres, e em referência à nossa casa comum tão maltratada. Desta forma, contribuiremos para a formação duma cultura de compaixão, fraternidade e encontro, tanto aqui como noutras partes do mundo (cf. ibid., 250). Estou certo, Santidade, de que este caminho continuará a dar frutos em abundância.

Mais uma vez, agradeço a Vossa Santidade por este encontro. Rezo para que seja cumulado das bênçãos divinas na sua saúde e bem-estar pessoal e também na sua alta responsabilidade de guiar os crentes budistas nos caminhos da paz e da concórdia.

Obrigado!

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