Papa enviou uma carta aos bispos dos EUA no cenário de deportações em massa de imigrantes ilegais e refugiados reiterando a dignidade de cada ser humano
Da Redação, com Boletim da Santa Sé
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Migrante carrega seus pertences enquanto caminha com outros migrantes pela ponte da fronteira internacional Paso del Norte após ser deportado dos EUA / Foto: REUTERS/Jose Luis Gonzalez
O Papa Francisco enviou uma carta aos bispos dos Estados Unidos enfatizando a questão da dignidade humana no cenário de migrações. O contexto da carta é a crise em curso no país norte-americano devido ao início de um programa de deportação em massa, um cenário que tem sido acompanhado pelo Pontífice.
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Francisco menciona que “a consciência retamente formada” não pode deixar de emitir um juízo crítico e expressar discordância com qualquer medida que identifique a situação ilegal de alguns migrantes com a criminalidade. Também diz que deve ser reconhecido o direito de uma nação de se defender e manter suas comunidades seguras daqueles que cometeram crimes violentos ou graves enquanto estavam no país ou antes de chegar.
“Dito isto, o ato de deportar pessoas que, em muitos casos, abandonaram suas terras por motivos de extrema pobreza, insegurança, exploração, perseguição ou grave deterioração ambiental, fere a dignidade de muitos homens e mulheres, de famílias inteiras, e os coloca em um estado de especial vulnerabilidade e indefesa.”, considera.
A dignidade de cada pessoa
O Papa também frisa na carta que um autêntico Estado de direito se verifica no trato digno que merecem todas as pessoas, em especial os mais pobres e marginalizados. Ele volta a lembrar o papel da sociedade e do governo de acolher, proteger, promover e integrar os mais frágeis como forma de promover o verdadeiro bem comum.
“Isso não impede o desenvolvimento de uma política que regule a migração ordenada e legal. Contudo, a referida “maturação” não pode ser construída através do privilégio de alguns e do sacrifício de outros. O que é construído com base na força, e não com base na verdade sobre a igual dignidade de todo ser humano, começa mal e terminará mal.”
Francisco lembra ainda que a pessoa humana não é um mero indivíduo, com alguns sentimentos filantrópicos. Ela é um sujeito com dignidade que, através da relação constitutiva com todos, especialmente com os mais pobres, pode amadurecer gradualmente na sua identidade e vocação.
“Preocupar-se com a identidade pessoal, comunitária ou nacional à margem destas considerações facilmente introduz um critério ideológico que distorce a vida social e impõe a vontade do mais forte como critério de verdade”, afirma.
O apoio pastoral aos bispos
Já concluindo sua carta, o Papa reconhece o esforço dos bispos dos Estados Unidos no trabalho próximo aos migrantes e refugiados. “Deus premiará abundantemente tudo o que façam em favor da proteção e defesa de quem é considerado menos valioso, menos importante ou menos humano”.
Francisco exorta os fiéis da Igreja católica e todos os homens e mulheres de boa vontade a não cederem a narrativas que discriminam e causam sofrimento aos migrantes e refugiados. Ele recorda o chamado à vida solidária e fraterna, a construir pontes e a evitar muros.
“Peçamos à Santíssima Virgem Maria de Guadalupe que proteja as pessoas e as famílias que vivem com medo ou com dor devido à migração e/ou a deportação (…) e nos conceda nos reencontrarmos como irmãos, no interior do seu abraço, e dar um passo adiante na construção de uma sociedade mais fraterna, inclusiva e respeitosa da dignidade de todos”, conclui.