CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 10 de junho de 2014
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Continuamos com as catequeses sobre família, e nesta catequese gostaria de tocar em um aspecto muito comum na vida das nossas famílias, aquele da doença. É uma experiência da nossa fragilidade que vivemos principalmente na família, desde criança, e depois sobretudo como idosos, quando chegam os problemas físicos. No âmbito das relações familiares, a doença das pessoas a quem queremos bem é vivida com um sofrimento ainda maior e também com angústia. É o amor que nos faz sentir esse “mais”. Tantas vezes, para um pai e uma mãe, é mais difícil suportar o mal de um filho, de uma filha, do que o próprio. A família, podemos dizer, sempre foi o “hospital” mais próximo. Ainda hoje, em tantas partes do mundo, o hospital é um privilégio para poucos e muitas vezes é distante. São a mãe, o pai, os irmãos, as irmãs, os avós que garantem os cuidados e ajudam a curar.
Nos Evangelhos, muitas páginas contam os encontros de Jesus com os doentes e o seu empenho em curá-los. Ele se apresenta publicamente como quem luta contra a doença e que veio para curar o homem de todo mal: o mal do espírito e o mal do corpo. É realmente comovente a cena evangélica há pouco retratada pelo evangelho de Marcos. Diz assim: “À tarde, depois do pôr do sol, levaram-lhe todos os enfermos e possessos do demônio” (1, 29). Se penso nas grandes cidades contemporâneas, pergunto-me onde estão as portas diante das quais levar os doentes esperando que sejam curados! Jesus nunca deixou de curá-los. Nunca foi além, nunca virou o rosto para o outro lado. E quando um pai ou uma mãe, ou até mesmo simplesmente pessoas amigas lhe levavam um doente para que o tocasse e o curasse, não dava um tempo; a cura vinha antes da lei, também era tão sagrada como era o repouso do sábado (cfr Mc 3, 1-6). Os doutores da lei repreendiam Jesus porque curava aos sábados, fazia o bem aos sábados. Mas o amor de Jesus era dar a saúde, fazer o bem: e isso vai sempre em primeiro lugar!
Jesus envia os discípulos a cumprir a sua mesma obra e dá a eles o poder de curar, ou seja, de se aproximar dos doentes e de cuidar deles até o fim (cfr Mt 10, 1). Devemos ter bem em mente o que disse aos discípulos no episódio do cego de nascença (Jo 9, 1-5). Os discípulos – com o cego ali diante – discutiam sobre quem tivesse pecado, porque era cego de nascença, ele ou os seus pais, para provocar a sua cegueira. O Senhor disse claramente: nem ele nem seus pais; é assim para que se manifestem nele as obras de Deus. E o curou. Eis a glória de Deus! Eis a tarefa da Igreja! Ajudar os doentes, não se perder em fofocas, ajudar sempre, consolar, levantar, estar próximo aos doentes; essa é a tarefa.
A Igreja convida à oração contínua pelos próprios queridos atingidos pelo mal. A oração pelos doentes nunca deve faltar. Antes, devemos rezar mais, seja pessoalmente seja em comunidade. Pensemos no episódio evangélico da mulher de Cananeia (cfr Mt 15, 21-28). É uma mulher pagã, não era do povo de Israel, mas uma pagã que suplica a Jesus para curar a filha. Jesus, para colocar à prova a sua fé, primeiro responde duramente: “Não posso, preciso pensar antes nas ovelhas de Israel”. A mulher não para – uma mãe, quando pede ajuda para o seu filho, não cede nunca; todos sabemos que as mães lutam pelos filhos – e responde: “Também aos cães, quando os patrões estão com fome, se dá algo!”, como quem diz: “Ao menos me trate como um cãozinho”. Então Jesus diz: “Mulher, grande é a sua fé! Seja feito para você como desejas” (v. 28).
Diante da doença, também em família surgem dificuldades, por causa da fraqueza humana. Mas, em geral, o tempo da doença faz crescer a força dos laços familiares. E penso em como é importante educar os filhos desde pequenos à solidariedade no tempo da doença. Uma educação que poupa da sensibilidade pela doença humana endurece o coração. E faz com que as crianças sejam “anestesiadas” em relação ao sofrimento do outro, incapazes de confrontar-se com o sofrimento e de viver a experiência do limite. Quantas vezes nós vemos chegar no trabalho um homem, uma mulher, com uma cara de cansado, com uma atitude cansada e quando lhe perguntam “O que aconteceu?”, responde: “Dormi somente duas horas porque em casa fazemos revezamos para estarmos próximos do filho, da filha, do doente, do avó, da avô”. E o dia continua com o trabalho. Estas coisas não heroicas, são o heroísmo das famílias! Aquele heroísmo escondido que se faz com ternura e com coragem quando em casa há alguém doente.
A fragilidade e o sofrimento dos nossos afetos mais queridos e mais sagrados podem ser, para os nossos filhos e os nossos netos uma escola de vida – é importante educar os filhos, os netos para entender esta proximidade na doença na família – e se tornam assim quando os momentos da doença são acompanhados pela oração e pela proximidade afetuosa dos familiares. A comunidade cristã sabe bem que a família, na provação da doença, não deve ser deixada sozinha. E devemos dizer obrigado ao Senhor por aquelas belas experiências de fraternidade eclesial que ajudam as famílias a atravessar o difícil momento de dor e de sofrimento. Esta proximidade cristã, de família a família, é um verdadeiro tesouro para a paróquia; um tesouro de sabedoria, que ajuda as famílias nos momentos difíceis e faz entender o Reino de Deus melhor que muitos discursos! São carícias de Deus.