Na íntegra

Catequese do Papa - última do Ano da Misericórdia

brasão do Papa Francisco

CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Dedicamos a catequese de hoje a uma obra de misericórdia que todos conhecemos muito bem, mas que talvez não colocamos em prática como deveríamos: suportar pacientemente as fraquezas do próximo. Somos todos muito bravos em identificar uma presença que pode incomodar: acontece quando encontramos alguém pelo caminho, ou quando recebemos um telefonema… Logo pensamos: “Por quanto tempo terei que ouvir as lamentações, as fofocas, os pedidos ou as vaidades dessa pessoa?”. Acontece também, às vezes, que as pessoas que incomodam são aquelas mais próximas a nós: entre os parentes sempre há alguém; no local de trabalho não falta; nem mesmo no tempo livre estamos livres. O que devemos fazer com essas pessoas? Mas também nós tantas vezes somos assim com os outros. Por que entre as obras de misericórdia está inserida esta? Suportar pacientemente as fraquezas das pessoas?

Na Bíblia vemos que o próprio Deus deve usar misericórdia para suportar as lamentações do seu povo. Como exemplo no livro do Êxodo o povo resulta realmente insuportável: primeiro chora porque é escravo no Egito, e Deus o liberta; depois, no deserto, se lamenta porque não tem o que comer (cfr 16, 3) e Deus manda codornizes e maná (cfr 16, 13-16), mas apesar disso as lamentações não param. Moisés se fazia de mediador entre Deus e o povo e também ele algumas vezes foi um pouco visto como um incômodo para o Senhor. Mas Deus teve paciência e assim ensinou a Moisés e ao povo também esta dimensão essencial da fé.

Vem então espontânea uma primeira pergunta: fazemos um exame de consciência para ver se também nós, às vezes, podemos nos tornar incômodos para os outros? É fácil apontar o dedo para os defeitos e falhas dos outros, mas devemos aprender a nos colocarmos no lugar dos outros.

Olhemos sobretudo a Jesus: quanta paciência teve que ter nos três anos da sua vida pública! Uma vez, enquanto estava em caminho com os discípulos, foi parado pela mãe de Tiago e João, que lhe disse: “Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda” (Mt 20, 21). A mãe fazia justamente isso pelos seus filhos, mas era a mãe… Também naquela situação Jesus aproveita para dar um ensinamento fundamental: o seu reino não é de poder, não é um reino de glória como aqueles terrenos, mas de serviço e doação aos outros. Jesus ensina a ir sempre ao essencial e a olhar mais longe para assumir com responsabilidade a própria missão. Podemos ver aqui o chamado a outras duas obras de misericórdia espiritual: aquela de advertir os pecadores e ensinar os ignorantes. Pensemos no grande empenho que se pode fazer quando ajudamos as pessoas a crescer na fé e na vida. Penso, por exemplo, nos catequistas – entre os quais há tantas mães e religiosas – que dedicam tempo para ensinar às crianças os elementos basilares da fé. Quanto esforço, sobretudo quando as crianças prefeririam brincar em vez de escutar o catecismo!

Acompanhar na busca do essencial é belo e importante, porque nos faz partilhar a alegria de experimentar o sentido da vida. Muitas vezes nos deparamos com pessoas que se concentram sobre coisas superficiais, efêmeras ou banais; às vezes porque não encontraram alguém que as estimulasse a procurar outra coisa, a apreciar os verdadeiros tesouros. Ensinar a olhar ao essencial é uma ajuda determinante, especialmente em um tempo como o nosso que parece ter perdido a orientação e seguir satisfações de curto respiro. Ensinar a descobrir o que o Senhor quer de nós e como podemos lhe corresponder significa colocar no caminho para crescer na própria vocação, o caminho da verdadeira alegria. Assim as palavras de Jesus à mãe de Tiago e João, e depois a todo o grupo dos discípulos, indicam o caminho para evitar cair na inveja, na ambição, na adulação, tentações que estão sempre à espreita também entre nós cristãos. A exigência de aconselhar, advertir e ensinar não deve nos fazer sentir superiores aos outros, mas nos obriga antes de tudo a reentrar em nós mesmos para verificar se estamos coerentes com quanto pedimos aos outros. Não esqueçamos as palavras de Jesus: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão e não reparas na trave que está no teu olho?” (Lc 6, 41). O Espírito Santo nos ajude a sermos pacientes em suportar e humildes e simples em aconselhar.

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