Em fevereiro passado, Papa iniciou ciclo de catequeses sobre a velhice, reflexões que dão uma pausa em julho e retornam em agosto
Da Redação, com Vatican News
Papa Francisco tem feito, desde 23 de fevereiro passado, um ciclo de catequeses dedicado à velhice. Neste mês de julho, como de costume, os encontros semanais com os fiéis às quartas-feiras estão suspensos. As audiências retornarão no dia 3 de agosto.
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Nas reflexões realizadas neste ciclo de catequeses, Francisco enfatiza o dom que os idosos são para as gerações seguintes e adverte que uma sociedade onde não existe o diálogo entre jovens e idosos é estéril. Francisco condenou a cultura do descarte e da produtividade, onde somente a juventude é exaltada e os anciãos são desprezados.
E foi nesta linha que o Santo Padre percorreu, até o momento, o itinerário de reflexões sobre o significado e o valor da velhice. Apoiando-se no exemplo de figuras bíblicas, como Moisés, Eleazar e Judite, ele trouxe um perfil do idoso diferente do que é proposto pela cultura dominante, que não é só uma pessoa frágil, que passa por duras provações com a doença, mas de um testemunho insubstituível, capaz de transmitir sabedoria, valores e fé às novas gerações.
“Eterna juventude” e ritmo da velhice
A preocupação do Papa com este tema é de tal forma que ele afirma estar entre as questões mais urgentes que a família humana é chamada a enfrentar neste momento, juntamente com o tema da migração. Ele adverte que a “eterna juventude” é uma alucinação muito perigosa” e traz um paradigma diferente do que estamos habituados a escutar: “ser velho é tão importante e bonito quanto ser jovem”.
Tema de outra catequese foram os ritmos da velhice. “A velhice, certamente, exige ritmos mais lentos: mas não são apenas tempos de inércia. A medida desses ritmos – explica Francisco – abre, de fato, para todos, espaços de sentido da vida desconhecidos pela obsessão da velocidade”. Neste contexto, ele enfatiza a riqueza que existe no intercâmbio de gerações. Uma sociedade onde idosos e jovens não se comunicam é “estéril” e “sem futuro”, adverte. “Perder tempo” com os filhos, avós e idosos “fortalece a família humana”.
Um dos exemplos citados desta convecção das idades foi a história da jovem viúva Rute e sua sogra Noemi. “Trata-se de um precioso ensinamento sobre a aliança entre gerações, capaz de restituir o entusiasmo à idade madura e de reabrir o futuro para a juventude ferida”.
Fé e coerência
Francisco abordou também em uma de suas catequeses a importância de que os anciãos vivam sua fé com coerência até o fim. O exemplo foi de Eleazar – judeu de 90 anos, tentado a fingir que comia carne sacrificada aos ídolos. Ele preferiu “não desonrar a fé na velhice, para ganhar um punhado de dias”, o que para ele não poderia ser “comparado à herança que deveria deixar aos jovens a inteiras gerações vindouras”. E convidou os idosos: “Por favor, olhemos para os jovens. Eles olham para nós e a nossa coerência pode abrir-lhes um caminho de vida belíssimo. Ao contrário, uma eventual hipocrisia fará muito mal.”
O Santo Padre lembrou também a voz profética dos anciãos, que deve ir contra a corrupção, como fez Noé. Ele foi o profeta contra a corrupção do seu tempo, porque era o único em quem Deus confiava”. O mundo precisa de “jovens fortes” e “velhos sábios”.
Memória e testemunho
Idosos são também aqueles que guardam a memória e testemunham. Moisés foi um exemplo disso. No final dos seus dias, proclamou o nome do Senhor, transmitindo às novas gerações a herança da sua história vivida com Deus. “Moisés vê a história e transmite história”. “Uma velhice a que se concede esta lucidez é um dom precioso para a geração que se seguirá”.
Ao tocar no tema da doença- “duro golpe que atinge um momento já difícil” – chamou a comunidade à responsabilidade para com estas pessoas, citando a cura da sogra de Pedro. Jesus, recorda o Papa, não visita sozinho aquela idosa doente. Mas ele vai para lá junto com os discípulos: “é precisamente a comunidade cristã que deve cuidar dos idosos: parentes e amigos, mas a comunidade”.
Francisco também apontou para a necessidade de reformar uma civilização e uma política que marginalize a velhice e a doença. “Toda a sociedade deve se apressar para cuidar dos mais velhos – eles são o tesouro! -, cada vez mais numerosos, e muitas vezes ainda mais abandonados”.
Vitalidade espiritual
Os idosos também são chamados pelo Papa a uma vitalidade espiritual. A exemplo de outros personagens bíblicos como Judite e Jó, destaca a generosidade de uma velhice dedicada a defender a própria família e que prova sua fé, mesmo diante das perdas e desafios.
E por fim, Francisco recordou que os idosos caminham para o Eterno e se preparam para o “nascimento do alto”. Os anciãos, afirmou, têm a missão de dissipar “a ilusão tecnocrática da sobrevivência biológica e robótica” e abrir “à ternura do ventre criador e gerador de Deus”. E nesta caminhada é preciso seguir Jesus sempre, seja “a pé, correndo, devagar, em cadeira de rodas, mas sempre seguindo-O”.
“A vida do idoso é uma despedida, lenta, lenta, mas uma despedida alegre”. E é lindo, acrescenta Francisco finalmente, quando um idoso pode dizer isto: “Vivi a vida, esta é a minha família; Eu vivi minha vida, fui um pecador, mas também fiz o bem”. É esta paz que vem. Esta é a licença dos idosos.