CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 25 de outubro de 2017
Boletim da Santa Sé
Tradução livre: Jéssica Marçal (Canção Nova)
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Esta é a última catequese sobre o tema da esperança cristã, que nos acompanhou desde o início deste ano litúrgico. E concluirei falando do paraíso, como meta da nossa esperança.
“Paraíso” é uma das últimas palavras pronunciadas por Jesus na cruz, dirigindo-se ao bom ladrão. Vamos nos deter um momento nesta cena. Na cruz, Jesus não está sozinho. Ao lado Dele, à direita e à esquerda, há dois malfeitores. Talvez, passando diante daquelas três cruzes içadas na Gólgota, alguém poderia dar um suspiro de alívio, pensando que finalmente tinha sido feita justiça condenando à morte gente assim.
Ao lado de Jesus há também um réu confesso: um que reconhece ter merecido aquele terrível suplício. Nós o chamamos de “bom ladrão”, que opondo-se ao outro, diz: nós recebemos o que merecemos pelas nossas ações (cfr Lc 23,41).
No Calvário, naquela sexta-feira trágica e santa, Jesus chega ao extremo da sua encarnação, da sua solidariedade conosco pecadores. Ali se realizada o que o profeta Isaías tinha dito do Servo sofredor: “E foi contado entre os malfeitores” (53, 12; cfr Lc 22,37)
É lá, no Calvário, que Jesus tem o último encontro com um pecador, para escancarar também a ele as portas de seu Reino. Isto é interessante: é a única vez que a palavra “paraíso” aparece nos Evangelhos. Jesus o promete a um “pobre diabo” que no lenho da cruz teve a coragem de dirigir a ele o mais humilde dos pedidos: “Lembra-te de mim quando entrares no teu reino (Lc 23,42)”. Não tinha obras de bem para fazer valer, não tinha nada, mas se confia a Jesus, que reconhece como inocente, bom, tão diferente dele (v. 41). Foi suficiente aquela palavra de humilde arrependimento, para tocar o coração de Jesus.
O bom ladrão nos recorda a nossa verdadeira condição diante de Deus: que nós somos seus filhos, que Ele tem compaixão por nós, que Ele está desarmado toda vez que lhe manifestamos a nostalgia do seu amor. Nos quartos de tantos hospitais ou nas celas das prisões este milagre se repete inúmeras vezes: não há pessoa, por quanto tenha vivido mal, a quem reste somente o desespero e seja proibida a graça. Diante de Deus nos apresentamos todos de mãos vazias, um pouco como o publicano da parábola que parou para rezar no fundo no templo (cfr Lc 18, 13). E toda vez que um homem, fazendo o último exame de consciência de sua vida, descobre que as faltas superam em muito as obras de bem, não deve se desencorajar, mas confiar-se à misericórdia de Deus. E isso nos dá esperança, isso nos abre o coração!
Deus é Pai, e até o fim espera o nosso retorno. E ao filho pródigo que voltou, que começa a confessar as suas culpas, o pai fecha a boca com um abraço (cfr Lc 15, 20). Este é Deus: assim nos ama!
O paraíso não é um lugar de fábula, e nem um jardim encantado. O paraíso é o abraço com Deus, Amor infinito, e nós entramos graças a Jesus, que morreu na cruz por nós. Onde está Jesus, está a misericórdia e felicidade; sem Ele há frio e trevas. Na hora da morte, o cristão repete a Jesus: “Recorda-te de mim”. E mesmo que não houvesse mais ninguém que se recordasse de nós, Jesus está ali, ao nosso lado. Quer nos levar ao lugar mais belo que existe. Quer nos levar lá com aquele pouco ou tanto de bem que houve na nossa vida, porque nada deve ser perdido daquilo que Ele já tinha resgatado. E na casa do Pai levará também tudo aquilo que em nós ainda precisa de resgate: as faltas e os erros de uma vida inteira. É esta a meta da nossa existência: que tudo se realize, e seja transformado em amor.
Se acreditamos nisso, a morte deixa de nos fazer medo, e podemos também esperar partir desse mundo de modo sereno, com tanta confiança. Quem conheceu Jesus, não teme mais nada. E poderemos repetir também nós as palavras do velho Simeão, também ele abençoado pelo encontro com Cristo, depois de uma vida inteira consumada na espera: “Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra, porque os meus olhos viram a vossa salvação” (Lc 2, 29-30).
E naquele instante, finalmente, não teremos mais necessidade de nada, não veremos mais de maneira confusa. Não choraremos mais inutilmente, porque tudo passou; também as profecias, também o conhecimento. Mas o amor não, aquele permanece. Porque “a caridade jamais acabará” (cfr 1 Cor 13, 8).