CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Nas últimas catequeses, procuramos lançar luz sobre a natureza e a beleza da Igreja e nos perguntamos o que significa para cada um de nós fazer parte deste povo, povo de Deus que é a Igreja. Não devemos, porém, esquecer que há tantos irmãos que partilham conosco a fé em Cristo, mas pertencem a outras confissões ou a tradições diferentes da nossa. Muitos se resignaram a esta divisão – mesmo dentro da nossa Igreja católica se resignaram – que no curso da história muitas vezes foi causa de conflitos e de sofrimentos, também de guerras e isto é uma vergonha! Também hoje as relações não são sempre baseadas no respeito e na cordialidade… Mas, eu me pergunto: como nos colocamos diante de tudo isso? Somos também nós resignados, se não indiferentes a esta divisão? Ou acreditamos firmemente que se possa e se deva caminhar na direção da reconciliação e da plena comunhão? A plena comunhão, isso é, poder participar todos juntos do corpo e sangue de Cristo.
As divisões entre os cristãos, enquanto ferem a Igreja, ferem Cristo, e nós divididos provocamos uma ferida em Cristo: a Igreja, de fato, é o corpo do qual Cristo é a cabeça. Sabemos bem quanto esteve no coração de Jesus que os seus discípulos permanecessem unidos no seu amor. Basta pensar em suas palavras reportadas no capítulo 17 do Evangelho de João, a oração dirigida ao Pai na iminência da paixão: “Pai santo, guarda-os em teu nome, que me encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam um como nós” (Jo 17, 11). Esta unidade já estava ameaçada enquanto Jesus ainda estava entre os seus: no Evangelho, de fato, recorda-se que os apóstolos discutiam entre eles sobre quem era o maior, o mais importante (cfr Lc 9, 46). O Senhor, porém, insistiu tanto sobre a unidade no nome do Pai, fazendo-nos entender que o nosso anúncio e o nosso testemunho serão tanto mais credíveis quanto mais por primeiro formos capazes de viver em comunhão e de nos querermos bem. É o que os seus apóstolos, com a graça do Espírito Santo, depois entenderam profundamente e levaram no coração, tanto que São Paulo chegará a implorar à comunidade de Corinto com estas palavras: “Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que não haja entre vós divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo espírito e no mesmo sentimento” (1 Cor 1, 10).
Durante o seu caminho na história, a Igreja foi tentada pelo maligno, que procura dividi-la e, infelizmente, foi marcada por separações graves e dolorosas. São divisões que às vezes duraram muito tempo, até hoje, por isso agora resulta difícil reconstruir todas as motivações e, sobretudo, encontrar possíveis soluções. As razões que levaram às fraturas e às separações podem ser as mais diversas: divergências sobre princípios dogmáticos e morais e sobre concepções teológicas e pastorais diferentes, motivos políticos e de conveniência, até discussões devido a antipatias e ambições pessoais… O que é certo é que, de um modo ou de outro, por trás destas lacerações estão sempre a soberba e o egoísmo, que são a causa de todo desacordo e que nos tornam intolerantes, incapazes de escutar e de aceitar que há uma visão ou uma posição diferente da nossa.
Ora, diante de tudo isso, há alguma coisa que cada um de nós, como membros da santa mãe Igreja, podemos e devemos fazer? Certamente não deve faltar a oração, em continuidade e em comunhão com aquela de Jesus, a oração pela unidade dos cristãos. E junto com a oração, o Senhor nos pede uma renovada abertura: pede-nos para não nos fecharmos ao diálogo e ao encontro, mas colher tudo aquilo de válido e de positivo que nos é oferecido também por quem pensa diferente de nós ou se coloca em posições diferentes. Pede-nos para não fixar o olhar sobre aquilo que nos divide, mas sim sobre aquilo que nos une, procurando melhor conhecer e amar Jesus e partilhar a riqueza do seu amor. E isto comporta concretamente a adesão à verdade, junto com a capacidade de perdoar-se, de sentir-se parte da mesma família cristã, de considerar-se um dom para o outro e fazer juntos tantas coisas boas e obras de caridade.
É uma dor, mas há divisões, há cristãos divididos, estamos divididos entre nós. Mas todos temos algo em comum: todos acreditamos em Jesus Cristo, o Senhor. Todos acreditamos no Pai, no Filho e no Espírito Santo e todos caminhamos juntos, estamos em caminho. Ajudemo-nos uns aos outros! Mas você pensa assim, você pensa assim… Em todas as comunidades há grandes teólogos: que eles discutam, que eles procurem a verdade teológica porque é um dever, mas nós caminhamos juntos, rezando uns pelos outros e fazendo obras de caridade. E assim fazemos a comunhão em caminho. Isto se chama ecumenismo espiritual: caminhar o caminho da vida todos juntos na nossa fé, em Jesus Cristo o Senhor. Diz-se que não se deve falar de coisas pessoais, mas não resisto à tentação. Estamos falando de comunhão… comunhão entre nós. E hoje, eu sou tão grato ao Senhor porque hoje faz 70 anos que eu fiz a Primeira Comunhão. Mas fazer a Primeira Comunhão todos nós sabemos que significa entrar em comunhão com os outros, em comunhão com os irmãos da nossa Igreja, mas também em comunhão com todos aqueles que pertencem a comunidades diferentes mas acreditam em Jesus. Agradeçamos ao Senhor pelo nosso Batismo, agradeçamos ao Senhor pela nossa comunhão e porque esta comunhão acaba por ser de todos, juntos.
Queridos amigos, seguimos adiante, então, rumo à plena unidade! A história nos separou, mas estamos em caminho rumo à reconciliação e à comunhão! E isto é verdadeiro! Devemos defender isso! Todos estamos em caminho rumo à comunhão. E quando a meta pode nos parecer distante, quase inatingível, e nos sentimos presos pelo desconforto, consola-nos a ideia de que Deus não pode fechar os ouvidos à voz do próprio Filho Jesus e não cumprir a sua e a nossa oração, a fim de que todos os cristãos sejam realmente uma só coisa.