Na íntegra

Catequese do Papa: a paternidade de Deus, fonte da nossa esperança

CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 7 de junho de 2017

Boletim da Santa Sé
Tradução livre: Jéssica Marçal (Canção Nova)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Havia algo de fascinante na oração de Jesus, de tão fascinante que um dia os seus discípulos pediram que fossem introduzidos nela. O episódio se encontra no Evangelho de Lucas, que entre os evangelistas é aquele que mais documentou o mistério de Cristo “orante”: o Senhor rezava. Os discípulos de Jesus ficam atingidos pelo fato de que Ele, especialmente de manhã e à noite, se retira em solidão e se “imerge” em oração. E por isso, um dia, lhe pedem para ensinar também a eles a rezar (cfr Lc 11, 1).

É então que Jesus transmite aquela que se tornou a oração cristã por excelência: o “Pai Nosso”. De fato, Lucas, em relação a Mateus, nos restitui a oração de Jesus de uma forma um pouco abreviada, que começa com a simples invocação “Pai” (v. 2).

Todo o mistério da oração cristã se ressume aqui nesta palavra: ter a coragem de chamar Deus com o nome de Pai. Afirma-o também a liturgia quando, convidando-nos à oração comunitária da oração de Jesus, utiliza a expressão “ousamos dizer”.

De fato, chamar Deus com o nome de “Pai” de forma alguma é um fato normal. Estaríamos inclinados a usar os títulos mais elevados, que nos parecem mais respeitosos à sua transcendência. Em vez disso, invocá-lo como “Pai” nos coloca em uma relação de confidência com Ele, como uma criança que se dirige ao seu pai, sabendo ser amada e cuidada por ele. Esta é a grande revolução que o cristianismo imprime na psicologia religiosa do homem. O mistério de Deus, que sempre nos fascina e nos faz sentir pequenos, porém não causa medo, não nos sufoca, não nos angustia. Esta é uma revolução difícil de acolher na nossa alma humana; tanto é verdade que nos relatos da Ressurreição se diz que as mulheres, depois de terem visto o túmulo vazio e o anjo “fugiram […] porque estavam cheias de espanto e estupor” (Mc 16, 8). Mas Jesus nos revela que Deus é Pai bom, e nos diz: “Não tenhais medo!”.

Pensemos na parábola do pai misericordioso (cfr Lc 15, 11-32). Jesus fala de um pai que sabe ser somente amor para seus filhos. Um pai que não pune o filho pela sua arrogância e que é capaz até mesmo de confiar-lhe a sua parte na herança e deixá-lo ir embora de casa. Deus é Pai, diz Jesus, mas não à maneira humana, porque não há pai algum nesse mundo que se comportaria como o protagonista desta parábola. Deus é Pai à sua maneira: bom, indefeso diante do livre arbítrio do homem, capaz somente de conjugar o verbo “amar”. Quando o filho rebelde, depois de ter esbanjado tudo, retorna finalmente à casa natal, aquele pai não aplica critérios de justiça humana, mas sente antes de tudo a necessidade de perdoar, e com o seu abraço faz o filho entender que em todo aquele longo tempo de ausência lhe fez falta, dolorosamente fez falta ao seu amor de pai.

Que mistério insondável é um Deus que alimenta esse tipo de amor em relação aos seus filhos!

Talvez é por esta razão que, evocando o centro do mistério cristão, o apóstolo Paulo não sente de traduzir em grego uma palavra que Jesus, em aramaico, pronunciava “abbà”. Por duas vezes São Paulo, em seu epistolário (cfr Rm 8, 15; Gal 4, 6), toca este tema, e por duas vezes deixa aquela palavra não traduzida, da mesma forma como brotou dos lábios de Jesus, “abbà”, um termo ainda mais íntimo em relação a “pai”, e que alguns traduzem como “papai, papaizinho”.
Queridos irmãos e irmãs, nunca estamos sozinhos. Podemos estar distantes, hostis, podemos também nos professarmos “sem Deus”. Mas o Evangelho de Jesus Cristo nos revela que Deus que não pode estar sem nós: Ele nunca será um Deus “sem o homem”; é Ele que não pode estar sem nós, e isso é um grande mistério! Deus não pode ser Deus sem o homem: grande mistério é este! E esta certeza é a fonte da nossa esperança, que encontramos preservada em todas as invocações do Pai Nosso. Quando precisamos de ajuda, Jesus não nos diz para nos resignarmos e nos fecharmos em nós mesmos, mas para nos dirigirmos ao Pai e pedir a Ele com confiança. Todas as nossas necessidades, das mais evidentes e cotidianas, como o alimento, a saúde, o trabalho, até aquela de sermos perdoados e sustentados nas tentações, não são o espelho da nossa solidão: há, em vez disso, um Pai que sempre nos olha com amor e que seguramente não nos abandona.

Agora vos faço uma proposta: cada um de nós tem tantos problemas e tantas necessidades. Pensemos um pouco, em silêncio, nestes problemas e nestas necessidades. Pensemos também no Pai, que não pode ficar sem nós, e que neste momento está nos olhando. E todos juntos, com confiança e esperança, rezemos: “Pai nosso, que estás nos Céus…”.

Obrigado!

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