CATEQUESE
Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 3 de janeiro de 2018
Boletim da Santa Sé
Tradução livre: Jéssica Marçal (Canção Nova)
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Retomando as catequeses sobre a celebração eucarística, consideramos hoje, no contexto dos ritos introdutórios, o ato penitencial. Na sua sobriedade, esse favorece a atitude com que dispor-se a celebrar dignamente os santos mistérios, isto é, reconhecendo diante de Deus e dos irmãos os nossos pecados, reconhecendo que somos pecadores. O convite do sacerdote, de fato, é dirigido a toda a comunidade em oração, porque todos somos pecadores. O que pode dar o Senhor a quem já tem o coração cheio de si, do próprio sucesso? Nada, porque o presunçoso é incapaz de receber perdão, satisfeito como é da sua presumida justiça. Pensemos na parábola do fariseu e do publicano, onde somente o segundo – o publicano – volta para casa justificado, isso é, perdoado (cfr Lc 18, 9-14). Quem é consciente das próprias misérias e abaixa os olhos com humildade, sente sobre si o olhar misericordioso de Deus. Sabemos por experiência que somente quem sabe reconhecer os erros e pedir desculpa recebe a compreensão e o perdão dos outros
Ouvir em silêncio a voz da consciência permite reconhecer que os nossos pensamentos são distantes dos pensamentos divinos, que as nossas palavras e as nossas ações são muitas vezes mundanas, guiadas, isso é, por escolhas contrárias ao Evangelho. Por isso, no início da Missa, fazemos comunitariamente o ato penitencial mediante uma fórmula de confissão geral, pronunciada na primeira pessoa do singular. Cada um confessa a Deus e aos irmãos “ter pecado em pensamentos, palavras, atos e omissões”. Sim, também por omissões, ou seja, ter deixado de fazer o bem que poderia ter feito. Muitas vezes nos sentimos bravos porque – dizemos – “não fiz mal a ninguém”. Na realidade, não basta não fazer o mal ao próximo, é preciso escolher fazer o bem aproveitando as ocasiões para dar bom testemunho de que somos discípulos de Jesus. É bom ressaltar que confessamos tanto a Deus quanto aos irmãos ser pecadores: isso nos ajuda a compreender a dimensão do pecado que, enquanto nos separa de Deus, nos divide também dos nossos irmãos e vice-versa. O pecado rompe: rompe a relação com Deus e rompe a relação com os irmãos, a relação na família, na sociedade, na comunidade: o pecado rompe sempre, separa, divide.
As palavras que dizemos com a boca são acompanhadas do gesto de bater no peito, reconhecendo que pequei por minha culpa, e não dos outros. Acontece muitas vezes que, por medo ou vergonha, apontamos o dedo para acusar outros. Custa admitir ser culpados, mas nos faz bem confessá-lo com sinceridade. Confessar os próprios pecados. Eu recordo uma história, que contava um velho missionário, de uma mulher que foi se confessar e começou a dizer os erros do marido; depois passou a contar os erros da sogra e depois os pecados dos vizinhos. A um certo ponto, o confessor lhe disse: “Mas, senhora, me diga: terminou?” – Muito bem: a senhora terminou com os pecados dos outros. Agora comece a dizer os seus”. Dizer os próprios pecados!
Depois da confissão do pecado, suplicamos à Virgem Maria, aos anjos e santos que rezem ao Senhor por nós. Também nisso é preciosa a comunhão dos santos: isso é, a intercessão destes “amigos e modelos de vida” (Prefácio de 1º de novembro) nos apoia no caminho rumo à plena comunhão com Deus, quando o pecado será definitivamente aniquilado.
Além do “Confesso”, pode-se fazer o ato penitencial com outras fórmulas, por exemplo: “Piedade de nós, Senhor / Contra ti pecamos./ Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia./ E dai-nos a tua salvação” (cfr Sal 123, 3; 85, 8; Jer 14, 20). Especialmente aos domingos se pode realizar a benção e a aspersão da água em memória do Batismo (cfr OGMR, 51), que apaga todos os pecados. É também possível, como parte do ato penitencial, cantar o Kyrie eléison: com antiga expressão grega, aclamamos o Senhor – Kyrios – e imploramos a sua misericórdia (ibid., 52).
A Sagrada Escritura nos oferece luminosos exemplos de figuras “penitentes” que, regressando a si mesmas depois de ter cometido o pecado, encontram a coragem de tirar a máscara e se abrir à graça que renova o coração. Pensemos no rei Davi e nas palavras a ele atribuídas no Salmo: “Piedade de mim, ó Deus, no teu amor; na tua grande misericórdia apaga a minha iniquidade” (51, 3). Pensemos no filho pródigo que retorna ao pai; ou na invocação do publicano: “Ó Deus, tenha piedade de mim, pecador” (Lc 18, 13). Pensemos também em São Pedro, em Zaqueu, na mulher samaritana. Comparar-se com a fragilidade do barro de que fomos formados é uma experiência que nos fortifica: enquanto nos coloca diante da nossa fraqueza, abre-nos o coração para invocar a misericórdia divina que transforma e converte. E isso é aquilo que fazemos no ato penitencial no início da Missa.