CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 8 de junho de 2016
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Antes de começar a catequese, gostaria de saudar um grupo de casais que celebram 50 anos de casamento. Isso sim é “o vinho bom” da família! O testemunho de vocês é algo que os recém-casados – que saudarei depois – e os jovens devem aprender. É um belo testemunho. Obrigado pelo testemunho de vocês. Depois de ter comentado algumas parábolas da misericórdia, hoje nos concentramos sobre o primeiro dos milagres de Jesus, que o evangelista João chama de “sinais”, porque Jesus não os fez para suscitar maravilhas, mas para revelar o amor do Pai. O primeiro destes sinais prodigiosos é relatado justamente por João (2, 1-11) e se realiza em Caná da Galileia. Trata-se de uma espécie de “portal de ingresso”, em que são esculpidas palavras e expressões que iluminam todo o mistério de Cristo e abrem o coração dos discípulos. Vejamos algumas.
Na introdução encontramos a expressão “Jesus com os seus discípulos” (v. 2). Aqueles que Jesus chamou para segui-Lo ligou-os a si em uma comunidade e, agora, como uma única família, são convidados todos para as bodas. Dando início ao seu ministério público nas bodas de Caná, Jesus se manifesta como o esposo do povo de Deus, anunciado pelos profetas, e nos revela a profundidade da relação que nos une a Ele: é uma nova Aliança de amor. O que há no fundamento da nossa fé? Um ato de misericórdia com o qual Jesus nos ligou a si. E a vida cristã é a resposta a esse amor, é como a história de dois apaixonados. Deus e o homem se encontram, se buscam, se encontram, se celebram e se amam: justamente como o amado e a amada no Cântico dos Cânticos. Todo o resto é consequência dessa relação. A Igreja é a família de Jesus em que se derrama o seu amor; é este amor que a Igreja protege e quer dar a todos.
No contexto da Aliança, compreende-se também a observação de Nossa Senhora: “Não tem vinho” (v. 3). Como é possível celebrar as núpcias e fazer festa se falta aquilo que os profetas indicavam como um elemento típico do banquete messiânico (cfr Am 9, 13-14; Gl 2, 24; Is 25, 6)? A água é necessária para viver, mas o vinho exprime a abundância do banquete e a alegria da festa. É uma festa de bodas na qual falta o vinho; os recém-casados se envergonham disso. Imaginem vocês terminar uma festa de casamento bebendo chá, seria uma vergonha. O vinho é necessário para a festa. Transformando em vinho a água das ânforas utilizadas “para a purificação ritual dos judeus” (v. 6), Jesus realiza um sinal eloquente: transforma a Lei de Moisés no Evangelho, portador de alegria. Como diz João: “A Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (1, 17).
As palavras que Maria dirige aos empregados veem coroar o quadro esponsal de Caná: “Façam o que Ele vos disser” (v. 5). É curioso: são as últimas suas palavras reportadas nos Evangelhos: são a sua herança que entrega a todos nós. Também hoje Nossa Senhora diz a todos nós: “Façam o que Ele vos disser”. É a herança que nos deixou: é belo! Trata-se de uma expressão que retoma a fórmula de fé utilizada pelo povo de Israel no Sinai em resposta às promessas da aliança: “Quanto o Senhor disse, nós o faremos!” (Es 19, 8). E de fato em Caná os empregados obedecem. “Jesus disse a eles: encham de água as ânforas. E os encham até a borda. Disse a eles de novo: agora peguem e levem àquele que dirige o banquete. E eles levaram” (vv. 7-8). Nestas bodas, de fato é estipulada uma Nova Aliança e aos servos do Senhor, isso é, a toda a Igreja, é confiada uma nova missão: “Qualquer coisa que vos diga, faça!”. Servir o Senhor significa ouvir e colocar em prática a sua Palavra. É a recomendação simples, mas essencial da Mãe de Jesus e é o programa de vida do cristão. Para cada um de nós, encher a ânfora equivale a confiar-se à Palavra de Deus para experimentar a sua eficácia na vida. Então, junto ao chefe do banquete que provou a água transformada em vinho, também nós podemos exclamar: “Tu guardastes a parte boa do vinho até agora” (v. 10). Sim, o Senhor continua a reservar aquele vinho bom para a nossa salvação, assim como continua a jorrar do lado transpassado do Senhor.
A conclusão do relato soa como uma sentença: “Isso, em Caná da Galileia, foi o início dos sinais realizados por Jesus; Ele manifestou a sua glória e os seus discípulos acreditaram Nele” (v. 11). As bodas de Caná são muito mais que o simples relato do primeiro milagre de Jesus. Como uma arca do tesouro, Ele protege o segredo da sua pessoa e o da sua vinda: o esperado Esposo dá início às bodas que se cumprem no Mistério pascal. Nestas bodas Jesus liga a si os seus discípulos com uma Aliança nova e definitiva. Em Caná os discípulos se tornam a sua família e em Caná nasce a fé da Igreja. Àquela boda todos nós somos convidados, porque o vinho não vem mais a faltar!