Seguindo o ciclo de reflexões sobre a paixão pela evangelização, Francisco apresentou o testemunho de São Daniel Comboni, que atuou especialmente na África
Da Redação, com Vatican News
O “destino” da Audiência Geral desta quarta-feira, 20, foi a África. Após falar sobre testemunhos na América do Norte e na América do Sul, o Papa Francisco apresentou aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro a história do missionário São Daniel Comboni, prosseguindo com o ciclo de reflexões sobre a paixão pela evangelização.
O Pontífice iniciou sua fala abordando a questão da escravatura, em cujo contexto atuou São Daniel Comboni. “A escravatura ‘coisifica’ o homem, cujo valor se reduz a ser útil a alguém ou a algo. Mas Jesus, Deus que se fez homem, elevou a dignidade de cada ser humano, desmascarando a falsidade de qualquer escravatura”, afirmou o Santo Padre.
Francisco afirmou que o missionário entendeu, à luz de Cristo, que a escravatura social tem origem mais profunda – a do pecado, da qual Jesus libertou a humanidade. Dessa forma, os cristãos são chamados a combater todo tipo de escravatura.
Contudo, assinalou o Papa, infelizmente a escravatura não é uma coisa do passado. Ele apontou que, atualmente, o continente africano é dilacerado por diversos conflitos, derivado de um “colonialismo econômico” que sucedeu o político do século anterior. Assim, o Pontífice recordou o apelo que fez em Kinshasa, em 31 de janeiro deste ano: “deixai de sufocar a África: ela não é uma mina a explorar, nem um solo a saquear”.
Testemunho de São Daniel Comboni
Voltando-se para São Daniel Comboni, o Santo Padre contou como o missionário precisou deixar o continente após ficar doente. Contudo, ele não abandonou a África: após um período de discernimento, Deus inspirou um novo caminho de evangelização, expresso na máxima “salvar a África com a África”.
“Trata-se de uma intuição poderosa, não há colonialismo algum nisto: é uma intuição poderosa que contribuiu para renovar o compromisso missionário: as pessoas evangelizadas não eram apenas “objetos”, mas “sujeitos” da missão. E São Daniel Comboni desejava tornar todos os cristãos protagonistas da ação evangelizadora”, declarou Francisco.
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São Daniel Comboni promoveu especialmente o serviço laical dos catequistas, definidos pelo Papa como um “tesouro da Igreja”, “aqueles que vão em frente na evangelização”. Desta forma, ele favoreceu também o desenvolvimento humano, impulsionando o papel da família e da mulher na transformação da cultura e da sociedade.
“E como é importante, ainda hoje, fazer progredir a fé e o desenvolvimento humano a partir do interior dos contextos de missão, em vez de neles transplantar modelos externos, ou limitar-se a um assistencialismo estéril! Nem modelos externos, nem assistencialismo. (…) Evangelizar a cultura e inculturar o Evangelho: caminham juntos”, indicou o Pontífice.
Alegria do Evangelho
Ele também apontou que esta grande paixão missionária de São Daniel Comboni não foi apenas fruto do esforço humano, pois o zelo apostólico do missionário “nascia da alegria do Evangelho, alimentava-se do amor de Cristo e levava ao amor a Cristo”.
O Santo Padre destacou que, em seus escritos, o santo registrou que “é preciso fazê-los (os outros missionários) arder de caridade, com a sua fonte em Deus e no amor de Cristo; e quando se ama verdadeiramente a Cristo, então as privações, os padecimentos e o martírio são docilidades”. Assim, Francisco frisou que “a fonte da capacidade missionária é a caridade, em particular o zelo de fazer seus os sofrimentos dos outros”.
Concluindo seu discurso, o Papa descreveu o zelo apostólico de São Daniel Comboni como “enérgico e profético, opondo-se à indiferença e à exclusão”, e convidou todos a pensar nos “crucificados da história de hoje”. “Não vos esqueçais dos pobres, pois são eles que vos abrirão a porta do Céu”, encerrou.