Na homilia de hoje, Papa fala sobre o mal do clericalismo que faz sofrer o povo humilde
Da redação, com Rádio Vaticano
Na Missa desta terça-feira, 13, o Papa Francisco falou sobre o espírito do clericalismo como um mal presente hoje na Igreja, que faz sofrer o povo, por sentir-se descartado. Concelebraram com o Santo Padre, na Capela da Casa Santa Marta, os membros do Conselho dos Cardeais (C9).
Francisco afirmou que o povo humilde e pobre que tem fé no Senhor é a vítima dos intelectuais da religião. “Os seduzidos pelo clericalismo, que no Reino dos céus serão precedidos pelos pecadores arrependidos”, enfatizou.
O Pontífice citou o Evangelho do dia (cf. Mt 21,28-32), em que Jesus se dirige aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, para falar justamente sobre o seu papel.
“Tinham a autoridade jurídica, moral e religiosa, decidiam tudo. Anás e Caifás, por exemplo, explicou Francisco, ‘julgaram Jesus’, eram os sacerdotes e os chefes que ‘decidiram matar Lázaro’ ou ainda, ‘negociaram com Judas’, que vendeu Jesus. Francisco questionou: mas como chegaram a este ‘estado de prepotência e tirania’, instrumentalizando a lei? Uma lei que eles refizeram inúmeras vezes: tantas vezes até chegar a 500 mandamentos”, refletiu.
Entretanto, o Papa destacou que era uma lei sem memória, pois tinham esquecido o primeiro mandamento, que Deus deu a Abraão: “Caminha em minha presença e seja irrepreensível”.
“Eles não caminhavam: sempre estiveram parados nas próprias convicções. E não eram irrepreensíveis! (…) Com a lei feita somente por eles, ‘intelectual, sofisticada, casuística’, cancelam a lei do Senhor. E a vítima, assim como foi Jesus, todos os dias é o povo humilde e pobre que confia no Senhor, aqueles que são descartados”, afirmou Francisco.
O Santo Padre explicou que o povo humilde conhece o arrependimento também se não cumpre a lei, mas sofre estas injustiças. “Sentem-se condenados, abusados, por quem é presunçoso, orgulhoso, soberbo”, sublinhou.
Segundo Francisco, um descarte destas pessoas foi Judas, um traidor que “pecou fortemente”, mas diz o Evangelho que, arrependido, foi a eles dar de volta as moedas.
“E eles o que fizeram? Mas você foi nosso ‘sócio’. Fica tranquilo… Nós temos o poder de perdoar tudo!’. Não! ‘Te vira. É um problema teu’. E o deixaram sozinho: descartado! O pobre Judas traidor e arrependido não foi acolhido pelos ‘pastores’. Porque eles haviam esquecido o que é ser um pastor. Eram os intelectuais da religião, aqueles que tinham o poder, que levavam adiante as catequeses do povo com uma moral feita pela sua inteligência e não a partir da revelação de Deus”.
Também hoje acontecem estas coisas na Igreja, afirma o Papa. Segundo ele, os clérigos se sentem superiores, se afastam das pessoas e não têm tempo para escutar os pobres, os que sofrem, os presos, os doentes:
“O mal do clericalismo é uma coisa muito feia! É uma nova edição desta gente. E a vítima é a mesma: o povo pobre e humilde, que tem esperança no Senhor. O Pai sempre procurou se aproximar de nós: convidou seu Filho. Estamos esperando, uma espera alegre e exultante. Mas o Filho não entrou no jogo desta gente: o Filho foi com os doentes, os pobres, os descartados, os publicanos, os pecadores – é escandaloso isso… – as prostitutas. Também hoje Jesus diz a todos nós e também a quem está seduzido pelo clericalismo: ‘Os pecadores e as prostitutas entrarão primeiro no Reino dos Céus'”.