Na íntegra

Discurso do Papa Francisco aos representantes de outras religiões

Angelus com o Papa Francisco - 16/02/14
DISCURSO
Audiência com os representantes das Igrejas e das Comunidades eclesiais e de outras religiões
Sala Clementina do Palácio Apostólico
Quarta-feira, 20 de março de 2013

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal

Queridos irmãos e irmãs,

Antes de tudo agradeço de coração por aquilo que meu Irmão Andrea nos disse. Obrigado! Muito obrigado!

É motivo de particular alegria encontrar-me convosco hoje, Delegados das Igrejas Ortodoxas, das Igrejas Ortodoxas Orientais e das Comunidades eclesiais do Ocidente. Agradeço-vos por terem desejado participar da celebração que marcou o início do meu ministério de Bispo de Roma e Sucessor de Pedro.

Ontem pela manhã, durante a Santa Missa, através das vossas pessoas reconheci espiritualmente presentes as comunidades que vocês representam. Nesta manifestação de fé pareceu-me viver de maneira ainda mais urgente a oração pela unidade entre os que acreditam em Cristo e juntos para ver de algum modo prefigurada aquela plena realização, que depende do plano de Deus e da nossa leal colaboração.

Inicio o meu ministério apostólico durante este ano que o meu venerado predecessor, Bento XVI, com intuição verdadeiramente inspirada, proclamou para a Igreja católica Ano da Fé. Com esta iniciativa, que desejo continuar e espero que sirva de estímulo para o caminho de fé de todos, ele quis marcar o 50º aniversário do Concílio Vaticano II, propondo uma espécie de peregrinação através disso que para cada cristão representa o essencial: o relacionamento pessoal e transformante com Jesus Cristo, Filho de Deus, morto e ressuscitado para a nossa salvação. Propriamente no desejo de anunciar este tesouro perenemente válido da fé aos homens do nosso tempo, consiste o coração da mensagem conciliar.

Junto convosco não posso me esquecer de quanto aquele Concílio significou para o caminho ecumênico. Gosto de recordar as palavras que o beato João XXIII, de quem em breve lembraremos os 50 anos de sua morte, pronunciou no memorável discurso de inauguração: “A Igreja Católica considera seu dever trabalhar ativamente para que se cumpra o grande mistério daquela unidade que Cristo Jesus com ardentes orações pediu ao Pai Celeste na iminência do seu sacrifício; esse gozo de doce paz, sabendo estar intimamente unido a Cristo naquelas orações” (AAS 54 [1962], 793). Este Papa João.

Sim, queridos irmãos e irmãs em Cristo, sintamo-nos todos intimamente unidos à oração do nosso Salvador na Última Ceia, à sua invocação: ut unum sint. Peçamos ao Pai misericordioso viver em plenitude aquela fé que recebemos de presente no dia do nosso Batismo, e de poder dar testemunho livre, alegre e corajoso. Este será o nosso melhor serviço à causa da unidade entre os cristãos, um serviço de esperança para um mundo ainda marcado por divisões, por disputas e rivalidades. Mais seremos fiéis à sua vontade, nos pensamentos, nas palavras e nas obras, e mais caminharemos realmente e substancialmente para a unidade.

Da minha parte, desejo assegurar, na esteira dos meus Predecessores, a firme vontade de prosseguir no caminho do diálogo ecumênico e agradeço desde já ao Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, pela ajuda que continuará a oferecer, em meu nome, para esta nobríssima causa. Peço-vos, queridos irmãos e irmãs, para levar a minha cordial saudação e a segurança da minha lembrança no Senhor Jesus às Igrejas e Comunidades cristãs que aqui vocês representam e peço a vocês a caridade de uma especial oração pela minha pessoa, a fim de que possa ser um Pastor segundo o coração de Cristo.

E agora me dirijo a vocês, ilustres representantes do povo judeu, ao qual nos liga um vínculo espiritual muito especial, do momento que, como afirma o Concílio Vaticano II, “a Igreja de Cristo reconhece que o início da sua fé e da sua eleição se encontram já, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés, e nos profetas” (Decr. Nostra aetate, 4). Agradeço-vos pela vossa presença e confio que, com a ajuda do Altíssimo, possamos prosseguir proveitosamente naquele fraterno diálogo que o Concílio desejava (cfr ibid.) e que efetivamente se realizou, trazendo não poucos frutos, especialmente ao longo dos últimos dez anos.

Saúdo então e agradeço cordialmente a todos vocês, queridos amigos pertencentes a outras tradições religiosas; em primeiro lugar os Muçulmanos, que adoram Deus único, vivente e misericordioso, e o invocam na oração, e a todos vocês. Aprecio muito a vossa presença: nessa vejo um sinal tangível da vontade de crescer na estima recíproca e na cooperação para o bem comum da humanidade.

A Igreja católica está consciente da importância que tem a promoção da amizade e do respeito entre homens e mulheres de diferentes tradições religiosas – isto eu quero repetir: promoção da amizade e do respeito entre homens e mulheres de diferentes tradições religiosas – o comprova o precioso trabalho que desenvolve o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Essa está igualmente consciente da responsabilidade que todos temos para com este nosso mundo, para com toda a criação, que devemos amar e proteger. E nós podemos fazer muito pelo bem de quem é mais pobre, de quem é indefeso e de quem sofre, para favorecer a justiça, para promover a reconciliação, para constituir a paz. Mas, sobretudo, devemos manter viva no mundo a sede do absoluto, não permitindo que prevaleça uma visão da pessoa humana a uma só dimensão, segundo a qual o homem se reduz àquilo que produz e àquilo que consome: esta é uma das armadilhas mais perigosas para o nosso tempo.

Sabemos quanta violência produziu na história recente a tentativa de eliminar Deus e o divino do horizonte da humanidade, e sentimos o valor de testemunhar na nossa sociedade a originária abertura ao transcendente que é inerente ao coração do homem.  Nisso, sentimos próximos também todos aqueles homens e mulheres que, embora não se reconhecendo pertencentes a alguma tradição religiosa, sentem-se, todavia, em busca da verdade, da bondade e da beleza, esta verdade, bondade e beleza de Deus, e que são nossos preciosos aliados no empenho pela defesa da dignidade do homem, na construção de uma convivência pacífica entre povos e no cuidado especial com a criação.

Queridos amigos, obrigado ainda pela vossa presença. A todos ofereço a minha cordial e fraterna saudação.

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